Pássaros Quebrados - Livro III - Estrada de Estrelas

Capítulo XX (Final)

Capítulo XX - Estrada de Estrelas

Aruã não fazia ideia de como um projetor funcionava ou como se parecia. Era uma caixa com uma roda furada? Um retângulo com uma redoma bulbosa que projeta luzes coloridas? Talvez todos fossem projetores, mas ainda imaginava encontrar um disco holográfico no meio daquela bagunça da garagem.

- Teve sorte aí, Aruã? - Perguntou Oliver, do lado de uma estante de livros velhos.

- Nem! Tô com medo de já ter achado um e ter ignorado. Como vou saber como um projetor é de verdade?

- Acredite, você vai reconhecer quando ver. Ainda mais esses de modelo antigo, já que a Fahbrica trouxe uma fita ancestral, né.

- Eu não tinha uma câmera decente naquela época. Não me julgue, garoto do gravador.

- Okay, criançada. Menos conversa e mais ação. A decolagem é hoje à tarde e eu não quero ninguém arrependido no espaço. - Disse Roberto, limpando a poeira das mãos. Com certeza o projetor velho estava ali, mas aonde? A garagem deveria ser apenas lugar para manutenções, mas a Mikhaela tinha que ter a brilhante ideia de misturar coisas como livros de fantasia e turbinas de naves tipo IV. Se pegava pensando em como seria a vida de sua amiga cuidando daqueles três na Distance. Ela teve um bom trabalho com o Oliver, mas a única coisa violenta nele é a escolha de roupas. Por exemplo, escolher um sobretudo branco de forro verde, uma bermuda rosa-chiclete e uma camiseta amarelo-banana para usar no espaço demandou toda uma sessão de terapia improvisada, ou estariam diante de uma combustão espontânea humana. - Eh... Opa! - Roberto arrancou uma superfície dura e familiar de um monte de caixas mofadas, e quanto mais o erguia, mais percebia que era leve para ser um projetor antigo. Era um livro, grande e pesado, com uma capa de couro e letras douradas escondidas sob uma camada de poeira. A soprou à preço de um nariz entupido, o largando imediatamente ao ler o título.

- Ah! Achei! - Regozijou Fahbrica, com o projetor em mãos. Os três se reuniram para encarar o fóssil, e estavam tão preocupados com aquilo dar um curto-circuito que nem notaram Roberto se levantando do chão e levando um livro gigantesco para o quintal. - Roberto, olha... Roberto? Alguém viu ele?

- Ele deve ter saído. Agora, anda, Fahbrica, passa esse projetor pra cá. - Oliver arrancou das mãos dela a velharia, se surpreendo que algo tão velho e amarelado ainda exista.

- Ai, menino! Que pânico todo é esse?

Aruã e Fahbrica apenas observavam Oliver desenrolando os fios do projetor após assentá-lo sobre um banco, apontado para a parede dos fundos. Assim que enfiou na tomada, ouviu um eco na sua cabeça o chamando. Dando alguma distância, temendo que aquilo explodisse na sua cara, se concentrou em achar a fonte do eco. Estava cada vez mais próximo. Uma pequena faísca num galho molhado, era como descreveria a alma do projetor. Sua vida útil já tinha acabado há séculos, e mesmo assim ele continuava ativo.

- Okay... Uhum... É, poderia, por favor? Sem explodir, tá? Haha! Valeu! - Era como se estivesse falando no telefone com alguém, com os olhos reluzindo um verde surreal. Fahbrica se lembrava desse efeito durante a queda da nave, e desde então o tinha intitulado de techno-zombie.

Oliver, após uma conversa longa - e muito esquisita -, se virou para os dois sentados, com um sorriso no rosto.

- Ele disse que vai nos deixar assistir sua fita, Fahbrica.

- Ah, é? Que bom. Qual o nome dele pra eu agradecer a gentileza?

- Ele não tem nome, duh. Sistemas elétricos antigos foram criados de forma que nomes são irrelevantes para sua programação. - Respondeu Oliver, com uma feição inconsolável enquanto Fahbrica se surpreendia que ele não tenha sacado que era uma pergunta retórica. Decidiu não se importar muito com isso, retirando do bolso da blusa o estojo onde estava a fita de filme. Ela a encaixou no projetor, que começou a rodar sem a ajuda de ninguém. "Memória celular", talvez?