Piloto

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Os raios de sol ainda não tinham nem começado a nascer quando eu desci do dormitório para a área externa do quartel da tropa de reconhecimento, mesmo depois de anos as lembranças do assassinato dos meus pais ainda me atormentavam quase todas as noites.

Todo o sangue, o som das suas cabeças batendo no chão e a ordem de fuga que meu pai me deu. Era uma cena de pesadelo que se repetia de novo e de novo e de novo...

Apertei as bandagens nos meus pulsos e me certifiquei que o cabo estava bem amarrado na minha cintura, assim que o primeiro raio de sol iluminou a terra me coloquei a escalar a lateral do velho castelo que servia de base para a divisão. As pequenas fendas entre as pedras eram mais do que o suficiente para que eu conseguisse subir, meu corpo que passou anos e mais anos treinando já não reclamava mais do peso que tinha que suportar.

Eu sabia que não iria cair, tendo escalado aquelas paredes durantes muito tempo já estava bem familiarizada entretanto o meu irmão adotivo insistia em ter pelo menos uma medida de segurança. Isso se traduzia num cabo que prendia firmemente a minha cintura.

O sol se erguia cada vez mais rápido tomando a dianteira na nossa pequena corrida diária, meus devaneios hoje pareciam ainda mais intensos do que o normal.

Soltei o ar que estava preso no meu pulmão e foquei no caminho a minha frente, uma mão após a outra e um pé seguido do outro, desde criança eu tinha certo reconhecimento por ser ágil embora só tenha sido capaz de explorar isso depois de algum tempo.

Com um último impulso alcancei o meu destino bem a tempo de ver a forma completa do sol se erguer no horizonte, sorri. Mais uma vez a vitória era minha, sentei nas pedras vendo ele se erguer cada vez mais enquanto trazia o dia, apenas para ser interrompida momentos depois.

-Sabia que você estaria por aqui.

Me virei para encarar o mais velho e em seguida retornei a ver a paisagem – Não é exatamente um segredo que eu faço isso todos os dias não é mesmo?

-Mas existe uma diferença entre fazer isso para treinar e fazer para livras seus pensamentos de outra coisa - A voz disse com os barulhos de passos se aproximando cada vez mais, Erwin se apoiou do meu lado olhando para a frente como eu – Está tendo pesadelos de novo?

Dei um riso fraco – Você me conhece bem demais. Não é como se eles alguma vez tivessem me deixado – e continuei – Geralmente são só algumas cenas mas existem dias onde, o cheiro metálico, os sons e a sensação do sangue grudado na minha pele parecem mais vivos do que nunca. - me virei para olhar seu rosto - Imaginei que depois de alguns anos eu me acostumaria com eles, mas claramente não é a situação.

-Mesmo assim você não parece ter problema em falar sobre eles – o tenente e líder de esquadrão comentou.

-Eu já não sou mais criança Erwin – retruquei – Essas lembranças provavelmente vão me acompanhar até o dia que eu morrer, só me resta aceitar que o passado foi isso e não tem como mudar.

Ele ficou em silêncio até conseguir formular uma resposta.

-Você realmente cresceu. Seguiu meus passos e entrou para a tropa de reconhecimento e agora está desenvolvendo uma técnica única para melhorar a nossas expedições. Tenho certeza que seus pais teriam orgulho de você.

-Uau, um elogio assim logo de manhã – brinquei e levantei uma sobrancelha – Veio do meu líder de esquadrão e tenente da tropa de reconhecimento ou do meu irmão adotivo?

-Os dois de certa forma – ele respondeu com um leve tom de riso.

Joguei as minhas pernas pra fora do bloco de pedra e me apoiei nos meus braços. - Até hoje me surpreendo do seu pai ter aberto a porta para mim naquela noite.

Raison D'être - (Levi Ackerman x [Nome])Onde histórias criam vida. Descubra agora