Boa sorte

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Até que Levi não era tão ruim e aprendia relativamente rápido, quem diria que alguém do tamanho dele teria tanta força. Claro que esse pensamento ficou apenas para mim já que se falasse em voz alta não tinha manobra de salvamento que me impedisse de ter uma morte dolorosa.

Pensamentos bobos como esses me mantiveram focada enquanto guiava o caminho por cima das residências, voltamos a observar alguns grupos se reunindo. Mas não tinha nenhuma conversa relevante de fato acontecendo.

Quando parei já estávamos próximos do galpão na parte leste da cidade, algumas carroças passavam naquela direção mas poucas continuavam. Era um bom método para despistar qualquer tipo de fiscalização, já que algumas realmente só tinham produtos de comercialização legal.

Um muro alto nos separava do telhado que iria proporcionar uma visão clara do local, daria um pouco de trabalho subir nele. Parei com as mãos na cintura pensando na melhor maneira de o fazer, nisso Levi inclinou a cabeça para o lado olhando a lateral do prédio.

-Tem uma escada.

-É boa se resolvermos descer, mas agora nosso caminho é esse. - respondi - Você sobre primeiro e me ajuda depois.

Encostei as costas na parede dobrando de leve as minhas pernas. - Preste atenção no que eu vou falar. Vai subir de frente para mim, perna direita na minha coxa e perna esquerda no meu ombro como degraus, tem um tijolo saliente que vai ajudar você a se equilibrar enquanto eu me levanto.

Ele não parecia muito confortável com a ideia - Se eu for primeiro não vai dar certo, então se mexa soldado.

Aquilo foi provavelmente o mais próximo que já ficamos, realmente tinha alguns traços em seu rosto bem elegantes que combinavam bem com sua expressão séria e geralmente intensa. Mas o que se destacava realmente eram o formato de seus olhos.

Segurando a minha mão de apoio o homem usou o esquema de escada pisando em meu corpo e assim que sua perna estava no meu ombro segurei seu tornozelo e me levantei. - Na sua direita tem um buraco na parede, usando o tijolo de apoio vai conseguir agarrar a borda.

-Ou é só eu pisar na sua cabeça - ele respondeu raivoso.

Ri de leve - Com certeza você ia adorar isso.

Pude jurar que ouvi Levi suspirando alto antes de continuar, o peso deixou meu ombro e quando olhei para cima ele já estava com metade do corpo seguro. Girei os ombros e me afastei da parede com um impulso e com a ajuda de Levi consegui subir no telhado logo em seguida.

-Até o final você vai ganhar uma vaga no meu esquadrão - comentei.

-Foque na missão. 

Sério como sempre.

Abaixados nos aproximamos da beirada do telhado o galpão estava na nossa diagonal, dava pra ver parte do depósito e as três ruas que davam acesso a ele. Já não era uma área tão movimentada de Yakell, as ruas se conectavam como um "T" sendo que a esquerda e a do meio - que dava de frente para o galpão - voltavam para a cidade. Já a rua direita seguia em direção às áreas de mata, tinha uma suspeita de que seguisse por ela acabaria num lugar bem próximo da onde encontramos Brandon.

Nesse momento duas carroças se aproximaram, praticamente juntas. Uma guiada pela polícia e a outra parecia ser um outro homem qualquer - de capuz é claro - a única coisa que vimos foi suas costas. Como esperado, a primeira tinha os itens desviados, equipamentos 3DMG, armas e qualquer outra coisa que pudesse alimentar o crime no submundo.

Mas o que fez meu estômago revirar foi a segunda, alguém levantou a lona apenas para revelar algumas crianças e jovens amarrados e daquela distância não sabia dizer se estavam dopados ou mortos. O soldado da polícia militar desviou o olhar e seguiu para dentro do prédio para descarregar.

Foi quando uma figura alta vestida de preto da cabeça aos pés saiu do local, era o próprio bicho papão que me assombrava os pensamentos à noite. Ele mancava e tinha uma marreta jogada sobre o ombro, pareceu olhar a mercadoria antes de gritar algo para qualquer um que estava do lado de dentro. Não demorou para que um pacote fosse arrastado pelo chão deixando um rastro vermelho vivo por onde passava, foi jogado em cima dos outros corpos e em seguida a carroça partiu em direção a mata.

Nos afastamos da beirada quando percebemos o homem virar, se Erwin achava que a situação era ruim. Estava bem pior que isso.

-O que vamos fazer? - perguntei para Levi.

Ele tirou a adaga da lateral e usou a ponta reluzente para verificar pelo reflexo se Huxley já tinha se afastado.

-Erwin precisa apenas de provas para passar uma denúncia ao general - respondeu - Não precisamos nos envolver.

Antes que eu protestasse continuou - Mas é claro que isso não vai ser o suficiente pra você, e também não me agrada. Mas não podemos apenas entrar lá e acabar com tudo, vamos precisar fazer um plano e juntar mais informações.

Os carregamentos chegavam de tempos em tempos e Levi era desconhecido, talvez tivéssemos uma boa chance de nos infiltrar se tirarmos vantagem disso. Dividi com ele os meus pensamentos e de alguma forma ele concordou completando que achou uma boa ideia.

Descemos para a cidade, tinha observado tempo o suficiente para confirmar as rotas das carroças. Pedimos para algumas crianças causarem confusão na frente de algumas delas para confirmar as cargas e quando achamos uma de contrabando esperamos o momento certo para trocar o condutor pelo meu colega de missão.

Quando ele entrou em um beco qualquer pulei de um telhado sobre a carga nocauteando o funcionário de Huxley em seguida. Algumas amarradas depois e ele estava largado num canto qualquer atrás de várias caixas.

Levi jogou a capa do homem sobre os ombros e subiu na carroça. Eu daria cobertura ao meu colega da maneira que conseguia, observando e caso as coisas dessem errado tinha uma das armas da carga com munição presa às minhas costas.

Não era a ideia causar algum alvoroço, apenas reunir mais informação.

-Não faça nada idiota enquanto eu não sair de lá.

-Fico feliz que você confia em mim Levi - revirei os olhos. Na boca dele um leve sorriso surgiu, o homem tinha um jeito bem peculiar de mostrar seus sentimentos.

Olhei para baixo pensando que em apenas horas tive mais informação sobre o assassino dos meus pais do que em anos de busca. Huxley e toda a sua organização estava longe de ser amadora.

-A janela de tempo está acabando - continuei - Vire à esquerda e depois a primeira direita já vai estar de volta a rota. Tem um grupo na segunda esquina provavelmente para marcar a passagem da mercadoria. E Levi...

Levantei a cabeça para poder encarar seu rosto - Tome cuidado.

Ele pareceu surpreso pela minha fala, mas não respondeu, apenas colocou o capuz sob a cabeça e retomou a rota.

Sai na direção oposta a que ele seguiu, tinha um prédio ao lado do galpão que seria o meu local de observação. Mas para chegar nele precisaria começar a escalar quase um quarteirão antes.

Enquanto subia me lembrei de uma frase de Arlo, "não acredito em sorte, mas se existe não estou rejeitando".








N/A: Obrigada por ler até aqui!

Até semana que vem, Xx.

Raison D'être - (Levi Ackerman x [Nome])Onde histórias criam vida. Descubra agora