Olhei a mulher se sentar a minha frente com a pequena caixa nas mãos – Meu marido sempre teve orgulho em fazer parte da tropa de reconhecimento, então ter que ser afastado por invalidez foi o mesmo que morrer.
Ally começou a espalhar cartas e mais cartas sobre a mesa, algumas amassadas outras em perfeito estado – Diversas vezes Ronan tentou entrar em contato com a tropa pedindo para voltar ao campo – a voz dela começou a ficar embargada e pequenas lágrimas se formavam no canto de seus olhos – Pelos céus, tínhamos duas crianças pequenas estávamos. Mas parece que não era o suficiente para ele.
Já tinha ouvido alguns outros relatos de soldados que não... Aceitavam serem afastados do campo, tinham se acostumado demais com a sensação do perigo e já não conseguiam viver sem a dose de adrenalina que as expedições e treinamentos proporcionam, mesmo que para a maioria dos outros soldados o medo fosse o sentimento regente.
-Não podia apenas deixar que ele fizesse isso – a mãe de Briana levantou o avental para secar os olhos – Então interceptei todas as cartas, Brandon me ajudou. Ele é esperto, ainda mais do que a minha menina não demorou a descobrir o que realmente estava acontecendo com o meu marido.
-Ainda não consigo enxergar como isso se desdobrou numa denúncia de contrabando. – Levi comentou ainda sem deixar seu posto de vigia próximo a janela.
-Ele ficou obcecado, não entendia a falta de respostas então começou a monitorar as coisas pela cidade na tentativa de conseguir um contato mais direto – e continuou – Mas vocês devem saber, estamos afastados dos portões não tem motivos para soldados como vocês vierem para cá.
-Foi quando ele começou a ver as irregularidades, os equipamentos sendo transportados. Suprimentos que não deveriam estar por aqui, tudo passando pelas mãos de pessoas com reputações já não muito boas.
-E quando foi isso? – perguntei.
-Já fazem alguns bons meses – Ally respondeu – Acho que no fundo ele estava com a esperança de conseguir pegar os contrabandistas sozinhos, como se fosse uma chave para voltar para a tropa... Realmente não sei.
-Esses são todos os dados que ele juntou – ela me estendeu um caderno de couro escuro – Meu marido estava doente, já não se parecia com a pessoa que eu amei. Mas não merecia morrer.
-Como pode ter tanta certeza que ele faleceu? Quero dizer, ele ainda pode estar em cativeiro ou algo parecido. - Comentei tentando dar alguma esperança.
-Não – respondeu com a voz firme – Uma esposa sabe quando as coisas acontecem, mataram o meu marido e me enviaram seu dedo anelar junto com uma promessa de que meu filhos seriam os próximos.
Ela continuou a falar - E foi exatamente isso que aconteceu, pegaram Briana e Brandon uma semana depois disso, dois dias atrás.
- Provavelmente ele deu um jeito de mandar a denúncia para Erwin antes de ser capturado – Levi comentou – Ronan tinha garra, tenho que admitir isso, mas também foi um tolo de querer resolver as coisas sozinhos.
-Sobre o dia que levaram as crianças – comecei a falar – Se lembra de alguma coisa?
-Homens entrando com panos escuros enrolados em suas cabeças e chutando as portas. É tudo que me lembro, a vizinha me encontrou na manhã seguinte desacordada.
Bati o caderno na minha mão – Bem, Sra. Moore, de qualquer forma iremos assumir o caso daqui pra frente e descobrir o que realmente aconteceu, vamos pedir ajuda para manter você e seus filhos seguros.
Ela sorriu fraco na minha direção – Não tenho muito a oferecer mas por favor pelo menos descansem apropriadamente antes de partirem para a cidade novamente. É o mínimo que eu posso fazer por terem salvo as minhas crianças.
Poderia fazer bom uso de uma cama, minhas costas estavam me matando. Some uma noite mal dormida com um resgate e horas cavalgando e tudo que resta é um corpo completamente exausto.
Olhei para Levi, era uma missão conjunta, não podia fazer decisões apenas baseadas no meu gosto pessoal. O homem me olhou pelo canto de olho – Devemos estar seguros por hora, podemos partir amanhã de manhã.
Não pude conter o meu suspiro de alívio, coloquei a mão no pescoço pressionando e em seguida o girando para tentar aliviar um pouco da tensão.
-Bem vou preparar algo para vocês – Ally se levantou – As rações de soldados devem ficar enjoativas depois de algum tempo.
-Honestamente já nem sinto mais o gosto – respondi – Obrigada, é gentileza sua.
-Fiquem à vontade, seguindo pelo corredor à esquerda tem um banheiro caso precisem se lavar – e assim ela partiu na direção da cozinha. Por ainda estar de pé, me aproximei de Levi estendendo o caderno para ele mesmo pudesse olhar.
-O que acha da história? – perguntei baixo para que a mulher não escutasse.
-Parece verdade – ele pegou as anotações da minha mão para começar a folhear logo em seguida – Seria algo que criminosos fariam. Se fossem apenas assassinos não se importariam em vir atrás da família, mas não querem deixar pontas soltas.
-Você deve ter razão, mas acha que é seguro ficarmos aqui mesmo? Não que eu esteja rejeitando uma boa noite de sono, mas não os torna alvos ainda mais... Cobiçados?
-Depois do que fizemos hoje vai levar algum tempo até os criminosos se reestruturarem, pelo menos por um ou dois dias estaremos bem. – disse e continuou – É tempo o suficiente pra tentar falar com Erwin e arrumar alguém confiável pra ficar de olho neles.
-Sei que tem seu histórico Levi, mas parece entender um pouco bem demais como esses caras pensam. – o questionei e em seguida me arrependi. Deveria ter tocado num assunto um tanto quanto delicado porque consegui ver a mudança imediata em sua expressão e postura.
O homem fechou o caderno me devolvendo em seguida, voltando a olhar pela janela com os olhos mais frios do que nunca.
-Algumas coisas você não precisa saber.
N/A: Obrigada por ler até aqui.
Até mais, Xx.
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Raison D'être - (Levi Ackerman x [Nome])
FanficUma razão para existir. 🥇 1° em snk • maio/24 Não importava o que acontecesse, a única coisa que a garota se agarrava era a última palavra de seu pai, palavra essa que soava clara como o dia em seu ouvido e parecia ter sido gravada em seu peito com...