Capítulo 21: Esperança

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Culpados declarados

Talvez de todos sejamos os renegados

Mas nós somos livres

Deixamos pra trás tudo que nos prendia

E dia após dia nós temos novas rotas de fuga

Novos desafios, novas conquistas,

E passo após passo nós chegaremos lá.


Petrus estava um pouco diferente do que eu me lembrava. Ele tirou um boné da cabeça e pendurou no cabide atrás da porta e seus cabelos antes volumosos e lisos se resumiam a uma quantidade rala de fios. Estava quase careca.

Olhos verdes me encaravam ao invés de olhos castanhos. E eu me perguntei se estaria tudo bem, mas eu não tinha certeza. Nunca o tinha visto com uma jaqueta colegial, nem com jeans rasgados ou com um All Star surrado nos pés.

- Eu sinto muito Helena.

O jeito como ele disse que sentia muito me fez desviar o olhar. Eu estava furiosa ao mesmo tempo em que estava aflita.

- Bem – disse N – eu tenho umas coisas pra ir resolver, mas voltarei logo, então tentem não se matar na minha ausência.

Eu não sei por quanto tempo eu e Petrus ficamos de pé em cantos opostos da sala, desviando o olhar um do outro, em silêncio e ouvindo o barulho do relógio desde que N saiu encostando a porta atrás de si. Mas, posso jurar que foi por muito mais tempo do que eu gostaria.

- Nós não somos bons nisso né? – disse Petrus encostando-se a soleira da porta, procurando um apoio talvez.

- Eu não aguento mais sabia? Primeiro Sonne, aquelas memórias horríveis que eu queria esquecer, riscar da minha vida, depois a clínica, aqueles dias deprimentes. E eu não tinha pra onde ir... Eu precisei de uma saída, e simular a minha morte foi o melhor que eu pude fazer. Foi uma droga, eu devia ter morrido de verdade. Não sei o que estou fazendo aqui, eu cansei disso. Minha vida não tem sentido. Eu só queria ficar sozinha, era pedir demais? Mas, que droga eu precisava de um tempo. Eu posso me fazer de racional às vezes, só que aqui dentro eu sou uma bagunça Petrus, e eu não consigo lidar com a bagunça de mais ninguém. Tentei encerrar as coisas de uma maneira legal com você, porque não queria fazer o mesmo que Sonne fez comigo, mas que merda, por que você não me deixa ir? – eu disse sentindo tudo que eu estava guardando dentro de mim transbordar.

- Porque talvez eu não consiga. Eu tentei ok? Eu tentei me afastar de você e desse mar de problemas que você é. Tem ideia de como foi difícil? Eu não consigo pensar nessa possibilidade. Enquanto você viver eu preciso pelo menos saber como você está, eu não suporto a ideia do que está fazendo. Você é mais do que isso Helena, por que tem que se autoflagelar e se diminuir dessa forma? Por que as suas únicas opções são sempre abandonar todas as pessoas ou morrer?

- Eu sou assim. Não tem como eu ser diferente... – senti as lágrimas surgirem antes mesmo de elas quererem sair – Eu não posso ficar perto da merda que as pessoas são. Eu fui abandonada tantas vezes que perdi a esperança. No final sempre desistem de mim, e eu sou mesmo um caso perdido. Apenas vá embora como todas as outras pessoas. Eu não preciso de ninguém, eu sou livre. Eu posso ir aonde quiser e cometer a porcaria dos erros que eu bem entender. Você não pode conviver com isso, então aceite que não posso ser mais sua amiga. E pare de tentar me curar com a droga da sua terapia barata, porque eu sou mesmo um caso perdido.

Petrus passou a mão nos cabelos que mal tinha na cabeça, puxou uma cadeira e sentou-se. Encolheu a cabeça entre os braços. E então olhou pela janela. E foi assim sem me olhar que ele disse:

Depois do Sol se PôrOnde histórias criam vida. Descubra agora