Capítulo 19: O nome do Sol

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Os carros passam a 120km/h por mim

O sol está batendo no asfalto

Os reflexos quase me cegam

É um longo caminho

As coisas boas e ruins passam por minha mente

Eu ainda estou aqui

Eu sobrevivi a um mar de monstros

E novamente estou sozinha

Apenas uma pessoa me completava

Essa pessoa se foi

Essa pessoa existiu?

Onde está meu amor?

Minha consciência fica silenciosa

Diga algo

Quando eu for te ver pela última vez

Esteja esperando.


Saio do acostamento e entro em uma pequena floresta. Sei aonde ela vai me levar. Eu continuo caminhando incessantemente entre as árvores equatoriais. A vegetação das folhas secas farfalha abaixo dos meus pés.

Aqui o sol não pode machucar meus olhos. Mesmo assim o clima abafado me faz ter que tomar um gole de água da minha garrafa a tiracolo de dez em dez minutos.

São alguns quilômetros até esta floresta me fazer retornar para a minha cidade natal. Eu estou camuflada sob meu cabelo e olhos diferentes, mas mesmo assim eu não estarei segura lá. Em hipótese alguma eu posso ser vista.

Pensei a respeito e tenho que dar adeus a mais uma pessoa. Só assim eu poderei seguir em frente e me libertar das correntes que prendem os meus pés ao passado.

A verdade é que eu gostaria de saber mais coisas sobre Petrus também. Eu não fazia ideia de que ele era adotado, por exemplo. Se eu tivesse tido tempo queria ter lido mais daquelas mensagens. Mas, pensando por outro lado não faz sentido eu querer saber sobre o passado dele.

Acho que o que realmente importa são as decisões que o tornaram quem ele é hoje. E eu acho que o conheço bem o suficiente para saber que ele se tornou uma boa pessoa. Apesar de todas as coisas que aconteceram em seu passado.

É certo que como lidamos com as coisas é o que nos torna o que somos. Eu não soube lidar muito bem com as minhas perdas e isso fez de mim uma pessoa doente e depressiva.

Petrus, no entanto, pareceu lidar bem com a situação. Eu sinto que ele escolheu o curso de psicologia por ter uma mentalidade forte e ter superado seus problemas, mas também porque ele queria ajudar outras pessoas.

Eu nunca estive muito disposta a ajudar as outras pessoas... Talvez porque na minha cabeça só merecia ajuda, quem já havia me ajudado de alguma forma. Pessoas tendem a ser ingratas.

Em muitos aspectos eu e Petrus pensávamos diferente um do outro.

Mas, nós ainda tínhamos algo em que éramos tão completamente iguais que era certamente estranho olhando agora. Ambos nos tornamos girassóis.

Porém eu fui o girassol do Sol, e o sol de Petrus. Eu era um sol e um girassol ao mesmo tempo. Por isso eu já não podia mais culpar ninguém. Eu fiz para Petrus exatamente a mesma coisa que o Sol fez para mim: eu o deixei.

Coloco alguns fios de cabelo atrás da minha orelha. Gostei muito do resultado dos meus cabelos, ficou realmente muito bom. Petrus fez um bom trabalho.

Um pouco cansada me sento sobre uma árvore caída em uma clareira. Tudo é estranhamente quieto aqui. Guardo a minha garrafa d'água na mochila e pego um paninho de feltro para limpar o suor na minha testa. Meu corpo não faz uma longa caminhada assim há muito tempo.

Depois do Sol se PôrOnde histórias criam vida. Descubra agora