Capítulo 13: Coroação

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Uma música sutil e lenta

Quem te colocou para dormir Helena?

Não acha esta uma noite estranha?

Uma canção de ninar fatal...

Não acha esse um silêncio sepulcral?

O barulho, o silêncio,

O abismo.

A mão que é estendida

A vela que acende e apaga

Injúria! Ria Helena

Os olhos com cílios longos

Fechados? Abertos?

Não tem graça

Mas ela ria como uma hiena

Completamente fora de si

Ir? Ficar?

E ela chorava em desespero

A liberdade é condicionada.


(Petrus)


E então faltava uma única coisa.

Balanço agitadamente os pés, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça jeans, em frente à porta da casa, sob um tapete gasto que levava o dizer clássico: seja bem vindo.

Inclino meu corpo, a mão direita vai em direção à madeira coberta por duas camadas de tinta branca descascada.

Não é a primeira vez que paro o movimento no meio do caminho, respiro fundo e torno a enfiar as mãos nos bolsos.

Eu não sei como serei recepcionado. E é uma loucura completamente total eu estar parado agora na frente da porta da casa dos pais de Helena.

Coragem Petrus...

Alcanço o bilhete no fundo do bolso. Mais uma respiração profunda.

E ah meu Deus, alguém abriu a porta!

- Está querendo dizer alguma coisa?

É o pai dela.

- Desculpe, meu nome...

- Sim, eu sei quem é você – ele diz ríspido.

A mãe aparece na porta e lhe dá um leve cutucão com o cotovelo. Ela está segurando um pano de louça nas mãos.

- Entre querido, nós já nos conhecemos não é? Você é o estagiário da clínica em que Helena estava, certo?

- Sim... – me limito a dizer.

O homem arqueia uma sobrancelha para a mulher, mas resolve me deixar passar.

- A senhora precisa de ajuda com a louça? – decido perguntar.

Ela abre um sorriso mínimo e meio cansado.

- Eu já estava terminando, mas se achar mais confortável – e posso jurar que ela piscou para mim – pode me acompanhar até a cozinha.

Entendi o recado e a segui pelo corredor.

Ela se virou e tornou a secar os pratos em cima da pia.

- Ele só está conturbado com tudo o que aconteceu... – a mulher de meia idade disse ainda de costas para mim.

E eu pude notar pelo seu tom de voz que seus olhos deviam ter marejado.

Eu entendia. Eu podia sentir a energia pesar ao meu redor. A tristeza cravejada em cada parede daquela casa. Fechei os punhos inconscientemente ao meu redor.

Depois do Sol se PôrOnde histórias criam vida. Descubra agora