Capítulo 14: Risque o Fósforo

70 14 194
                                    


O pior momento não é o adeus

É o que fica depois do fim

Apenas uma saudade imensa

E que parece que nada pode saciar

Mas óh não chore

Embora sua estrutura esteja abalada

E tremores perpassem seu corpo

E haja essa dor intensa

A vida continua

Como uma lei natural infinita

Que nós não podemos controlar

Assim como não podemos controlar as lágrimas

Ou a morte de chegar

(Petrus)

Você só pode querer a verdade se realmente se sentir apto a lidar com ela por pior que ela seja, caso contrário algumas ilusões felizes e medíocres lhe serão o bastante.

O caso é que eu não tinha escolha. Eu não tinha tempo para pensar se estaria pronto, se eu seria apto. Eu precisava ser apto quando Helena me escolheu como seu intermediário.

Seu notebook me deu livre acesso a seus arquivos. Havia diários espalhados pelas suas pastas. E havia sob a mesa o diário físico, feito assim para esconder coisas dentro, eu supus.

Então um envelope caiu. Meus dedos tremiam quando juntei o pequeno pacote do chão. Respirei fundo, pois eu tinha que abrir e tentar encaixar as peças do quebra-cabeça.

"Destinos de viajem" – estava escrito no verso.

Abri e descobri uma espécie de cotagem. Conversões para dólares e outras moedas. Custos de passagens aéreas. Custos para intérpretes. Locais de hospedagem e custos médios totais.

Alguns países eu tinha certeza do por que. Não era questão de visitar, ou de viajar para lá para conhecê-los. Eram rotas de fuga. Acho que principalmente Portugal devido ao idioma ser teoricamente o mesmo. Pelo que eu sei seu inglês era intermediário...

O fato é que havia muitos destinos, mas alguns deles estavam circulados com marca-textos. E eu pude entender o que ela queria. Sim, sua intenção era que eu ficasse com aquilo e pudesse "atualizar os dados".

Eu já não agia por mim, mas havia tanta loucura naquilo tudo que acho que eu já não me importava mais. Porque se eu realmente parasse para pensar faria com que as coisas parecessem muito erradas. Porque de fato eram.

Mas, eu estava farto de pensar e meu dever era agir. Dane-se se de forma imprudente, porque tanto faz quando se já está com a corda no pescoço.

***

Terminei de grampear minhas pesquisas de cada país separadamente por volta das oito da noite. Estava me sentindo exausto em todos os sentidos da palavra.

Eu percebi que nunca seria como ela. A conhecer foi de fato uma dádiva. Mas, dádivas não são eternas, certo?

Helena irá partir. E eu não poderei ir com ela.

Queria pedir que ela ficasse, queria de verdade, mas sei que não posso. Porque ainda que Helena sobreviva, isso não muda o fato de que ela é uma pessoa morta para todas as outras pessoas.

Eu não posso abrir mão de tudo que tenho aqui. Não posso largar meu emprego, abandonar meus estudos e deixar para traz minha família apenas para acompanhá-la em novas aventuras.

Helena já perdeu tudo há muito tempo, ela pode se dar ao luxo de dizer que é livre porque nada mais a prende a ninguém. Ela conseguiu o que ela mais desejava: a liberdade. E eu me pergunto se ela sabia que o preço para isso seria tão alto assim.

Depois do Sol se PôrOnde histórias criam vida. Descubra agora