Capítulo 04: Vagalumes

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Mas já não espero por esse momento

O tempo não me importa mais

Meu futuro é intangível

Minha perda indescritível

Meu sofrimento é palpável

Mas nunca perco a esperança

Pois trago comigo a lembrança

Doce e amarga do seu sorriso

Eu lembro e esqueço das nossas canções

Meu coração não aceita ter te perdido

Meus pés continuam indo em sua direção

E as luzes em tons azuis esverdeados

Fazem-me querer te esquecer

Eu fui a bailarina da sua caixinha de música

Eu dancei desesperadamente e incansavelmente

Até a corda acabar

E você cansar de brincar.


Por volta de uma semana depois Petrus trazia nas mãos um envelope conhecido. Minha carta havia sido devolvida. Havia um carimbo enorme sob o papel elegante que dizia: devolução/ esta carta não possui destinatário.

Eu caí desajeitadamente na cadeira atrás de mim. Sim, eu sabia que isso ia acontecer, mas ver acontecendo doía de uma maneira desconhecida.

Eu me senti idiota naquele momento.

Petrus veio até onde eu estava e tomou minha mão a colocando entre as suas, eu mordi meu lábio com força e não me permiti chorar. Não eu não podia, eu precisava ser forte.

- Está tudo bem querida – disse Petrus.

O modo doce como ele dizia a palavra querida me fazia sentir que era verdadeiro e me reconfortava.

Eu respirei fundo e lhe lancei um fraco sorriso de volta.

Havia outros assuntos dos quais precisava tratar com ele e que não podiam esperar, por isso com minha mão livre puxei o bloquinho de cima do bidê, mas a caneta caiu no chão.

Gentilmente ele soltou-se de minha mão e abaixou-se para pegar minha nova caneta. Petrus me deu aquela caneta chamativa com um pompom branco na ponta e uma estrelinha. Segundo ele todas as vezes que eu estivesse triste eu poderia olhar para meu novo presente e sorrir.

"Como sempre você é muito gentil Petrus. Espero ansiosamente o dia em que poderá ouvir minha voz, assim este bloquinho e esta caneta se tornarão coadjuvantes... Eu sei que não devia, mas tenho um favor a lhe pedir, tudo bem para você?"

- Claro, pode pedir – ele mediu as palavras, pois estava ciente dos áudios que nos rodeavam.

"Desculpe, eu exijo muito de você, eu sei, mas no momento é o único com quem posso contar... Não vou me estender muito: quero que descubra porque Anastásia foi internada aqui, procurando pelos laudos médicos – sei que tem acesso a eles, e se puder a procure lá fora, busque o endereço e também tente descobrir porque eu estou aqui".

Ele leu cautelosamente e eu pesquei algo diferente em seus olhos.

Ao invés de responder em voz alta ele me pediu a caneta em silêncio e eu a coloquei em sua mão.

"Eu sou seu amigo e seu aliado, não há com que se preocupar, estou escrevendo desta vez, porque vou lhe contar algo confidencial. Eu já li os laudos médicos de sua amiga Anastásia, aliás, de todos os pacientes daqui, incluindo os seus. No entanto, os seus estão praticamente vazios... Só contém seu nome, o telefone de seus pais, sofrendo de depressão pós-traumática e em tratamento com sintomas ainda desconhecidos.

Depois do Sol se PôrOnde histórias criam vida. Descubra agora