Capítulo 17: Promessa

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"[...] Discorda do que eu penso

Eu não me importo, eu quero só você

Tantos medos e manias que eu acumulei

Quando eu fico do seu lado eu costumo esquecer".

O Terno - Volta


A diferença entre a pessoa que vai

E a pessoa que fica

É essencialmente muito simples:

Uma quer partir

A outra não quer ir a lugar algum

Ambas tramitam o mesmo processo

Mas é premeditado que uma

Já perdeu a causa há muito tempo.


(Petrus)

Era um dia ensolarado. Por isso, quando Helena abriu a porta, a luz de fora entrou no cômodo e iluminou sua face. Aquilo apenas a deixava mais bonita... Perdi toda a coragem que reuni no caminho, apenas por vê-la.

Ela sussurrou um entre, sem nem me olhar direito. Puxou uma cadeira pra mim e sentou-se sobre a cama.

Não era uma boa hora para voltar atrás, quando eu já tinha chegado até ali.

- Antes de qualquer coisa – ela disse e sorriu minimamente – há algo que eu gostaria de lhe dizer primeiro, tudo bem?

- Claro – eu sussurrei meio surpreso, confesso.

- Acredito que você não tenha se dado conta. E quero que fique ciente de uma coisa. Eu não estaria aqui hoje se não fosse por você. E não estou falando apenas do último plano que traçamos juntos. Desde o momento em que você apareceu e se tornou meu mensageiro, mas que ao mesmo tempo também se tornou meu amigo eu comecei a perceber que ainda valia a pena continuar vivendo. Você tem ideia de quantas vezes eu não pensei em simplesmente acabar com tudo? Em como seria muito mais fácil apenas morrer? Eu pensei muitas vezes em suicídio...

Eu a observo cruzar os dedos das mãos, depois de um breve suspiro.

- Petrus você estava lá quando não havia mais ninguém que se importasse comigo, quando todos já haviam desistido você me estendeu a mão e eu sou muito grata, pois de alguma maneira isso me salvou. Mas, não há nada que eu posso te oferecer em troca e eu sinto muito.

- Helena... – eu sussurrei e me levantei da cadeira.

Cogitei sentar ao seu lado na cama, mas logo percebi que não seria uma boa opção. Então me ajoelhei à frente dela e segurei suas mãos.

Seus olhos se focaram nos meus e se mantiveram a espera. Eu sabia que por trás daquelas nuvens de poeira, meteoritos e asteroides, havia infinitas constelações, cometas e nebulosas e eu as busquei.

- Algum dia eu lhe impus um preço? Eu te disse que queria algum tipo de retribuição? Algo em troca? Não, Helena. Eu fiz isso porque eu quis ajudar você. Eu nunca esperei nenhuma recompensa por isso.

Ela mordeu o lábio inferior e fechou os olhos, para abri-los com lágrimas nos cantos.

- Então por que eu saio como uma grande devedora nessa história?

Senti uma lágrima pingando na minha mão no mesmo momento em que ela desviou o olhar.

E eu não podia lhe dizer, mas eu pensei: porque nós somos dois grandes miseráveis, egoístas, filhos da mãe...

Depois do Sol se PôrOnde histórias criam vida. Descubra agora