Eu já não peço que me perdoe
Nem peço que se lembre de nós
Quando eu sei que 'nós' é algo que nunca existiu
A única pessoa que eu quero apagar é você
Agora eu sei que naquele dia o Sol não se pôs, ele morreu,
Sabe a luz não foi apagada, foi extinta,
E eu já não olho o horizonte com a mesma dor
Eu sou apenas um girassol a procura de liberdade
E você é a única pedra no meu caminho
É uma pedra bastante incômoda eu diria
E é chegada a hora de partir-lhe pelo meio
Com o martelo da realidade, da verdade...
Eu vou matar a mentira que foi você
E mostrar a farsa que você era.
(Capítulo narrado por Petrus)
E ela cantava frequentemente uma música chamada Brick by boring brick do Paramore. Como um hino. E eu não era exatamente um especialista em inglês, mas ela me dizia que a tradução era muito bonita. A beleza aos seus olhos era no mínimo profunda, pra não dizer filosófica.
Eu nunca havia escutado a versão original. Tão pouco havia dado importância ao que realmente dizia aquela música. Não é como se eu tivesse exatamente muito tempo de sobra nos meus dias corridos.
Trabalhar meio período, estagiar como voluntário em uma clínica psiquiátrica três dias por semana devido às horas que eu precisava cumprir pra minha bolsa de estudos. Ir fazer faculdade de psicologia à noite. E dormir quando me sobra algum tempo. Mas essa é a realidade de pessoas comuns como eu.
E apesar do cansaço eu não costumo reclamar. Dia após dia eu batalho. E não é como se alguém fosse me elogiar pelo meu esforço. Mas é o que é, é o que há.
Mas hoje não é um dia comum. Estou no horário do meu estágio esperando a hora chegar. E você deve se perguntar hora do que?
A hora de ligar. De cumprir o plano e vê-la sair, não sei se de cena ou pra sempre.
O ponteiro dos segundos só pode estar brincando comigo. Porque não sai do lugar. Apoio o braço sobre a mesa e deito minha cabeça sobre ele. Eu devia tentar impedi-la, mas é tamanho o seu sofrimento que não me sinto no direito de fazer isso.
Aqui ou para a morte?
Eu vi as atrocidades que acontecem por entre os corredores desse prédio, eu ouvi os gritos, a agonia e o choro. Eu vi a desgraça e a tortura reinarem por esse lugar. E eu era apenas uma peça no jogo.
Eu não pude impedir.
Então ajuda-la com essa ideia idiota é o melhor que eu pude fazer. Mandar suas cartas para ninguém é o melhor que eu pude fazer. Vendo-a ter crises e ser levada para a enfermaria e não poder mover um dedo foi tudo que eu pude fazer. Ser a sua companhia quando não havia ninguém foi o mínimo que pude fazer. Como você pode perceber eu não fiz muita coisa.
Então eu decidi entrar em seus jogos mentais. (E eu confesso que para alguém diagnosticada com problemas psiquiátricos ela sempre foi o oposto do que eu esperava).
Eu decidi torná-la um mistério que eu precisasse resolver. E então eu comecei a descobrir quem ela de fato era.
Ela não tinha irmãos. Seus pais eram pessoas comuns como eu, com dias corridos como eu. Ela não possuía uma extensa lista de amigos, mas os poucos que tinha lhe eram essenciais para continuar em frente.
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Depois do Sol se Pôr
Misterio / SuspensoA.004 sofre de um tipo estranho de amnésia causado por um bloqueio cerebral. Por causa de uma decepção aparentemente impensável, mas tão dolorosa, ela perdeu as lembranças da pessoa que mais amava nessa vida. Essa pessoa era seu tudo e, no dia que e...