Capítulo 11: Densa Névoa

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Se a garota soubesse que estava errada

Tudo teria sido mais fácil

Mas não ouvir ninguém era um de seus defeitos

E somado a sua teimosia você pode imaginar

Mas ela era essa tempestade de sentimentos

Que nem mesmo ela podia controlar

Devemos contar que ela é o seu Sol?

Que ela nunca foi um girassol?

Foi ela que trouxe a luz para a escuridão

Que o Sol era

E ele foi ofuscado pelo seu brilho

Ele não aguentou ser esmagado pela sua força

Por isso se afastou

Por isso e porque era um cretino

Mas algo bom sobre a chuva é que ela sempre cai

A ira torrencial de Helena não morreu

A ira está vindo...

Cada vez mais alto, e mais perto.

(Capítulo narrado por Petrus)

Helena não irá morrer. A menina atrás dos olhos em constelações não irá morrer. Mas vê-la agora dentro do caixão me faz duvidar das minhas certezas mais absolutas.

É um dia inútil de chuva, e a noite começa a preencher todos os lados com a escuridão. As pessoas estão vendo a morte diante de si, e eu só consigo enxergar Helena morta.

E a morte lhe cai surpreendentemente bem. Mas, como eu posso dizer, não combina com ela.

A mãe dela chora. O pai não. Talvez para ele ainda não tenha caído a ficha. E é melhor que não caia. Nós não precisamos nos ater a essa morte que não aconteceu ainda.

O clima fúnebre está em toda parte. Não há como esconder.

Os pais mantiveram em segredo a internação da menina, mas agora todos sabem. Porque sairá nos jornais, não há como evitar. Não foi a melhor maneira de contar também, eu imagino. Mas, quem eu quero enganar?

Não havia maneira pior de isso vir à tona.

As conversas em velórios às vezes são deploráveis.

- Então é verdade?

- Sim, ela estava num hospício, faz mais de mês. Sabia não?

- E o que ela tinha?

- A pobre não batia bem das ideias. Doidinha, doidinha, a coitada.

Percebi a presença de uma mulher entre os dois homens.

- Ela tinha uma doença, é diferente.

Não interferi, mas me peguei acenando a cabeça positivamente.

- Depressão não é doença! – exclamou o gordo mais baixinho dos dois.

- Mas ignorância é – ela disse com os olhos em brasa.

Quem era aquela pessoa que defendia Helena?

Ela os deixou falando sozinhos e acidentalmente – ou seria o destino? – ela esbarrou em mim no caminho.

- Oh – ela disse – me desculpe, não era minha intenção.

Olhos muito verdes em uma cabeleira ruiva ladeando em cachos sua face pálida se abrem em uma expressão de espanto.

Depois do Sol se PôrOnde histórias criam vida. Descubra agora