Capítulo 02: Dia 01

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Onde eu estou?

Ah, estou no lugar sem luz.

Estou sozinho.

E lágrimas se seguiram.

Fui abandonado.

Meu Deus como eu queria que fosse mentira.

Que fosse só um pesadelo ruim, do qual eu acordaria.

Mas era real, eu podia sentir lágrimas reais caindo do meu rosto.

Paredes reais me trancafiando naquele maldito cômodo.

Eu nunca caí num poço, mas aqui deve ser como estar preso no fundo de um.

Então uma estranha sensação de torpor me invadiu lentamente após uma picada estranha em meu braço, meus olhos foram embaçando, um estranho vulto agachado ao meu lado, máscara branca, luvas brancas... Ah entendo. Eu fui sedado. A picada foi uma agulhada. Imagino que esta é a primeira de muitas outras. Imagino muitas coisas.

Meus pensamentos estão embaralhados. Sinto meus olhos pesados demais e sei que eles se fecharam involuntariamente. Meu corpo cede para o lado. O chão frio me abraça de volta.

Meu nível de consciência é quase nulo, mas ainda estou acordado. Que bom, ainda estou vivo. E me agarro a uma luz que só existe na minha cabeça, que diz que eu vou sobreviver a tudo isso.

Sinto mãos me erguerem do chão, mas não tenho forças para abrir meus olhos, para mover meus braços e pernas, me manter acordado já está sendo uma batalha louca, respirar está sendo complicado.

Meus lábios se movem minimamente, mas nenhum som sai deles. Eu não tinha falado desde que o sol se foi. Eu não consigo falar, então tento me convencer de que tudo bem, afinal eu estou sedado. Também não consigo abrir os olhos, porque estou sedado.

Meu estado de semiconsciência me permite sentir ser deixado sob uma superfície macia, que eu deduzo ser uma cama. Há uma luz forte no cômodo capaz de ferir meus olhos fechados.

Onde diabos eu estou agora?

Um frio de gelar a espinha me invade. Credo que freezer. Estamos no verão e me levaram para uma sala onde eu posso realmente congelar.

Uma coberta fina é posta sobre meu corpo. A luz diminui de intensidade. É acho que eu apaguei.

* *

Vozes. Posso ouvir vozes na minha cabeça.

Começo a me sentir muito confusa. Quero apenas abrir meus olhos e ver de onde elas estão vindo.

Meus olhos se abrem lentamente, sendo queimados diretamente por uma forte luz branca. Minhas mãos involuntariamente se erguem numa tentativa de cobrir minha visão tentando me auto proteger e sinto as vozes se esvaírem.

Olho para os lados e vejo que estou em uma sala branca e há outras pessoas me observando do lado de lá do vidro que nos separa. Eles pararam de falar quando perceberam a minha movimentação.

Sento-me, sentindo minha cabeça rodar.

Estou extremamente tonto, e durante alguns segundos tudo a minha volta está completamente embaçado. Minha visão foca tudo lentamente, borrando e normalizando em seguida... Acho que isso significa que continuo dopado.

A maçaneta gira, e fico brevemente feliz por minha audição não ter sido afetada também.

Um homem de máscara e jaleco brancos se aproxima e eu me pergunto que tipo de doença contagiosa eu possa ter para ele estar vestido assim. Em suas mãos há um daqueles bloquinhos que contém a lista dos exames, ou remédios. O encaro apreensiva e não encontro expressão em seus olhos negros e frios como a noite... Eu já disse que detesto a escuridão?

Depois do Sol se PôrOnde histórias criam vida. Descubra agora