O vento frio entra pela janela aberta do carro as cinco da manhã. O dia está amanhecendo. Os motociclistas tomaram a frente e seguiram para encontrar um local de descanso, os carros seguirão em velocidade baixa. Acabei dormindo depois da conversa com Rian, acordei de madrugada e peguei o volante. Ned já estava cansado.
Passamos por poucos infectados, o ônibus atropelou um deles a menos de uma hora, o corpo se dividiu ao meio e a coisa parou de se mover. O rastro de sangue se estendeu por mais de cem metros no asfalto.
Lá fora, capim e árvores crescem aonde um dia foi um pasto, a lavoura destruída pelo tempo, transformada em outra coisa. Casas de Fazenda abandonadas, pequenas cidades fantasmas, carros que nunca mais serão usados. Restos.
Restos de uma época que não volta mais, de uma época aonde achávamos ser inabaláveis. Restos da humanidade agora reduzida.
Lembranças do caos que o mundo se tornou, nada nunca será a mesma coisa.
Estamos todos fadados ao esquecimento.
Olho para o céu, para oque parece uma lua, A Arca. Ela gira na órbita da terra a quase um ano. Inicialmente a ideia era uma viagem interestelar, mas não foi aprovado o projeto. Criaram então um refúgio no céu, a terra ainda é a fonte de recurso, mas pra quem mora lá, nunca mais será um lar.
Periodicamente eles descem aqui para coletar água, matéria prima, e todas as outras coisas que precisarem. As vezes recrutam um ou outro sobrevivente, quando precisam de mais não de obra. E raro acontecer, mas já ouvi falar.
Existe um grupo de pessoas que monitoram A Arca, 24 horas por dia observando-a, esperando por um sinal de esperança. Quando uma nave vem a superfície,um sinal é mandado para todo mundo e quem está perto corre até o ponto de pouso na esperança de ser levado, as vezes tentam entrar escondidos, mas nunca ouvi dizer que alguém tenha conseguido.
Vejo os motociclistas parados em um campo aberto, acho que encontraram um local de descanso.
Foi feita uma contagem em cada veículo, quarenta pessoas morreram no ataque e dezessete foram infectadas. Lara não sabe ainda oque fazer com eles, sugeri que fossem mantidos em segurança e que esperassemos. Oferecemos conforto para os últimos momentos deles e quando chegasse a hora, matamos aquilo no que se tranformassem. Apesar da comocao coletiva, todos concordaram.
Paro o carro próximo ao ônibus, todos descem dos veículos e vejo Nathan e Sam saindo de Moto.
Lara se aproxima percebendo que eu notei a saída dos dois.
- Foram verificar se corremos algum perigo,vão ficar de vigia nas proximidades.
- E é claro que isso não tem nada a ver comigo. - Brinco, eu sei que Nathan está fugindo de mim. O que é compreensível, eu também não quero esbarrar com ele o tempo todo, não com todo esse clima de desconforto no ar.
- Queria oque? - Lara ri. - Você terminou com o cara no meio da porra do apocalipse.
- Você está do lado de quem? - Brinco, lembrando a época de escola aonde achávamos mesmo que assuntos como esse fossem importantes.
Ela olha para trás de mim e faz uma careta.
- E lá vem o príncipe encantado...
Me viro e vejo Rian se aproximando sorridente. A jaqueta de couro marrom apertada no corpo grande, os olhos verdes brilhando como se esse fosse o melhor momento de todos. O cabelo bagunçado e amassado por causa do capacete. Ele chega perto e se curva para ficar na minha altura, enlaça minha pintura em um abraço e me tira do chão tomando meus lábios num beijo doce.
- Acho que é hora de eu ir. - Lara diz saindo de fininho.
Ele me beija sorrindo e depois me põe no chão, passa os braços em volta do meu pescoço e pede para eu ir com ele. Vamos até um lugar reservado, uma construção destruída, que um dia pode ter sido uma igreja pequena. O capim tomando conta do pátio, o musgo cobrindo Boa parte da parede e do chão. Entramos por uma porta que já não existe mais, Rian me empurra contra a parede e prende meu corpo ali. Nos beijamos como nunca antes e segundos se tornam muitos minutos.
- Achei que diria nao. - Ele diz depois de recuperar o fôlego. - Você sempre da uma de certinho. Pensei que fosse querer poupar os sentimentos dele.
- Eu quero. - Respondo. - Mas acho que não tenho tempo a perder.
Rian sorri como uma criança feliz. Sinto seu apito quente no meu rosto. Seus olhos focados nos meus. Ele é tão lindo e eu talvez seja um grande idiota, que no meio de um apocalipse está pensando em transar com um cara.
Nos beijamos novamente, perfeitamente.
Esse é o lugar de aonde eu quero estar, junto dele.
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Mortal
УжасыRepentinamente as pessoas de uma pequena cidade adoecem. Tudo indica que há uma infecção viral se espalhando, o que ninguém esperava é que os infectados se tornariam loucos canibais famintos. Agora os estudantes de uma escola vão ter que lutar par...