O estranho

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A cada segundo, a cada batida do coração a morte está ao nosso encalso. Ela nos caça porque nos quer. Não importa o quanto tentamos evitar, não importa para onde corremos, não há lugar capaz de nos esconder, cedo ou tarde ela vai nos alcançar.

Sinto o toque em meu ombro e desperto agitado tentando me livrar de seja lá o que estava me segurando.

- Calma - Ouço uma voz familiar. - Sou eu, sou eu.

Paro de me debater, o estranho segura meus ombros e tem um olhar preocupado pra mim.

- Esta tudo bem. - Ele diz tirando as mãos de mim.

Assinto.

- Você desmaiou. - Ele fala se levantando. - Tive de traze-lo pra cá.

Observo as paredes brancas com fotografias familires emolduradas nas paredes. Os moveis de sal, a televisão no painel, o carpete marrom e os vasos de flores. Ele me trouxe para dentro de uma residencia.

Estou deitado em um sofá de couro e o estranho sai da sala me deixando sozinho. Levanto do sofá e a primeira coisa que vejo é a luz do sol entrando pela janela de vidro. Droga! quanto tempo eu dormi? Não temos tempo, precisamos sair daqui ou morreremos. O dia amnheceu e eu estava dormindo.

O rapaz volta egurando duas tigelas ele oferece uma pra mim.

- Precisamos comer. - Fala. - Cereal é a unica coisa que tinha. - Ele dá um leve sorriso.

- Não podemos perder tempo, precisamos sair da cidade ou...

- Temos bastante tempo. - Ele me interrompe. - Ainda são sete da manhã.

Respiro fundo.

- A saida leste fica a poucos minutos daqui. - Ele conclui.

Então ele sabe sobre o posto de resgate.

Pego a tigel de sua mão um pouco relutante e ele se senta no sofa começando a comer. Me sento no braço do sofá e o observo.

Ele é tão alto quanto Rian, Seus cabelos são loiros dourados e raspados nos lados, estão molhados e jogados para trás. Ele parece ter acabado de sair do banho e aliás, está usando roupas diferentes das que eu me recordo. Agora jeans e uma camisa cinza sem estampa. Seus ombros são largos e fortes, assim como todo o resto do corpo desenvolvido.

- Meu nome é Alex Torm. - Ele estica o braço em minha direção.

Aperto sua mão.

- Derek Owen.

Sua voz é soa bem, como aqueles dubladores de filmes de herois. Ele demora um pouco os olhos em mim e fico um pouco sem jeito.

- Coma. - Diz e sorri.

Começo a comer. Alex parece ser uma pessoa boa, ele me ajudou, quando poderia simplesmente ter me deixado para trás e imagino que andou bastante comigo, pois estamos longe da fumaça e pelo que ele disse, proximo a saida leste.

- Obrigado. - Falo sério. - Por ter me ajudado.

- É o meu trabalho, não precisa agradecer.

- Você é o resgate? - Pergunto curioso, depois que percebo ele dizer que este é seu trabalho.

- Sim. - Ele me olha novamente. - Eramos mais, mas fomos atacados e morreram todos.

Lembro de ouvir sobre na televisão, quando ainda estava na saa do diretor com Erick.

- Sinto muito.

- E você, como conseguiu sobreviver todo esse tempo?

- Eu estava na escola quando tudo começou. - Relembro o momento do primeiro ataque, todas aquelas mortes e o panico. Meu estomago embrulha. - Eu vi na TV sobre o bombardeio e decidimos sair de lá. Eramos um grande grupo, mas...

- Eu sei. - Ele concorda.

Ficamos em silencio. Volto  analisa-lo. Alex é bonito.

- Você parece jovem pra ser um cara da policia ou seja lá como vocês são chamados.

- Tenho vinte e tres anos e sim, sou um tipo diferente de policial. Nós somos treinados apenas para resgates de risco como esses. - Ele explica.

Assinto.

Termino meu cereal e coloco a tigela sobre a mesinha de centro.

- Estou com sede.

- A cozinha fica ali. - Ele aponta para uma porta proximo.

Agradeço e sigo para lá. A cozinha é como todas as outras, mesa, armario, pia, fogão, geladeira. Tudo bem organizado. Acredito que a familia que morava aqui não teve problemas em lidar com canibais em sua residencia. Não tem sinal de luta nem nada parecido.

Pego um copo e ligo a torneira. Percebo que a geadeira está desligada. Vou até o interruptor só para ter certeza. Sim, não tem energia.

Alex entra na cozinha trazendo as duas tigelas e as coloca na pia.

- Por que as trouxe para a pia? - Pergunto. - Isso não importa mais.

- Força do habito. - Ele dá de ombros.

Sorrio.

Ele tem um olhar diferente do que eu estou acostumado, parece um predador dócil. Seus olhos são profundos e ele sempre tem um sorriso no rosto.

- Então quer dizer que você, deste tamanho todo conseguiu vagar sozinho por essas ruas sem ser devorado por um canibal? - Fala em tom de brincadeira se encostando na pia enquanto eu dou um gole na água nervoso. Por que estou nervoso?

- Não me saí tão bem assim. - Falo. - Afinal se não fosse por você eu estaria caido em algum lugar lá fora.

- Vi homens maiores e mais fortes serem devorados com facilidade. - Ele cruza os braços e sorri de lado. - Você matou alguns dees, ou apenas fugiu.

- Matei sim. - Falo e ele levanta as sobrancelhas surpreso. - Cinco eu acho. - Tento contar mentalmente, quatr na sala do diretor e um na quadra, acertei outros na rua, mas não terminei de matar, sempre Néd o Rian quem terminavam de fazer.

- Também matei alguns, antes de acabar as munições das nossas armas. Depois tudo o que fizemos foi fugir.

- Eu não usei armas de fogo.

Sorri convensido. Pelos nosso olhares e sorrisos, imagino que estamos flertando.

- Apenas um cadeira quebrada e uma tesoura.  - Concluo.

Ele se afasta da pia e se aproxima de mim. Não sei se fico parado ou se me afasto.

- Gostei de você baixinho.

Alex diz olhando nos meus olhos, depois sorri e volta para a sala.

Recupero o folego e me dirijo até lá. Eu estou mesmo flertando no meio de todo esse caos? E o que aconteceu com minha paixão pelo Rian?

- Temos que ir. - Falo.

- E vamos. - Ele se vira para mim com um facão na mão me oferecendo.
Em sua outra mão há um machado de cabo de madeira. - Encontrei por aqui.

seguro o cabo do facão e ele solta. Sinto o peso do aço e sorrio.

Isso vai ser divertido.

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