SOBRE UM LORDE E SEU PRIMEIRO AMOR [COMPLETO]

06. DESCOBERTA NÃO INTENCIONADA

Samantha voltou do encontro com o vizinho bem mais cedo do que eu, e provavelmente ela mesma, esperava. Era pouco mais de meia-noite, e sei disso porque ainda estava acordada, maratonando o Reality Show das três ex-esposas do astro da música da década de 1990, Laurent Wasserman.

Quando percebi que ela tinha voltado para casa por causa da barulheira que ela sempre causa quando sobe a escada, fiquei bastante tentada a ir atrás da Sam para saber o que aconteceu e o que a fez voltar mais cedo, mas subir até o andar de cima da casa, onde fica seu quarto, é um aborrecimento que eu prefiro evitar quando posso.

Assim, reprimi toda a minha curiosidade, fechei os olhos e adormeci com a ideia de lhe interrogar pela manhã. A questão é que, tendo chegado mais cedo ou não, Samantha não levanta no mesmo horário que eu e Lucy acredita que ela está de ressaca (para desespero do nosso pai). Por causa disso, tenho que guardar minhas perguntas por mais tempo e tentar me distrair com outras coisas enquanto a Bela Adormecida não desperta.

Tento fazer isso jogando algumas partidas de Mundo Onírico, derretendo o meu cérebro com o Reality Show das ex-esposas do Laurent Wasserman e até relendo as minhas edições favoritas de Circo da Morte e jogando uma bolinha de lã para Malfoy perseguir pelo gramado do jardim. Porém, o que realmente me faz esquecer toda a minha curiosidade acerca do que pode estar rolando entre minha irmã e o vizinho bonito é o outro vizinho bonito. Ou melhor: a companhia do outro vizinho bonito.

A manhã está quase no fim quando duas pessoas saem da residência ao lado e, ao passarem pelo pátio e ocuparem espreguiçadeiras próximas da cerca viva que separa as duas propriedades, consigo vê-los de onde estou: é o rapaz que chegou com Lucas na semana passada, cujo nome eu ainda não sei. Ele está acompanhado de uma garota alta e extremamente bonita. O tipo de garota que você só espera ver na televisão, como as filhas do Laurent Wasserman ou a Margot Philips.

"Então você está preocupado que o Lucas possa estar sofrendo por causa do Benji e não queira admitir isso?" A garota pergunta. Ela tem uma voz meio rouca, mas fala com evidente precaução, como se estivesse pisando em um terreno perigoso.

Juro que não é intencional o fato de eu acabar bisbilhotando a conversa alheia. Eu estava exatamente aqui, perto do muro e procurando pela bola de Malfoy, quando ouvi os passos e dei uma olhada por uma brecha na cerca viva, o que me permitiu vê-los. Não é minha culpa que tenham escolhido sentar perto de onde estou, tampouco que tenham decidido conversar.

Mas é minha culpa não me afastar e permanecer ouvindo tudo escondida, eu admito.

"Ontem ele chorou", o rapaz responde, dando ênfase na ação para evidenciar o quanto aquilo era estranho. "E foi do nada. Ele estava para sair e ir à uma festa e então... Chorou".

"É algo natural, Henry. Ele está preocupado porque o melhor amigo não está bem", a garota diz, deixando-me pensativa. É verdade que só encontrei Lucas duas vezes, mas eu jamais imaginaria em nenhuma dessas vezes que ele estaria preocupado com um melhor amigo que não está bem. Ou com qualquer outra pessoa. Ele agiu como um bobo inabalável e ontem mesmo estava em uma festa, então... Fico surpresa. "Mas eu entendo a sua preocupação. Talvez devêssemos sugerir de ele tentar uma consulta psicológica de novo?".