02. VIZINHOS INTERESSANTES

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É um dia quente de verão em que a temperatura na pequena Burke Hills passa dos 35°, então me imagino aproveitando o sol em uma espreguiçadeira do Clube Cloud9 enquanto leio a edição do mês do meu quadrinho favorito, Circo da Morte

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É um dia quente de verão em que a temperatura na pequena Burke Hills passa dos 35°, então me imagino aproveitando o sol em uma espreguiçadeira do Clube Cloud9 enquanto leio a edição do mês do meu quadrinho favorito, Circo da Morte.

Eu certamente poderia estar lá agora, divertindo-me com a minha irmã e os amigos dela, ao invés de estar sentada neste assento e bisbilhotando a rua vazia enquanto Dua Lipa canta que tem novas regras em meus fones de ouvido. Porém, neguei o convite quando Samantha me convidou no início da semana alegando que "seria divertido" e continuei negando até ela sair há uma hora para encontrar o seu grupo.

Por causa disso, estou de mal comigo mesma agora.

Fico pensando nas possibilidades de ser realmente divertido se eu tivesse aceito ir, mas, no fundo, sei que é só o "se" me atormentando. Todas as vezes anteriores em que aceitei sair com Samantha e algum dos seus amigos, a primeira coisa que fiz ao voltar para casa e ficar sozinha foi chorar.

Não é nem que eles tenham feito algo que justificasse isso de propósito. Na maioria das vezes, sei que eles não fazem por mal. Mas a questão é que, quando saio com Samantha e os amigos dela, mais cedo ou mais tarde, eles propõem algo que não posso fazer da mesma forma que eles (que tal alugarmos bicicletas no parque? Por que não vamos à costa para ver o mar? Que tal nadarmos na piscina do clube? Porque não vamos dançar na pista?) e então ninguém consegue esconder o clima de desapontamento quando Sam chama atenção para o fato de que, diferente deles, eu preciso de muletas para me locomover.

Não é nem que eu não consiga fazer a maioria das coisas que são propostas - na verdade, eu danço muito melhor do que a Sam até! -, mas é que ninguém tem paciência para entrar no meu ritmo ou me percebe como alguém capaz. Sempre que propõem algo, antes mesmo que eu possa dizer que aceito, eles me encaram - na verdade, encaram as minhas pernas - e concluem sozinhos que eu não consigo.

Por isso, prefiro ficar em casa.

Aqui eu não sou a diferente, a limitada, a pobre Hermione cuja vida acabou por precisar de muletas para andar (sério, as pessoas deviam pensar antes de falar!). Aqui, no domínio cor-de-rosa do meu quarto, eu sou tão incrível quanto a personagem que a minha mãe quis homenagear ao me chamar assim.

Mas, como nem tudo são flores, também sou solitária.

Por mais atenção que meu pai e minha irmã tentem me dar, os dois têm os seus compromissos que não me envolvem. Por causa disso, na maior parte do tempo, acabo ficando sozinha ou na companhia silenciosa de Lucy, que é quem nos ajuda com as tarefas de casa.

Fora essas pessoas, o meu círculo social abrange apenas dois antigos colegas de escola (que não falam comigo desde que nos formamos no Instituto Acadêmico de Burke Hills), a senhora Matilda da casa ao lado, o grupo com quem costumo jogar Mundo Onírico de vez em quando e o fã-clube oficial das HQ 's de Circo da Morte.

SOBRE UM LORDE E SEU PRIMEIRO AMOR [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora