Rainha Do Norte

Lobo, Leoa, Veado, Truta

–Ela seria minha. -disse Robert olhando para a estátua de Lyanna. -Se não fosse pelo maldito dragão ela seria minha esposa!
–O passado deveria ficar no passado. Lyanna já se foi, Robert. Você tem uma bela rainha e cinco lindos filhos, isso é uma benção.
–Aquela frígida nunca vai ser uma benção na minha vida! 
–Robert...
–Eu sei, eu sei, "não deveria falar assim da sua esposa, blá blá blá", mas Catelyn não é como a Cersei é para você. Ela é gelada, mais fria que esse gelo do Norte. Falta nela... Sei lá, algo que seja mais interessante.
–Talvez seja a sua cisma em nunca tentar ser feliz com o que tem, já pensou nisso?
–O que eu tenho para me contentar? Eu só queria comer, beber e ser feliz com Lyanna no meu castelo e agora sou um rei em um trono que nunca quis, a mulher que eu amo morreu longe de mim e me casei com alguém que não consigo gostar. Nada vai compensar a ausência de Lyanna. Nem os Sete Reinos podem chegar a altura da falta que Lyanna faz.
Ned entendia. Ele viu nos olhos do amigo o quanto a guerra havia arrancado dele. Robert Baratheon era um homem quebrado, carregava dentro de si as marcas das perdas sofridas. E por mais que tentasse compensar o vazio com comida, ou bebida, ou mulheres, nada disso podia preencher o buraco dentro de si.
–Eu já sonhei que chegava lá na torre para salvar Lyanna, Ned. Ela segurava minha mão, eu a colocava em meu cavalo e nós saíamos em direção ao horizonte. -ele deu uma risada triste - Acordei chorando por que não era verdade. Eu queria ter sido para ela o herói das canções. Eu falhei com Lyanna e acho que nunca vou me perdoar. Se eu a protegesse melhor, talvez ela estivesse viva.

–A rainha Cersei está na sala de costura, Vossa Graça. -apontou uma das criadas.
–Obrigada. 
C

atelyn esperava ver Cersei bordando algo, e ficou surpresa ao ver Cersei cercada de livros e folhas, enquanto Rickon ao lado dela brincava com alguns brinquedos.
–Oh, olá rainha Catelyn. Desculpe a bagunça, estava calculando o investimento necessário em algumas minas para ter um bom retorno financeiro.
–Você quem cuida dessa parte?
–Cuido da maior parte dos cálculos, sempre fui muito boa com números. Nisso Tyrion nunca me venceu, sempre somei melhor que ele.
Catelyn  não podia evitar a pontada em seu coração ao ouvir isso.
–Robert jamais colocaria tal confiança em mim. Ele acha que a única coisa que uma mulher tem cérebro para fazer é costurar, e costurar, e costurar.
Cersei entendia. Odiava as aulas com a septã enquanto seu irmão aprendia a manejar uma espada e nunca entendeu por que os ândalos eram tão obcecados em fazer suas mulheres costurarem o dia inteiro.
Qual era o objetivo disso? 
Deviam ser pessoas bem chatas e sem um pingo de criatividade para pensarem que a melhor forma de ocupar uma mulher era a obrigar a fazer uma tarefa tão monótona.
Cersei adoraria obrigar os homens a passarem um dia inteiro costurando. Duvidava que qualquer um deles suportaria.
–Ned é um marido... Diferente da maioria.
–Percebesse. -Catelyn falou com cansaço. 
Cersei, tentando a animar, fez Catelyn se sentar com ela e conversou sobre formas de administrar estoques antes do inverno.
Catelyn ficou mais animada, dando algumas sugestões úteis, e ambas gastaram horas falando sobre as melhores formas de gerir seus reinos.

Robb e Brandon travavam uma disputa amigável. Ambos eram bons com suas espadas.
Lyarra e Arya assistiam a luta.
–

Parece até uma piada, uma princesa anã. -falou Joffrey com deboche.
Para sua surpresa, logo uma lâmina saída da bainha que Lyarra carregava estava em seu pescoço.
–Você me acha uma piada principezinho? Por que não duelamos? Assim a anã aqui pode mostrar a piada que é para um convidado tão ilustre quanto você!
Robb parou a luta e deu um tapa ao pé do ouvido do irmão, o que o fez soltar um grito fino de dor.
–É sério que você ofendeu os Starks desse jeito Joffrey? Estamos visitando o reino deles, no castelo deles e você ofende a filha do melhor amigo de nosso pai? Você não cansa de passar vergonha? 
Robb puxou Joffrey pela orelha sem nem se importar com os olhares a sua volta.
—Com licença, mas vou levar esse moleque para ter uma conversinha com o nosso pai, esse tipo de comportamento é inadmissível!
E ele o arrastou pela orelha, com Joffrey choramingando e pedindo para não ser levado até o pai.
–Isso foi a coisa mais ridícula e patética que já vi alguém fazer. -disse Arya, sem acreditar que alguém desse tamanho pudesse se comportar como um bebê chorão.
–Ainda bem que o rei tem Robb como o seu herdeiro. Já imaginou esse bunda mole com uma corôa? Seria um pesadelo! -concordou Lyarra.

Tudo parecia estar indo bem entre as famílias Stark e Baratheon.
Mas o ponto de ruptura, aquilo que selaria o novo destino de cada um deles aconteceu de uma forma que ninguém imaginava.

Tommen gostava do desafio de escalar.
Ele era realmente bom nisso e se divertia.
Mas naquele dia...

O sinal foram os lobos, eles começaram a uivar e chorar.
Depois gritos de horror e pânico.
–O príncipe Tommen! Ele caiu da torre!
O alvoroço e preocupação foi imenso.
A vigília envolta do quarto, enquanto a família esperava aflita do lado de fora, foi longa.
–Tommen vai sobreviver. Mas por enquanto ele vai estar em coma.
–Eu disse para ele não ficar escalando! -gritou Cersei com desespero.
"Mas Tommen nunca escorregou antes...", insinuou uma voz, atrapalhando os pensamentos angustiados de Cersei.
Quando ninguém estava olhando, ela foi até a torre.
Subiu a escadaria.
Aquele lugar não era limpo a trmpos.
Mas havia um canto sem poeira.
Cersei chegou mais perto. Fios de cabelo no chão.
Fios dourados e curtos. Fios ruivos e longos.
O ódio tomou controle.
–Terei suas cabeças!