Rainha Do Norte

O Susto, e a Revelação

Ned suspirava, aborrecido, arrependido da ideia de contar para todos que aquele bebê era seu filho.
Sua esposa na frente dos outros era fria e mal falava com ele. Mas quando estavam a sós gritava e reclamava sem parar em sua cabeça para mandar Jon ser criado em outro lugar.
Não havia uma conversa em que ambos não brigassem. Mais especificamente, em que Cersei não brigasse com Ned.
Ela estava uma fera com o marido por querer manter Jon perto de Myrcella.
E assim foi nas primeiras semanas em que chegaram a Winterfell.
Cersei não gostava do menino ali. Ele era afinal um homem, e sua flor dourada não podia herdar nada. Claro, se ela tivesse apenas essa filha com certeza o direito de Myrcella como uma verdadeira nascida era inalienável. Mas ela sentia medo que Eddard legitimasse o filho para ter um herdeiro homem, ele era um rei, não precisava da aprovação de Robert para legitimar um filho dele mesmo.
Ela não sentia vontade de dormir com o marido, não sabendo que ele esteve com outra.
E se tem uma coisa que Cersei não vai de jeito nenhum admitir é ter a filha ameaçada por um moleque nascido de outra mulher.
Ela jurou a si mesma em silêncio. Se o menino fosse uma ameaça, ela mesma daria um jeito de eliminar Jon Snow.

Mas o rumo das coisas mudaria naquele castelo, e entre o rei e a sua rainha graças a um evento preocupante.
Uma mulher, chamada Mirri, foi até rei e pediu ajuda. Ned concedeu e lhe arranjou um trabalho na cozinha.
Dias depois, quando Cersei foi até o berçário pegar Myrcella, se deparou com uma terrível cena.
A

ama de leite no chão, morta com uma faca encravada no peito e os berços vazios.
Cersei começou a gritar de desespero.
Os soldados correram. 
Cersei arranhou o próprio rosto, agoniada, e caiu de joelhos.
–Myrcella! Myrcella!
Ned entrou correndo no quarto nesse momento.
Ao perceber o que aconteceu, Ned deu ordens aos guardas, ajudou a esposa a se pôr em pé e ordenou que a levassem ao meistre.
–Alguma notícia da investigação?
–A tal Mirri não apareceu hoje.
–Ela nao deve ter ido longe com os bebês nesse frio, vamos pegá-la!
Depois de horas procurando, cachorros especialmente treinados sentiram o cheiro das roupas que Mirri deixou no castelo e deram o sinal.
Ned se deparou com a mulher segurando os bebês em cada mão, fazendo uma longa oração diante de uma fogueira.
Percebendo que ela pretendia sacrificar os dois, se aproximou lentamente e quando estava perto o suficiente arrancou os dois das mãos dela, lhe dando um chute forte que a fez cair no chão.
Ela se levantou e tentou correr, mas foi cercada pelos soldados.
–Prendam essa maldita nas masmorras!
Quando voltaram para o castelo já era praticamente noite.
Cersei estava aflita do lado de fora e foi com alívio que viu Myrcella e Jon no colo de Ned.
Ela correu em direção a ele, pegando a filha, e a abraçando com lágrimas nos olhos.
Quando viu Mirri acorrentada, a olhou com fúria. A mulher até estremeceu, pois via na rainha o desejo de matá-la ela mesma.
–Vamos Cersei, não comi nada o dia inteiro e creio que você também não. Mirri foi impedida, as crianças estão salvas.
–Eu quero aquela maldita morta! Eu mesma quero por fogo nessa desgraçada!
–Você terá justiça minha rainha, eu juro.
Eles entraram. Cersei não quis se separar de Myrcella, então comia com ela em um cesto ao lado.
Ela acariciou a bochecha da filha, sem poder acreditar que quase a perdeu.
Seu coração quase falhou esse dia. Por alguns momentos pensou que o pior podia ter acontecido e a ideia a aterrorizou. Cersei não aguentaria uma dor assim.
Quando finalmente estava tarde demais para manter a bebê consigo, levou a filha para o próprio quarto, que estava preparado com um berço. Esse dia ela não tiraria o olho de cima da menina.
Foi até o berçário pegar as coisas que talvez ela fosse precisar e ouviu a voz de Ned, que falava com o pequeno Jon.
–Ah Jon, me perdoa por ter quase falhado com você e com minha filha. Eu devia proteger vocês melhor. Quase falhei com você e com a promessa a minha irmã.
"Espera... Promessa a Lyanna?"
–Prometi que você seria como meu filho e você quase morreu por minha causa.
–Como se fosse seu filho? -falou Cersei atrás dele, de olhos arregalados.
–Cersei! Quanto você ouviu?
–Como se fosse seu filho... Promessa a sua irmã...
A conclusão fez Cersei ficar chocada.
–O sumiço da Lyanna... Esse bebê... Como se fosse seu filho... Promessa...
Ela saiu correndo e foi para o quarto.
Ned bateu em sua porta e implorou para conversar com ela.
Cersei depois de um tempo abriu, e o deixou entrar.
Brava, deu um tapa no rosto dele.
–Que merda você tinha na cabeça?
–Cersei por favor me entenda, ele é meu sangue, não podia arriscar.
Nervosa, começou a andar de um lado para o outro no quarto.
–Ele é do Rhaegar não é?
Ned assentiu com tristeza.
Ela caiu sentada na cama.
–Que merda Eddard!
–Eu sei que estou exigindo muito agora, mas por favor Cersei, eu...
–Você acha que eu sou burra? Você acha que vou correr até seu amiguinho bêbado e contar pra ele? Faça-me o favor! Que ideia! Eu seria a rainha das tolas! Se eu conto você morre, nós perdemos a corôa e o Norte, e Myrcella fica sem pai e sem título de princesa! Acha que sou estúpida pra colocar tudo o que temos a perder para contar uma informação que no fim não me trás benefício nenhum? 
—Me desculpe Cersei. Eu devia ter mais confiança. Se não posso confiar na mulher que fiz de minha rainha não posso confiar em mais ninguém.
–Exatamente! Olha o que sua mentira sobre esse assunto nos causou! Eu estava tão infeliz, sentindo que não podia suportar chegar perto de um quebrador de votos no casamento! Estava afastada de você, e pretendia me manter assim. Me diga, como iríamos para a frente como rei e rainha de um povo se eu não confiava em você?
–Eu errei em te esconder. Me perdoe por isso.
Ela respirou fundo.
–Ned, se queremos que dê certo, vamos ter que confiar um no outro. Como eu vou te apoiar desse jeito?
–Eu prometo nunca mais esconder nada de você. Eu prometo ser um marido melhor, um que mereça.
–Eu quero que você seja fiel, e verdadeiro comigo. É pedir demais um marido leal?
–Não, não é. Prometo que serei um bom marido.
–Eu quero ser uma boa esposa e uma boa rainha, mas se você não colaborar não vou conseguir Ned.
–A partir de agora vamos construir uma história diferente. Eu juro.
–Vou confiar. Não me decepcione.
E então, as coisas começaram a mudar.