Capítulo 2. Senti saudade

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Rudá, Gruffin – 1829.

Detrás das cortinas no fundo do palco, Caleb espiou o salão que já estava lotado com as pessoas mais influentes da alta sociedade de Gruffin, todos ali para celebrar o aniversário da duquesa viúva. Caleb só aguardava a sua deixa para entrar e ocupar o piano. Além de Anthony e Sophie, ele não tinha visto mais ninguém da família e estava muito ansioso para isso, e também para tocar, fazia cinco anos que o pai havia falecido de maneira inesperada, deitou-se para dormir ao lado da esposa e não acordou na manhã seguinte, e ele não tinha mais tocado piano, isso sempre lhe trazia memórias que, apesar de serem felizes, o deixavam triste, mas naquele dia ele tocaria, resgataria a tradição da família e tocaria a primeira música do baile em homenagem à sua mãe que estava fazendo aniversário. Ele arrumou seu smoking pelo que devia ser a décima vez naquela noite, arrumou a gravata-borboleta e passou a mão pelo cabelo úmido – suas mãos estavam suando –, repassou todas as notas na sua mente e fez movimentos com os dedos à sua frente, como se tocasse o piano.

O maestro fez um pequeno sinal para ele, convidando-o ao palco, e ele entrou discretamente, sentando-se ao piano sem ser notado por muitas pessoas. Então o maestro se apresentou e disse que as danças da noite começariam, quando ele disse que a tradição de terem a primeira dança ao som de uma música com um Campbell ao piano, todos olharam para Caleb, que sentiu-se corar com toda a atenção, e então ele se concentrou na música que ele começou a tocar.

Ele ergueu o olhar durante a música e encontrou a mãe abraçada com Anthony, chorando por ver o filho de volta em casa. Os irmãos estavam todos próximos de Kate, todos admirando Caleb e provavelmente imaginando como ele estava parecido com o pai. Ele tinha deixado o cabelo crescer durante o seu tempo na Itália, em uma tentativa de ficar mais diferente do pai, mas a semelhança entre os dois estava em todo o seu corpo e rosto, não apenas no cabelo ruivo ou no corte deste. Ele então ele sorriu para a mãe e voltou a se concentrar no piano.

Era bom estar de volta em casa, mal tinha chegado, mas já se sentia diferente. Ali ele sabia que podia contar com qualquer um da sua família, independentemente do que precisasse, ele teria o apoio dos irmãos e da mãe para o bem ou para o mal. Não que ele não tivesse isso em Roma, Hugh era seu melhor amigo e sempre o ajudou, mas era diferente, ele tinha Hugh em alta conta por tudo que já viveram juntos, o amigo dividia o sonho dele de ter sua própria galeria de arte e sempre o apoiou, mas era diferente.

Quando a música acabou, todos os casais no salão aplaudiram e Caleb se levantou e fez uma reverência antes de descer do palco, sendo agarrado pela mãe antes mesmo de conseguir dizer oi. Kate o abraçou tão forte que ele pensou que seu pescoço fosse se partir, era um abraço carinhoso e cheio de saudade, que fez a culpa atingi-lo como uma bala no peito por ter passado tanto tempo longe, não era sua intenção causar sofrimento para a mãe com o seu distanciamento, mas ele se sentia mal mesmo assim.

- Senti muita saudade. Você está mesmo inteiro? – Foi a primeira pergunta de Kate.

- Está, eu mesmo verifiquei. – Anthony respondeu antes que Caleb pudesse dizer algo. – Dois braços, duas pernas, cabeça sobre o pescoço e provavelmente um cérebro escondido dentro do crânio. Ele apenas não sentiu saudades da família.

- Isso não é verdade. – Ele se defendeu. – Eu estava trabalhando, fazendo a minha carreira, não tenho um título e um ducado para garantir a minha fortuna para o resto da vida. Mas prometo que agora pretendo passar alguns meses em casa.

- E por que resolveu voltar só agora, de surpresa? – Kate perguntou, avaliando o filho para se certificar de que realmente estava inteiro.

- Porque é seu aniversário. – Ele alegou com a mesma certeza de que dizia que o dia era claro e a noite escura. – Aliás, meus parabéns.

Paixão ao pôr do solOnde histórias criam vida. Descubra agora