Epílogo

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Rudá, Gruffin – Dezoito anos depois.

Caleb já ouviu o som do piano antes mesmo de entrar em casa.

Depois que receberam o dinheiro do dote de Grace, Caleb e ela compraram uma casa em Mitchells Valley, um bairro de classe média da capital, e então começaram a construir a família deles. Amelie nasceu pouco depois de completarem um ano de casados, ela e a sua gêmea, Sarah, eram a cara do pai, com seus cabelos ruivos, mas os olhos eram uma mistura dos de Caleb e de Grace, a maioria das pessoas diziam ser azuis, mas tinham um pequeno toque de verde. Dois anos depois delas, nasceu Mattew, e, três anos depois, Alexander, os dois meninos tinham os cabelos loiros como os da mãe. E então a família parou por aí. Todos os filhos aprenderam a tocar piano com Caleb, mas, julgando pela suave melodia que chegava aos ouvidos dele, era Ammy quem estava ao piano.

Um. Dois. Três. Quatro. Ele contou os degraus para a varanda na frente da casa, sorrindo ao se pegar fazendo isso, a mania de Grace tinha passado para ele. Então ele abriu a porta da frente e entrou na casa, a melodia ficando mais alta, e caminhou para a sala de estar, onde Ammy tocava e Sarah cantarolava "Sigh no more, ladies" com Grace. Caleb parou na porta com um sorriso curvando seus lábios, Grace estampava um sorriso de pura felicidade que fazia valer a pena cada segundo do dia ruim que Caleb tinha tido, aquela música era a primeira que Caleb tinha ensinado Ammy tocar ao piano, quando começaram as aulas aos quatro anos dela e de Sarah.

E então, Alex desceu a escada da casa, correndo e com Snow, a cadela da família, correndo atrás dele, e chamou a atenção de todos. Grace olhou para Caleb escorado no batente da porta e sorriu ao levantar-se e aproximar-se do marido.

- Como foi seu dia? – perguntou ela, já tirando a casaca do marido e dando um beijo no canto dos lábios dele.

- Ótimo. – Mentiu Caleb, fingindo entusiasmo, ele nunca dizia que tinha tido um dia ruim, não gostava de preocupar ela.

- Papai! – Sarah chamou, sentada no sofá e olhando para a irmã gêmea ao piano. – Diga para Ammy que ela desafinou no segundo verso, acho que ela pulou uma nota novamente.

Caleb olhou para Grace, que seguia para o vestíbulo da casa com a casaca azul-marinho dele na mão, então ele suspirou e adentrou na sala de estar.

- Na verdade, querida, eu não ouvi o segundo verso. – Ele disse. – Cheguei apenas no quarto ou quinto, mas duvido que Ammy tenha pulado alguma parte.

Amelie nunca errava uma nota no piano, nunca. Ela lançou um olhar debochado para a irmã e mostrou a língua, dando de ombros ao ver a repreensão no olhar do pai. Alex, que tinha saído pela porta dos fundos para levar Snow para o quintal, apareceu na sala de estar com um sorriso nos lábios.

- Sarah tem inveja porque Ammy é melhor que ela ao piano. – disse o caçula da família.

Caleb sabia que aquilo iria dar uma boa discussão entre os filhos, mas deixou que eles prosseguissem, não tinha forças para repreensões naquele dia.

- Disse o pirralho de quinze anos que não sabe diferenciar um Dó de um Sol. – Sarah falou rispidamente.

- Sol não é aquilo que brilha no céu? – Alex perguntou com sarcasmo e Caleb não pôde evitar o sorriso que curvou seus lábios, por mais ruim que a piada fosse.

Ammy se levantou em meio a uma gargalhada fingida e passou pelo irmão parado no meio da sala de estar, dando um tapinha no ombro dele.

- A sua sorte, pirralho, é que não depende da comédia para viver, se dependesse, já teria morrido de inanição. – disse a mais velha.

O caçula iria rebater, Caleb sabia disso pois não era do feitio dele desistir fácil de uma briga, mas Grace apareceu de novo na porta e cruzou os braços, dando um olhar feio para os filhos. O olhar dela encontrou o de Caleb um segundo depois, a repreensão já não estava mais ali.

Paixão ao pôr do solOnde histórias criam vida. Descubra agora