Prólogo

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Roma, Itália – 1829.  

Caleb colocou a carta da irmã sobre a escrivaninha e tomou um gole do seu café

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Caleb colocou a carta da irmã sobre a escrivaninha e tomou um gole do seu café. Como podia fazer um ano que ele não voltava para casa? Parecia que tinha chegado à Roma há um mês, no máximo. Pensando bem, talvez fizesse um ano mesmo... Emma sempre fora muito boa em guardar datas, diferentemente dele.

Santo Deus, fazia mesmo um ano. Joe tinha tido um filho, Emma tinha tido um filho, ele não esteve lá para o nascimento de nenhum dos sobrinhos. O que mais teria acontecido em Gruffin na sua ausência? Catarina teria se casado? Não, Emma mencionaria isso na carta, e Cat era muito nova, devia estar com dezoito agora, mal devia ter debutado, e quem em sã consciência iria querer se casar com Catarina Campbell? Não que a irmã fosse uma dama ruim ou que não tivesse seus encantos, mas ela era uma pessoa de opiniões fortes e muito decidida sobre o que queria, nunca aceitou se curvar aos outros e não aceitaria um marido que tentasse controla-la. Emma também era parecida, mas mesmo assim acabou encontrando alguém que a amasse muito e que a aceitou como ela era.

Ele começou a se sentir mal por ter passado tanto tempo longe, mas a carreira de Caleb como pintor tinha decolado nos últimos meses, ele estava pintando e expondo seus quadros em diversas galerias de toda a região de Roma, mas estava na hora de voltar para casa e seguir seus planos em Gruffin. Ele trabalhou para conseguir uma boa reputação no exterior e ganhar dinheiro para abrir sua própria galeria, e queria fazer isso em Gruffin. O pai havia deixado uma boa herança para ele, assim como para os outros irmãos, mas ele queria sentir que realmente trabalhou para conseguir aquilo, não que só torrou sua herança durante a sua vida toda e viveu sem propósitos. Todos os irmãos tinham seus legados, Anthony era um duque e Joe administrava as propriedades da família, Caleb sentia que também precisava de algo para ser lembrado quando já não estivesse no mundo, sua arte seria a responsável por mantê-lo vivo na casa de outras pessoas e, com sorte, talvez até em um museu.

Ele sentia falta dos irmãos, tinha vontade de conhecer os novos sobrinhos e rever os outros que já conhecia, ele sempre amou muito todos eles. Da última vez que esteve em casa, Alice, sua cunhada, estava grávida, e Emma, sua irmã, também devia estar, mas ainda não havia descoberto. Mas todos em Gruffin o olhavam como apenas uma cópia do pai, ninguém enxergava Caleb Campbell, apenas um segundo Liam ou o filho idêntico ao duque falecido. Caleb não os julgava, até porque ele era mesmo idêntico ao pai, não só fisicamente como temperamentalmente, ele tinha o cabelo ruivo e os olhos azul-claro do pai, não era muito de sorrir e era muito reservado, alguns até o jugavam tímido, e ele amava e admirava muito o seu pai, mas a verdade era que ele queria que as pessoas o vissem apenas como uma pessoa muito parecida com o pai, não apenas o reflexo do que Liam foi.

A porta do apartamento abriu e Caleb se virou para ver Hugh, seu amigo que morava no mesmo apartamento que ele, entrar cambaleando com um sorriso bêbado no rosto. Ele se levantou e passou um braço pelos ombros do amigo para ajudá-lo.

- Você já fez café? – Hugh perguntou indo para a cozinha e se livrando de Caleb, jurando não precisar de ajuda. – Café ajuda com a ressaca.

- Não beber também ajuda com a ressaca, dizem que é até mais eficiente. – Caleb respondeu, irônico. – Se continuar bebendo e se deitando com qualquer uma desta forma, todas as noites, vai acabar morrendo antes de completar trinta anos, ou com um problema por conta do álcool, ou com alguma doença. Você não pode passar todas as noites se embebedando e com o pênis dentro de uma mulher qualquer que achar pela rua, tem encomendas para entregar.

- Cal, você só diz isso porque nunca colocou o seu pênis dentro de uma mulher qualquer. – Hugh rebateu com um sorriso malicioso nos lábios. – E as minhas encomendas estão em dia, não se preocupe.

Caleb revirou os olhos e resolveu deixar Hugh sozinho, aquele assunto nunca acabava bem entre os dois, Hugh era um libertino da pior estirpe e Caleb já tinha cansado de expor sua opinião sobre o assunto.

- É sério, Cal. – Hugh gritou. – As mulheres caem de joelhos para caras ruivos, você faria sucesso. Ainda mais com esses olhos azuis.

Hugh tinha a pele de um tom bronzeado naturalmente, seus cabelos eram loiros escuros e ele sempre usava cavanhaque, as mulheres caíam aos pés dele com apenas um olhar daqueles olhos azul-esverdeados e uma palavra dita com a voz rouca dele. Mas Caleb não tinha a menor pretensão de ser como o amigo, ele fora criado para ser um perfeito cavalheiro, não um libertino; seu irmão podia ter sido um devasso quando mais novo e solteiro, mas esse não era o perfil de Caleb, ele sempre fazia o que era esperado dele e não envergonhava sua mãe com boatos sobre suas atividades desonrosas. E, naquele momento, o que era esperado dele era o seu regresso para casa, então seria isso que ele faria.

- Vou voltar para casa ainda esta semana. – Ele anunciou para o amigo. – Recebi uma carta da minha irmã e preciso voltar. Chegou a hora.

Hugh olhou para ele com desconfiança e arqueou uma sobrancelha, pousando a xícara de café na bancada da cozinha.

- Chegou a hora?

Caleb assentiu.

- Desta vez eu não volto.

Hugh se levantou da sua cadeira e olhou ao redor da cozinha, como se procurasse por algo, então coçou a nuca.

- Eu estava contando com a sua metade do aluguel para o próximo mês. E agora? – Ele indagou com muita preocupação e Caleb revirou os olhos.

O apartamento deles não era luxuoso, ficava em um lugar de classe média em Roma, não muito caro, mas também não nos bairros pobres. Era apenas um lugar onde Caleb podia passar um tempo quando estava na cidade, e agora que já fazia um ano que não ia para Gruffin, sentia que aquele lugar era sua casa, mas sabia que não era, sua casa era com a sua família, o lugar barulhento e cheio de sobrinhos correndo de um lado para o outro e a mãe aplaudindo os netos por coisas que castigava Catarina por fazer quando mais nova.

- Vou pagar a minha metade do aluguel, não se preocupe. – Garantiu ele.

- Ótimo, eu vou te encontrar em dois meses, no máximo. – Hugh garantiu, já parecendo mais sóbrio.

- Certo. – Ele disse, já dando as costas para Hugh.

Caleb deixou o amigo sozinho e foi para o seu quarto para começar a arrumar as suas malas, precisava ser rápido se quisesse mesmo chegar em casa antes do aniversário da mãe. 

Paixão ao pôr do solOnde histórias criam vida. Descubra agora