Capítulo 5. Estou certa

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Rudá, Gruffin – 1829.

Grace e Charlote observaram em silêncio enquanto o Sr. Campbell se afastava e o menininho ao seu lado tagarelava sobre um de seus brinquedos favoritos. Nenhuma das duas teve coragem de falar qualquer coisa até que os senhores se afastassem, mas então Charlote quebrou o silêncio.

- Ele gostou de você. – Ela falou com um sorriso que Grace não precisou nem se virar para constatar que estava no rosto da prima.

- Como? – Grace havia escutado e compreendido perfeitamente bem, mas queria uma confirmação de que a amiga realmente estava louca.

- O senhor Campbell gostou de você. Não notou como ele a olhou?

Ele realmente olhou para ela de uma forma que ela não pôde identificar, foi algo rápido e novo para ela, mas seu coração palpitou com aquele breve olhar. Mas tudo isso era inútil, em pouco tempo ele se esqueceria dela e ela se esqueceria dele, ambos seguiriam suas vidas.

- Você está louca. – Acusou ela, corando. – Eu creio que ele se interessou por você, não viu como ele a olhou quando perguntou nossas identidades?

- Ora, Grace, deixe de ser tola. Ele petrificou só de olhar para você.

- Você está sendo tola. Isso tudo é coisa da sua cabeça. – Grace disse, sem paciência. – O pobre homem apenas teve um mal-estar e se sentou conosco, nunca mais o verei e você sabe disso.

- Bem, mas podemos sonhar um pouco, não é? – Charlote deu um tapinha na mão da amiga, muito empolgada. – Ele é um dos jovens mais bonitos dessa ilha, assim como o pai foi um dia, mas ao contrário do antigo duque na juventude, Lord Campbell é muito simpático e gracioso com as damas. Seu coração não deu nem uma palpitada ao vê-lo e ao tê-lo sentado ao seu lado?

- Você diz tantos absurdos que as vezes acho que deveria ser interditada pelo seu irmão. – Grace respondeu com um revirar de olhos.

Mas a verdade era que o coração dela havia mesmo palpitado quando ela ergueu o olhar dos pombos e encontrou aquele homem ruivo de olhos azuis lhe olhando, foi como se o seu coração miserável tivesse passado seus vinte e dois anos congelado, a espera, e então, apenas naquele momento tivesse despertado do sono fúnebre e descoberto como bater. O cabelo dele parecia em chamas com o pôr do sol o tornando incandescente, Grace sentiu-se sem fôlego apenas com o olhar dele no seu e, quando ela o tocou no ombro, sentiu um choque pelo corpo, mas notou a intimidade do gesto e o olhar dele na sua mão, então rapidamente o removeu. Mas nada daquilo importava, ela nunca frequentou e nem frequentaria um baile da alta sociedade, não veria Lord Campbell novamente, ela não podia deseja-lo, tinha sido uma noviça até algumas semanas antes, como poderia? Além disso... Santo Deus, como ela se esqueceu?

- Preciso ir para casa. – Ela decretou enquanto dava um pulo para ficar em pé. – Lord Knox chegará em breve para assinar os papéis, titio irá me matar se eu não estiver em casa.

- Ele estará no jantar do meu irmão? – Charlote perguntou enquanto pegava sua sombrinha para voltarem para casa.

- Não. – Ela disse como se fosse óbvio. – Ele não é da família, não há motivos para estar lá.

- Em breve ele será. – Charlote comentou.

Grace apenas suspirou e concordou com a cabeça. Ela havia aceitado sua vida como noviça, faltavam poucas semanas para fazer seus votos perpétuos no convento, então chegou uma carta do tio, que era seu guardião legal.

Gracelin Bismarque nunca possuiu nenhum valor para o tio depois que seus pais morreram, então ele deixou que ela fosse para o convento depois que se cansou de brincar com ela, mas o tio resolveu se livrar dela de uma vez por todas e mandou uma carta com três frases curtas – "Volte para casa imediatamente. Encontrei um bom casamento para você. Não traga este rato idiota ou irei mata-lo." – ela demorou alguns dias para aceitar o que o tio havia imposto a ela, a madre do convento a convenceu de que aquela era a vontade de Deus para ela, se casar e ter filhos, não viver uma vida no convento, e que ela ainda poderia ser uma pessoa próxima de Deus mesmo tendo um marido. Então ela começou a mentir para as amigas do convento e todos que perguntavam o motivo de ter abandonado a vida religiosa, dizendo que sonhava em ter filhos e um marido, a verdade era que ela até gostava de pensar no assunto, mas não se importava tanto quanto outras damas com a possibilidade de não ser mãe, ainda mais depois de descobrir o método utilizado para conceber bebês, não lhe era algo muito agradável para uma dama, então ela não se importava em não ter seu corpo violado por outro homem e depois ser totalmente modificado para gerar outra vida. Mas ela desobedeceu ao tio e levou Otis com ela, e ele não era um rato, então não era uma desobediência, ela havia levado um furão para casa, não um rato. O tio quis mata-lo quando o viu, mas Grace impôs que Otis ficaria com ela se ela deveria mesmo se casar, era sua condição. O furão estava com ela há dois anos, ela o adotou quando ainda era um filhote e foi abandonado pela mãe no convento, apenas ele e uma fêmea da ninhada de quatro sobreviveram depois que a mãe morreu logo depois do nascimento, ele era mais família para Grace que o próprio tio. 

Assim que chegaram ao seu quarto, Grace viu a criada olhando com uma cara feira para a gaiola de Otis e balançando a cabeça, provavelmente com nojo de limpar a gaiola, então ela dispensou a criada e abriu a gaiola para que ele pudesse sair, se qui...

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Assim que chegaram ao seu quarto, Grace viu a criada olhando com uma cara feira para a gaiola de Otis e balançando a cabeça, provavelmente com nojo de limpar a gaiola, então ela dispensou a criada e abriu a gaiola para que ele pudesse sair, se quisesse. Charlote se sentou na cama de Grace e começou a mexer em algumas correspondências da prima.

- Por que ainda não abriu a carta de Lord Knox? – perguntou ela, arqueando uma sobrancelha.

- Porque não quero conhece-lo por carta, quero criar a primeira impressão quando o ver na minha frente. – Ela deu de ombros.

- Você não o ama, não é? – Charlote fez cara de pena e Grace revirou os olhos enquanto Otis subia em seu colo.

- Como posso amar alguém que nunca vi na minha vida?

- Sinto muito por você.

- Eu também. – Admitiu ela. – Só espero que Lord Knox seja realmente um homem agradável e que eu possa ama-lo em algum momento futuro.

- Por que seu tio quer casa-la com ele? Apenas porque ele é um visconde e isso pode ser bom para a família?

- Acho que sim. – Grace deu de ombros, suspirando. – Ele diz que é uma forma de colocar os Bismarque na nobreza antes que a família acabe de vez, já que sou a única além dele que carrega o sobrenome e um general viúvo nunca conseguirá obter um título.

- Ele sempre sonhou em ter um título para a família dele. – Charlote sorriu. – Como se sente sabendo que Nate, um Hildegart, será um conde em alguns dias?

- Tio George seria capaz de matar o seu irmão se isso lhe desse o título de conde de Nindberg que Nate receberá. – Grace disse com um sorriso e se levantou, deixando Otis na cama.

- Então... – Charlote começou e Grace soube que ela começaria algum assunto que Grace com certeza não gostaria. – Nada de Lord Campbell?

Ela foi até o seu baú que trouxera do convento, mas não havia nada adequado, precisaria sair no dia seguinte para comprar roupas se quisesse impressionar seu futuro noivo. Tudo que havia no baú eram seus vestidos de antes de ir para o convento e um hábito simples que ela trouxera como recordação dos seus dias na clausura, por incrível que pudesse parecer, ela fora feliz no convento e fizera muitas amigas lá, elas eram como uma família e se apoiavam sempre que precisavam.

- Eu vou noivar na tarde de amanhã, deixe de ser implicante. Não existe nada que o Sr. Campbell possa fazer para me conquistar, por mais que eu duvide que você esteja certa.

- Eu estou certa, pode confiar. – A prima disse com orgulho.

Grace soltou um "Humpf" e deixou que a prima sonhasse com algo que nunca aconteceria, em três meses ela iria se casar e seria a senhora Caden Knox, não havia tempo e motivo para sonhos idiotas com lindos cavalheiros ruivos que apareciam no parque e se sentavam ao seu lado em uma tarde de primavera. 

Paixão ao pôr do solOnde histórias criam vida. Descubra agora