Capítulo 25. A Peste

883 121 16
                                    

Hemilton, Gruffin – 1829.

Grace passou toda a noite em claro, não conseguiu dormir com Caleb ruim ao seu lado, então pegou um dos livros que tinha pego na biblioteca da casa e passou toda a noite com uma vela acessa, lendo e monitorando o marido doente. A febre parecia ter diminuído, não tinha pus na ferida nas últimas vezes que ela limpou, mas ele não acordava nem demonstrava nenhum tipo de reação, as vezes Grace queria belisca-lo ou dar um tapa no braço bom para ver se ele reagia, apenas para se certificar de que ele estava vivo, não confiava apenas na respiração tranquila que fazia o peito dele subir e descer, mas não o fez, ele já estava sofrendo demais para ser beliscado ou estapeado pela esposa.

Quando o sol nasceu e iluminou o quarto, Grace se olhou no espelho e viu as olheiras que começavam a aparecer no seu rosto, mas não se importou, só queria que Caleb acordasse logo. O plano deles quando fugiram era voltar para Rudá no dia seguinte, Caleb tinha que acabar de organizar tudo para a inauguração da galeria e eles morariam no apartamento do andar de cima do prédio, mas agora ele estava ali, sem mexer sequer um dedo há mais de vinte e quatro horas.

Ela desceu para tomar o café da manhã com os outros, mas mal comeu. Emma e a família eram muito simpáticos com Grace e a tratavam super bem, mas ela estava preocupada demais com Caleb para fazer qualquer outra coisa. A cunhada não concordava com ela, mas Grace sabia o que estava fazendo e deu mais uma colher de láudano para o marido antes de descer, não queria que ele sentisse dor sem necessidade e sabia que uma colher a cada dez ou onze horas não o fariam ficar inconsciente, apenas aliviaria a dor dele.

Mas, santo Deus, ela iria deixa-lo inconsciente novamente quando ele se recuperasse, de tantos bofetes que daria nele por ter mentido. Era impossível aquela infecção ter se espalhado daquela forma e ele não ter sentido nenhuma dor, Grace iria mata-lo por ter mentido para ela e ter sido tão teimoso. 

Mais uma vez, Caleb estava à deriva naquela onda de entorpecimento do láudano

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Mais uma vez, Caleb estava à deriva naquela onda de entorpecimento do láudano. Não tinha visto sereias, mas jurava que o sol tinha acenado para ele quando nasceu do lado de fora da janela.

Grace tinha passado a noite toda em claro, ele ouviu cada uma das viradas de páginas dela e sentiu cada uma das setenta e oito vezes que ela verificou sua temperatura e conferiu a ferida, ele contou cada uma delas e mediu o tempo entre cada uma, mesmo que de forma imprecisa, já que não tinha um relógio naquela onda de láudano, e o maior intervalo entre elas foi de vinte minutos. Talvez ele também estivesse desenvolvendo um apresso pelos números, como ela.

Passos soaram no corredor e, obviamente, ele soube, mais uma vez, que não era a sereia que retornava.

- E como ele passou a noite? – uma voz masculina indagou. Provavelmente era o médico que havia vindo no dia anterior.

- Sem febre. Acredito que esteja melhor. – Grace disse com preocupação na voz. – Mas ainda não esboçou sinal de acordar.

Ele quis se levantar, mas a única coisa que conseguiu foi abrir os olhos.

Paixão ao pôr do solOnde histórias criam vida. Descubra agora