Rudá, Gruffin – 1829.
Grace se sentia profundamente triste e sem motivação. Ela só queria ficar deitada na sua cama, enrolando as pontas do cabelo com o indicador, como fazia naquele momento, e sentindo o amor de Otis, que estava deitado sobre a sua barriga, o pelo albino do animal contrastando com o negro do seu vestido.
- Me sinto derrotada. – Ela disse com um suspiro.
Charlote se virou para ela e arqueou uma sobrancelha.
- E por qual motivo?
- Não preciso de um motivo, o mundo me odeia e a minha vida está sendo traçada neste momento de uma maneira irreversível, isso já basta para que eu me sinta derrotada.
- Certamente você superará isso, Grace, não seria a primeira vez que uma dama é forçada a se casar sem amar o seu noivo.
- Ou talvez eu desfaleça em profunda tristeza, isso certamente é possível. – Ela suspirou. – Como pude me iludir achando que meu tio me daria um bom esposo? Está claro que ele pouco se importa com a minha felicidade. Caden Knox é um egocêntrico machista que quer apenas uma dama para lhe esquentar a cama e lhe dar herdeiros, serei sua égua parideira que vive confinada em casa.
- Bem, você acaba de descrever quase todos os homens que já pisaram nesta Terra. – Charlote disse com um dar de ombros. –
- Eu deveria fugir e fazer os meus votos perpétuos, nunca mais sairia da clausura e não seria mais forçada a casar-me com nenhum homem como Lord Knox. – Grace disse com um tom reflexivo na voz e acariciou Otis.
Charlote estava revirando todos os novos vestidos de Grace no armário, fazendo uma bagunça enorme, o que estava deixando Grace a ponto de surtar. Ela sempre foi fã da ordem e da organização, de saber as coisas com muita exatidão, por isso gostava tanto de matemática, os números nunca mentiam se você os manipulasse de forma correta.
- Deixe de drama. – A prima disse com um revirar de olhos e jogou um vestido esmeralda sobre a cama. – Vista logo este vestido e se apresse, nós não podemos nos atrasar para o jantar na casa do duque.
- E por que escolheu esse vestido? – Grace perguntou, levantando-se.
- Ouvi dizer que o Lord Campbell gosta de verde-esmeralda. – Ela deu de ombros. – Ele ficará ainda mais encantado ao vê-la com esse vestido.
- O duque? – Grace perguntou, confusa.
- Lord Caleb Campbell. – Charlote revirou os olhos. – Ouvi dizer também que ele está hospedado na casa do irmão, aposto que se juntará a nós para o jantar.
- E você realmente acredita que ele está interessado em mim? – Charlote concordou com um meneio de cabeça. – Que pena para ele então, estou oficialmente noiva há meia hora.
- Se ele demonstrar interesse em você, seu tio pode mudar de ideia. O Sr. Campbell é irmão do duque e sobrinho do rei, todos querem ter uma aliança com a família deles.
- Deixe de bobagem, isso não acontecerá.
Ela soltou um suspiro e foi para o banheiro para se trocar, o tio não havia contratado uma criada para ajudá-la e disse que nem contrataria, já que ela se casaria em breve, então Charlote a estava ajudando enquanto estava hospedada na casa dela, mas iria embora no dia seguinte, já que a família dela estava na cidade e já tinham uma casa para ficar.
Grace reviu os primos e a tia. Nenhum deles se davam bem com o tio George e, por muito tempo, Grace achou que seria melhor se a sua tutela tivesse ficado com a tia Margot e não com o tio George, mas, como a tia deixou de ser uma Bismarque quando se casou, ela fora excluída da responsabilidade, e era mulher, não poderia fazer nada a não ser que o marido permitisse.
O jantar estava correndo perfeitamente bem, o duque e sua esposa pareciam um casal encantador e muito apaixonado. A ideia do jantar foi uma cortesia do duque para Nathaniel, o primo mais velho de Grace, que havia recebido o título de conde de Nindberg. Tudo parecia muito bem, eles conversavam à mesa de jantar, e então o menininho loiro que estava com Lord Campbell no parque entrou correndo na sala de jantar e chamando a mãe.
- Ian está sangrando. – O menino disse ao se jogar no colo da mãe, todos os olhares da sala estavam sobre eles.
- O que aconteceu? – O duque perguntou, já se colocando ao lado da esposa, que estava com o menino no colo.
Naquele momento Grace viu um movimento na porta e olhou para ela a tempo de ver o cavalheiro de cabelo ruivo e olhos azuis, o olhar dela encontrou o dele quando ela viu o Sr. Campbell congelar, eles se olharam por poucos segundos.
- Caleb! – o duque exclamou. – O que houve com o meu filho?
Ela viu quando ele engoliu em seco antes de falar.
- Nada grave. – Ele disse, adentrando mais na sala de jantar. – Foi apenas uma queda nas britas do parque. Ele estava correndo, caiu e se ralou. Philip está preocupado por conta do sangue, mas não é nada. A Srta. Bloom já foi cuidar dele.
O duque pediu licença e saiu rapidamente, sendo seguido pela esposa, que pediu perdão, mas precisava ver o filho, e deixando apenas Caleb para entreter os convidados da família. Grace se permitiu olhá-lo com mais atenção enquanto ele se sentava à mesa e parabenizava Nate pelo título que recebeu, então ele puxou assunto sobre as vinícolas da família, ela sabia que o que ele estava fazendo era tentar distrair a todos até que o irmão e a cunhada retornassem.
Ele era o completo oposto de Caden Knox, seu noivo, e Grace podia ver isso apenas observando como ele se portava à mesa e como conversava de forma descontraída. Caden fora super seco na sua primeira conversa com ela, em apenas algumas horas com ele, Grace já pôde ver muito sobre ele e sobre como seria o seu futuro ao lado dele, ela preferiria ter um prego fincado na testa do que chamar aquele homem de seu marido, mas não podia fazer nada a respeito disso, o tio já tinha negociado tudo e os papéis foram assinados. Mas, apesar de tudo isso, ali estava ele, Caleb Campbell, um perfeito cavalheiro em tudo que fazia, algo nele atraía toda a atenção de Grace e ela não podia desviar os olhos, a forma como o cabelo ruivo dele balançava quando ele assentia e como ele franzia os lábios ao prestar atenção no assunto que falava com outra pessoa. Grace ainda não o tinha visto sorrir, apostava que ele não sorria com frequência, mas sabia que o sorriso dele era sempre verdadeiro e lindo, com os lábios muito curvados e covinhas nas bochechas. Caleb era completamente um perfeito cavalheiro.
Charlote puxou o braço da prima e tirou-a dos seus pensamentos, cochichando no ouvido dela:
- Pare de olhá-lo dessa forma!
Grace olhou para a prima, surpresa.
- Não estou olhando nada.
- Não tente me enganar. – Ela disse com um sorriso. – Vejo nos seus olhinhos que ele meche com o seu coração.
- É... talvez. – Grace deu de ombros. – Mas fique quieta.
- Eu sabia disso! – Charlote comemorou baixinho. – Certo. Pare de olhá-lo.
Ela se sentiu corar por ter sido flagrada olhando para o Sr. Campbell e tentando decifra-lo. Bem naquele momento, com Grace corada como um tomate, Caleb olhou na direção dela enquanto ela cochichava com a prima e abriu um pequeno sorriso para ela, o que a fez corar ainda mais.
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Paixão ao pôr do sol
Ficción históricaLivro 5 da série Família Campbell. Depois de mais uma temporada em Roma, Caleb está de volta à Gruffin. Ele construiu sua fama como pintor na Itália e em Portugal, mas nenhum lugar no mundo é tão acolhedor quanto a ilha onde ele cresceu. O destino...