Capítulo 6. Tudo pela arte

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Rudá, Gruffin – 1829.

- Não. – Caleb disse para si mesmo, olhando com muita atenção para a tela no seu cavalete de pintura. – É mais verde...

Ele passou a noite toda pensando naquela dama, não conseguiu dormir quase nada e levantou logo que o sol nasceu e começou a pintar. A mãe o havia contado que ela era sobrinha de um general, os pais morreram há alguns anos e ela ficou sob a tutela do tio, mas Kate sabia pouco sobre ela, a última notícia que tinha ficado sabendo era que a dama estava enclausurada em um convento em RiverPort, do outro lado de Gruffin. Ela dissera que tinha voltado de um convento no continente, talvez tivesse se transferido depois?

- O que é mais verde? – Sophie perguntou, entrando no quarto. – Um olho! – Ela disse examinando a pintura. – Boa técnica, parece muito vívido.

- Obrigado. – Ele agradeceu, sem nem lhe dar muita atenção, já misturando mais tinta verde com a azul da sua paleta.

- A quem esse olho pertence? – Sophie perguntou, cruzando os braços e olhando com atenção para o cunhado. – Esta pele delicada parece pele feminina.

Caleb soltou a paleta de tintas e o pincel, se levantando do seu banquinho.

- Estou apenas fazendo um estudo de cores, não me inspirei em ninguém, especificamente. – Ele deu de ombros e pegou seu paletó. – Podemos ir?

- Você parecia procurar uma cor muito especifica para não serem os olhos de nenhuma dama especial.

De onde veio a ideia de começar a pintar os olhos dela? Ainda mais ali, na casa do irmão, ele sabia que Sophie era muito observadora, a cunhada já havia sido uma criada, portanto, tinha um olhar atento a tudo e tendência a descobrir segredos, por mais que ela tentasse fazer isso sutilmente.

- Sophie... – Caleb cruzou os braços.

- Certo, vamos! – ela disse com um sorriso de quem já sabia de tudo. – Mas não há problemas em pintar a pessoa que você ama, eu mesma já pintei seu irmão várias vezes.

- Que romântico. – Ele comentou com um revirar de olhos e foi para o corredor, com a cunhada logo atrás. – Me lembre de nunca bisbilhotar no seu ateliê para não encontrar um quadro do meu irmão nu.

- Ah, não, não se preocupe. O quadro em que ele aparece nu está no banheiro, bem de frente para a banheira. Tomo banho admirando-o. – Caleb parou ao ouvir isso e olhou com incredulidade para ela, que soltou uma gargalhada. – Garanto que não pintei o seu irmão nu, fique tranquilo.

- Já é tarde. – Ele alegou, totalmente corado. – Acabo de imaginar a cena e não há nada mais traumático na minha vida.

- Deixe de ser careta. – Sophie disse, rindo e empurrando Caleb pelo corredor. – É tudo pela arte, você me entende.

- Às vezes eu preferiria não entender.

Sophie riu, já descendo a escada e indo para a porta da frente da casa. 

Os dois foram juntos para conhecer o segundo prédio que Caleb havia selecionado para a galeria e a busca já foi dada por encerrada, aquele era o local perfeito e, além disso, ainda havia um apartamento em cima que serviria como a sua moradia, era ...

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Os dois foram juntos para conhecer o segundo prédio que Caleb havia selecionado para a galeria e a busca já foi dada por encerrada, aquele era o local perfeito e, além disso, ainda havia um apartamento em cima que serviria como a sua moradia, era pequeno, mas ele não precisava de luxo. Sophie já começara a descrever as ideias que teve para a decoração do local e tudo que precisavam comprar e fazer naquele local para que fosse o mais perfeito possível não só para as exposições, como para as aulas de pintura que teriam lá.

Mas, durante todo o tempo que a cunhada se empolgava com suas ideias, Caleb só queria voltar logo para casa, era quase a mesma hora em que havia encontrado a Srta. Bismarque com a prima no parque e ele sabia que a governanta levaria os sobrinhos para um passeio, como todos os dias, e ele queria ter essa desculpa para rever a dama que não saiu da sua mente nas quase vinte e quatro horas desde que se conheceram.

- Caleb? – Sophie chamou enquanto caminhavam de volta para casa. – Você parece ansioso, tem algum compromisso?

- Não, nenhum. – Ele deu de ombros.

- Se eu estiver lhe atrasando com as minhas ideias, é só me dizer.

Ele tentou sorrir enquanto negava com a cabeça, mas seu sorriso era totalmente falso e ele tinha certeza que a cunhada sabia disso perfeitamente bem.

- Não tenho compromisso, apenas pretendia dar um passeio com os meninos e a governanta até o parque, gosto muito de assistir ao pôr do sol de lá, me inspira bastante.

Sophie olhou para ele com desconfiança e arqueou uma sobrancelha.

- Inspira, é?

Ele assentiu, arqueando uma sobrancelha e dando de ombros.

- Então é melhor ir logo, acredito seriamente que aquele é Philip, tagarelando, e a Srta. Bloom com Ian. – Ela disse com um sorriso e indicou a governanta da família com os meninos, do outro lado da rua. – Nos vemos no jantar.

Ele atravessou a rua rapidamente e se juntou à dama de cabelo castanho e olhos negros severos que conduzia os sobrinhos na direção do parque, a Srta. Bloom não puxou assunto, então Caleb apenas assentiu enquanto Philip continuava falando. Ele estava impaciente para chegar ao parque e torcia para que a sua amada estivesse naquele banco e ele pudesse vê-la novamente. Caleb ainda não sabia exatamente o que faria, mas precisava se aproximar da Srta. Bismarque e da sua prima, queria muito conquista-la e casar-se com ela, ele a amava, agora ele sabia o que era aquele sentimento que os irmãos descreviam com tanta emoção, ele precisava que fosse reciproco, precisava tê-la.

Caleb seguiu parque adentro com a Srta. Bloom e os sobrinhos, procurando pelo banco onde havia visto a Srta. Bismarque na tarde anterior, mas estava vazio, elas não estavam naquele maldito banco em que estiveram no dia anterior, então ele acompanhou a governanta com os meninos por um passeio ao redor do lago do parque por quase meia hora enquanto o sol estava se pondo, olhando com muita atenção para todas as damas que passavam por ele, procurando o cabelo loiro sob os chapéus, mas todas pareciam ser mais altas ou mais baixas, ninguém conversava com tanta determinação quanto ela sobre a quantidade de migalhas de pão. Ele também pensou sobre isso durante a noite, o que aquela conversa poderia significar? E o mais absurdo, que tipo de pessoa conta as migalhas de pão que lança aos pombos? Ele devia ter se apaixonado por uma dama muito excêntrica. Ou talvez ela só gostasse muito de números e contas.

- Ian, não... – a governanta gritou e soltou um suspiro. – ... corra!

Caleb saiu dos seus pensamentos a tempo de ver o sobrinho derrapar com tudo nas britas do caminho e cair no chão, soltando um choro estridente no mesmo instante. A Srta. Bloom correu rapidamente até o menino e o pegou no colo enquanto verificava os arranhões.

- Vamos voltar! – Anunciou ela, com preocupação. – Não parece grave, mas preciso limpar os arranhões.

Como o cavalheiro que era, Caleb se ofereceu para levar o menino no colo, mas a governanta recusou e já começou a caminhar apressadamente e Caleb teve que levar Philip. A Srta. Bloom resmungava consigo mesma, dizendo que era sua culpa e que seria demitida ou, no mínimo, ficaria sem parte do salário por ter permitido que o menino se machucasse sob sua responsabilidade.

Assim que entraram em casa pela porta lateral, a governanta foi levar o menino para o quarto e Philip correu para a sala de jantar, procurando a mãe, Caleb tentou impedi-lo, indo atrás, mas foi mais lento. Ele sabia que Anthony e Sophie teriam convidados para o jantar e não queria que o menino atrapalhasse, ele chamaria Sophie de forma discreta.

Então ele entrou na sala e olhou os convidados na mesa, se detendo em uma dama em especial. Não poderia ser verdade, o que ela fazia ali? 

Paixão ao pôr do solOnde histórias criam vida. Descubra agora