CAPÍTULO 35: TRÊS MESES

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AMÉLIA TORETTO

Eu estava sem dormir há, pelo menos, três dias seguidos. Minha mente insistia em ficar divagando entre as histórias de um passado confuso e as consequências no presente. Eu tinha uma criança dentro de mim, apesar de todos os meus esforços para negá-la e eu tinha um irmão biruta que não via há, pelo menos, cinco dias. Eu estava perdendo peso, não por falta de comida, mas por falta de vontade de comer. Meu estômago não reclamava, meu cérebro não me lembrava que eu tinha mais alguém pra alimentar. Eu estava, há três meses, numa constante montanha russa com altos, baixos e reviravoltas. Há três meses eu não conseguia entender o que estava acontecendo com o meu corpo, minha vida e, consequentemente, minha mente. Eu tinha uma babá, que me levava pro banho — já que o banheiro do quarto só tem uma privada e uma pia —, me servia as refeições e era encarregada por me disponibilizar roupas limpas e da limpeza do meu local de sobrevivência. Tiraram de mim todo e qualquer objeto que eu pudesse usar para atentar contra a vida de outras pessoas e contra minha própria vida, incluindo meu cordão de família e minha aliança. Eu estava na merda.

Devo admitir, você parecia ser mais selvagem. — ouço a voz de Cipher sair pelos auto falantes e o vidro temperado se ilumina, mostrando-me ela, do outro lado, com um tablet em mãos — Aquela pose dura, correr ou morrer, ir pra cima do Dom, matar o dono daquele cartel, no México. No entanto, desde que chegou aqui, você só chora. É bem difícil te entender, Amélia. É a gravidez?

Não enche. — resmungo, deitada, com a mão no rosto

É sério, Amélia. Você é quase uma decepção. — resmunga — Quase. Estou te dando um desconto, por causa da gestação. Pra alguém como você, que nunca quis ter filhos na vida, deve estar sendo bem difícil. Você quer que eu te arrume um psicólogo?

Eu quero que você me deixe em paz, sua vadia psicopata. — a encaro

Ah, querida, nós não precisamos ser inimigas. Sei que gosta de conversar, então estou te oferecendo a oportunidade de conversar comigo.

Eu prefiro mastigar a língua.

Vamos lá, Amélia.

O que você quer de mim? — berro a plenos pulmões, sentindo a garganta arder

Onde está seu instinto? Você é a Toretto mais calma? — ela sorri — Onde está sua selvageria?

Quer selvageria? — rosno me levantando — Você quer selvageria? — me coloco de pé, em frente ao vidro — Me tira daqui e eu te mostro o que é selvageria, sua cadela maluca! — acerto um soco no vidro

Ela sorri e nós ficamos nos encarando. Tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe. Eu queria poder ultrapassar esse vidro e apertar o pescoço dela com tanta força, a ponto de ver minhas unhas perfurando sua carne e o ar faltando em seu corpo. Queria ver seus olhos esbugalhados, seu rosto vermelho, implorando por ar.

Cipher. — vejo Ashley chegar por trás dela — Precisam de você.

— Estou indo. — diz ainda me encarando

Ela fica mais alguns segundos me observando e então se vai. Ashley me encara até a luz se apagar e me impedir de vê-la, mas sei que ela ainda está ali. Eu respiro fundo e encaro a bandeja de comida ainda cheia, em cima da mesinha do canto. Meu estômago embrulha só de olhar.


***


Bring Me Back - O Retorno de TorettoOnde histórias criam vida. Descubra agora