início.

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Chegada à pista, Bárbara começou por retirar o casaco que trajava pertencente à marca internacional, Nike, colocando-o sobre o primeiro banco de madeira que lhe apareceu no caminho, e, só depois, dirigiu-se para o conjunto de pistas de atletismo. A morena de olhos castanhos apoiou os pés no bloco de partida e, depois, o tronco sobre as mãos encostadas ao piso. Após uma contagem decrescida mental, desfez-se da postura e iniciou a corrida de cem metros. Sem se aperceber, os seus movimentos eram vigiados pelo seu treinador que permaneceu na zona das bancadas, discreto, para não interromper o exercício da ribatejana. Porém, Manuel não se conteve quando a atleta, quase no fim da chegada ao final da distância dos cem metros, cessou os movimentos, aparentando estar em dores pela postura curva que adotou no instante a seguir. De imediato, o adulto mais velho correu na direção da jovem adulta, pronto a acudi-la.

- Como estás? – Depois de a auxiliar e servir de apoio até ao banco, Manuel questionou-a, entregando-lhe uma garrafa de água.

- Estou bem. – Bárbara respondeu, recebendo um olhar desconfiado do treinador. – Estou a falar a sério, Manuel. Honestamente, já estive pior que isto. – Sem deixar escapar a oportunidade de trazer ao de cima o seu sentido de humor singular, completou.

- É escusado dizer-te que não devias ter esforçado o joelho. Ainda estás em recuperação da lesão, é normal não estares a 100%, no entanto, se não deres tempo ao tempo, podes nunca mais recuperar.

- Já estou em recuperação há dois meses. Sem sinal de melhorar, devo acrescentar. Se continuar parada, só em 2022 é que volto às pistas.

- Deixa os dramatismos de lado, Bárbara. Sabes muito bem o que está em risco. És adulta o suficiente para perceberes e tomares as tuas próprias decisões. O meu único trabalho é aconselhar-te enquanto estás em fase de recuperação. Fora disso, és tu que mandas. – Manuel falou, silenciando a morena natural da zona do Ribatejo.

A filha mais nova do casal Andrade moveu a cabeça em sinal positivo e manteve-se no silêncio, bebendo goles de água de momentos em momentos enquanto o treinador observava, atentamente, o joelho, especialmente, a zona em que a natural de Santarém se queixava de dores intensas.

Bárbara Andrade, ou 'Babi como era tratada por aqueles de quem mais gostava, era uma eterna apaixonada pela modalidade atletismo. Começou cedo, mas não tão cedo quanto à natação que foi a primeira modalidade praticada pela jovem portuguesa, e não se pode dizer que foi amor à primeira vista. Encaminhou-se para o atletismo à idade dos dez, porque começava a perder interesse na natação, mas não queria deixar a prática de atividade física de lado, por grande incentivo do seu pai. Hoje em dia, ainda pratica natação, embora menos vezes do que antes, e tornou-se uma apaixonada pelo atletismo. No entanto, uma lesão há três meses durante um treino obrigou-a a afastar-se das duas modalidades e deixar a prática de exercício físico para corridas mais leves em períodos livres.

- Desculpa. – Começou, quebrando o gelo criado entre si e o treinador. – Desculpa por não te dar ouvidos. Mas, não peço desculpa por ter vindo até aqui, hoje. Pode não ter sido a melhor escolha fisicamente, mas, mentalmente, tenho a certeza que foi a melhor escolha que podia ter feito. Necessitava de voltar a mexer-me e fazer todos os passos que, nós, atletas, fazemos antes de cada prova ou treino. – A jovem de dezanove anos desabafou, mostrando-se arrependida e, ao mesmo tempo, satisfeita pela sua decisão de voltar a pisar a pista de atletismo.

- O que tu necessitas é paciência, Bárbara. Dizes que tens paciência para dar e vender, mas, todas as semanas, vejo-te aqui a tentar dar cabo da saúde física. És demasiado inteligente para cometer este tipo de erros. – Manuel criticou. Depois de apreciar o estado do joelho da mais nova, levantou-se da posição de cócoras e ajudou a morena a levantar-se do banco a fim de perceber se a ribatejana conseguia apoiar-se sozinha. – Não te prejudicou em nada, a meu ver, mas não sou nenhum especialista. Se as dores continuarem, ou, até, piorarem, vai ao médico para teres a certeza, okay?

lack of control | diogo gonçalvesOnde histórias criam vida. Descubra agora