lógica ou emoção?

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O sol já se tinha posto. No horizonte, só era possível observar a nébula laranja que se começava a dissipar pelo ar para que a escuridão da noite pudesse atacar as cidades portuguesas. Porém, apesar de ameaçados pela chegada da escuridão, os lábios de Bárbara continuavam presos aos de Diogo, como se estivessem unidos por cola, ambos de olhos fechados, as mãos dela no rosto dele, como se receasse que ele lhe fugisse pelas mãos, e as mãos dele a descansar na região lombar inferior das costas dela, como se, também ele, receasse que ela se arrependesse e lhe fugisse do alcance, ficando sem lhe colocar a vista em cima por um longo período de tempo. Nesse caso, não seria um longo período de tempo, na realidade, contudo, seria um longo período de tempo na ótica do alentejano que já se tinha perdido em amores pela bela ribatejana. Era um tanto cliché. No entanto, ninguém era capaz de o contradizer ou fazer frente a um homem apaixonado.

Quando o ar lhe começou a faltar, os lábios da estudante de relações internacionais separaram-se do dos jogador de futebol. Finalmente, os olhos dela abriram-se, deparando-se com as íris castanhas do moreno que já tinha aberto os olhos para contemplar a beleza natural da jovem portuguesa, aproveitando que esta manteve os olhos fechados por mais segundos que ele. A vontade de levar o indicador a bochecha dela para a acariciar, suavemente, era grande, pelo que a resistência a levar avante essa vontade foi ainda maior. Cada um sentia a respiração pesada do outro, manifestando o quão próximos estavam um do outro.

Mas, quando Diogo deixou de sentir a respiração da universitária tão perto dele, apercebeu-se de que a distância tinha aumentado, o que lhe tinha passado despercebido mesmo com o olhar preso no dela. Foi nesse momento em que viu uma sensação de arrependimento e receio exatamente nas íris castanhas da ribatejana. Ao contrário do futebolista, que permanecia com um pequeno sorriso nos lábios a manifestar surpresa e, ao mesmo tempo, felicidade, os lábios de Bárbara mantinham-se numa linha reta, sem expressar qualquer sentimento, quer fosse paixão, alegria ou, até mesmo, vergonha por ter agido da forma incorreta, ou, pelo menos, da forma inesperada e tão fora da maneira como agia. A melhor amiga de Teresa contemplou a profundidade das íris do alentejano, almejando desvendar as sensações sentidas por ele no momento do beijo e no momento após o beijo numa forma de poder desvendar as sensações que ela própria sentiu e sentia. Quiçá, dessa forma podia, por fim, responder à pergunta silenciosa do moreno.

Diogo permaneceu em silêncio. Permaneceu, pois compreendeu que aquele tempo era só, e, apenas, só, para a estudante universitária. Todos os detalhes na expressão facial da mesma gritavam dúvida e hesitação. Se Diogo abrisse a boca, fosse para dizer o que quer que fosse, sujeitava-se a estragar o momento e, muito certamente, a fazê-la fugir; por isso, era preferível esperar um longo período de tempo até que ela estivesse pronta para abordar a situação a vê-la a fugir.

- Isto foi errado. – Bárbara finalmente falou. - Um erro, digo. Foi um momento em que o meu cérebro deixou de pensar. Regra geral, erros destes não são cometidos. – Diogo separou os lábios para responder à declaração feita pela morena, no entanto, nenhum som saiu, por isso, voltou a uni-los. – Eu tenho de ir. Tenho de voltar a casa...Antes que o céu escureça de vez. É o melhor a fazer. – Por entre dificuldades, Bárbara concluiu, ainda com os olhos presos nos do jogador, mas nenhum músculo se mexeu.

O cérebro já tinha dado a ordem para o músculo mexer, mas a jovem ribatejana continuava sentada na relva a uns metros de distância do futebolista que permanecia na mesma posição, ou seja, com o cotovelo direito contra a relva a suportar o peso do corpo e o olhar na morena.

Numa única tentativa, Bárbara lutou contra a vontade de ficar. Pressionou a sola dos ténis contra o piso, dobrando os joelhos, ergueu o corpo e, já levantada, prontificou-se para iniciar o caminho de volta a casa. Estava muito longe do bairro onde residia, não bastava andar trinta minutos a pé e virar a curva para encontrar o prédio. Contudo, também, não era capaz de permanecer naquele local, só pretendia distanciar-se dali, mesmo que isso significasse caminhar sem orientação nenhuma.

lack of control | diogo gonçalvesOnde histórias criam vida. Descubra agora