encontros.

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Bárbara fitava o professor universitário que lecionava a cadeira Regimes Políticos com um ar sonolento e que transmitia a sua enorme vontade de fugir daquela sala e nunca mais regressar. Em cada cinco minutos, desviava o olhar para o relógio de pulso como se quando voltava a observar as horas, cinco minutos depois da última vez, já estivesse na hora de sair. Inesperadamente, o mais velho da sala terminou de lecionar o conteúdo e tratou de se despedir dos alunos, oferecendo-lhes a oportunidade de sair mais cedo naquele que era o último dia da semana de aulas. Pelo ecrã iluminado do telemóvel e pela notificação que pairava no ecrã bloqueado, sabia que Teresa esperava por si na entrada do campus universitário, por isso, a morena tratou de se despachar a arrumar as suas coisas na mochila e a percorrer os corredores da faculdade.

- Saíste mais cedo. Como és capaz de te queixar dos teus professores? – Teresa comentou, perplexa, enquanto fitava as horas através do aparelho móvel.

- Nunca me queixei do Rui Dias. Ele tem um lugar especial no meu coração por estas coisas pequeninas. – Bárbara sorriu, entrelaçando o seu braço no da amiga. – Antes de irmos para casa, temos de passar pelo supermercado. – Relembrou e Teresa apenas assentiu.

As duas amigas ocuparam o interior do automóvel da estudante de sociologia e deslocaram-se até ao hipermercado situado na zona residencial enquanto cantavam as músicas transmitidas pela rádio preferida de ambas, Rádio Comercial.

- Já não achas que chega de maçãs? – A estudante de ciências políticas e relações internacionais protestou em tom de interrogação ao ver a melhor amiga a encher um saco de plástico com maçãs como se não houvesse amanhã. – Se bem me recordo, ainda vi maçãs na cesta hoje de manhã.

- Está comprovado em estudos que devemos comer, pelo menos, quatrocentos gramas de fruta por dia, por isso, fruta nunca é demais. Puseste duas caixas de pizza no carro de compras. Queixei-me? – Teresa respondeu ao protesto da amiga.

- Ao contrário da fruta, estas pizzas não vão passar de hoje. Espera só até as maçãs ficarem estragadas. – Bárbara contrapôs, com um sorriso cínico nos lábios.

Teresa respondeu às palavras da amiga ao revirar os olhos e tentou lembrar-se dos produtos que estavam em falta para, finalmente, regressar a casa.

O início da amizade das duas estudantes universitárias leva-as ao começo do ensino secundário. Embora fossem, na altura, meras estranhas que tinham calhado na mesma turma de décimo ano, através de uma amiga em comum com quem Bárbara tinha começado a falar, as raparigas aproximaram-se e não demorou muito tempo até se tornarem inseparáveis e criar uma amizade forte o suficiente para ultrapassar pequenos percalços enquanto cresciam ao lado uma da outra e próxima o suficiente para tomar a decisão de partilhar um apartamento.

Já em casa, depois de carregarem com os sacos de compras para o apartamento, as duas raparigas dividiram-se; enquanto Teresa arrumava as coisas nos sítios adequados, Bárbara tomava um duche rápido. Depois de terminar o duche, trocou de lugar com a melhor amiga e começou a preparar o jantar ao colocar as pizzas no forno e ao preparar uma sopa. Quando acabou de preparar a refeição, colocou os utensílios necessários sobre a toalha de mesa, sendo ajudada, poucos segundos depois, pela estudante de sociologia.

- Nunca me hei de cansar do teu creme de cenoura. – Teresa comentou ao saborear a última colher com a sopa feita pela atleta.

- Agradece à minha mãe por me ter ensinado todas as receitas de sopa que ela sabe. – Bárbara respondeu, rindo, enquanto levantava os pratos vazios da mesa e buscava os tabuleiros com as pizzas.

Entretanto, o tom original do telemóvel da jovem de cabelos pretos que assinalava uma nova mensagem soou pelo espaço preenchido somente pelas vozes das estudantes de segundo ano de licenciatura. Bárbara, ao voltar a sentar-se na cadeira, conseguiu reparar no autor da mensagem.

lack of control | diogo gonçalvesOnde histórias criam vida. Descubra agora