lack of control | diogo gonçalves

apenas amigos.

Bárbara olhava para o ecrã iluminado do telemóvel, que segurava numa das mãos – a outra segurava o seu terceiro copo de vinho da noite - , com lágrimas a formarem-se nos cantos dos seus olhos que deixavam a sua visão turva. No silêncio, contemplava as fotografias que ainda tinha guardado na galeria do seu dispositivo – e parte delas publicadas no perfil da sua conta de Instagram. Um livro cheio de memórias, que, entretanto, tinha fechado, reabriu-se ao deslizar pela galeria de fotos e contemplar cada uma delas que lhe trazia uma emoção diferente, às quais não sabia responder se eram emoções positivas. Tinha fechado o livro há uns meses, ou, pelo menos, acreditava que tinha e que estava pronta para seguir em frente. Porém, novamente, o destino tramou-a.

Aproveitando toda a incerteza e vulnerabilidade que a envolvia acerca daquilo que estava a sentir e a viver, a morena fechou a aplicação, que guardava fotografias, abriu aquela que tinha todos os seus contactos e, em segundos, premiu o contacto do seu ex-namorado. Bastou três segundos para que a chamada fosse atendida e a voz de Afonso invadisse os ouvidos da jovem estudante. Num primeiro momento, 'Babi sentiu um aperto no coração, igual àquele que tinha sentido no final da tarde do dia anterior. Procurou não perder a compostura de novo e seguir em frente com aquilo que ela achava que queria. No entanto, como se lesse os pensamentos da morena, Afonso chegou-se à frente ao pedi-la para se encontrar com ele.

Face a este pedido, a amiga de longa data de Teresa não hesitou em aceitar. Terminou a chamada, pousando o telemóvel sobre o edredão, levantou-se da cama, caminhou na direção do guarda-roupas, de onde retirou um conjunto de fato de treino, vestiu as roupas e, por último, calçou os ténis. Antes de sair do quarto, agarrou no telemóvel e guardou-o no bolso das calças pretas. Em pezinhos de lã, alcançou a saída do apartamento, onde encontrou o automóvel do estudante de turismo.

- Entra. – Afonso disse, ao abrir a porta, ao que a estudante de dezanove anos respondeu com um simples acenar de cabeça, e deu-lhe espaço para entrar no espaço.

Bárbara ocupou o interior do apartamento, seguindo em direção da sala de estar, sem pedir autorização ao residente, visto que sentia que nada tinha mudado desde os tempos em que passava tardes na companhia do moreno. Sentou-se no sofá e aguardou por Afonso. Minutos depois, este surge na divisão com dois copos de água na mão, entregando um deles à jovem rapariga, e sentou-se no puff, ficando, assim, de frente para ela.

- Lembro-me da última vez que estiveste aqui. Deixaste bem claro que não voltarias a contactar-me por carência. – O jovem de cabelos pretos recordou o momento em que a ribatejana decidiu colocar um ponto final na relação amorosa que, um dia, os dois partilharam.

- Eu não estou aqui para isso. – A morena foi rápida a esclarecer.

- Então, estás aqui para quê, 'Babi? – Afonso questionou-a.

- Não tenho resposta para isso, Afonso, e tu sabes disso. – Ela respondeu-lhe.

- Tens sim. Vermo-nos outra vez, depois de tanto tempo afastados, trouxe-nos à memória todos os momentos que passámos enquanto casal. É normal queremo-nos, mais uma vez, nem que seja pela última vez. – O aspirante a gerente de hotel levantou-se do lugar que ocupava para se sentar ao lado da ex-amante que o olhava, incerta da veracidade das palavras dele.

- Mas não é isso que nenhum de nós quer. – Ainda a tentar assimilar todas as emoções que estavam a vir ao de cima, a natural de Santarém concluiu, recebendo um sorriso triste do rapaz proveniente da mesma zona que ela.

- Não é aquilo que tu queres. – Corrigiu-a. – Eu vi-o, a tua companhia de ontem, e vi a forma como ele te olha. Tens muita sorte em tê-lo, Bárbara.

- Não é aquilo que estás a pensar. Somos apenas amigos e nunca daríamos resultado da forma como tu estás a pensar. Além do mais, ainda não me sinto pronta para outra relação, como podes ver é difícil superar-te. – A de cabelos pelos ombros clarificou, negando a cabeça ao mesmo tempo que ria.