recomeçar.

277 15 44
                                    

Os ponteiros do relógio mexiam-se à medida que os minutos passavam, mas Bárbara permanecia no mesmo lugar desde que tinha chegado ao espaço público. No início daquela tarde, após abandonar o campus universitário e entrar na biblioteca próxima da faculdade onde estudava, acreditou que era capaz de se concentrar nos seus estudos e trabalhos que precisava de adiantar para não deixar para os últimos dias, e, assim, acusar pressão, por estar num espaço público, onde vozes baixas iam sempre ser escutadas, embora seja um local em que a primeira regra é fazer silêncio. Ou seja, deixava de escutar a sua própria voz, que, por vezes, podia ser manipuladora, para poder escutar de forma clara as vozes dos outros. Podiam julgá-la à vontade, mas era o único método que considerava eficaz para esquecer a pequena voz manipuladora a pairar na sua cabeça. Porém, naquela tarde de nuvens negras, a voz estava forte e conseguia-se sobrepor às vozes baixas das restantes pessoas que frequentavam o local.

No ecrã do telemóvel da morena, mantinha-se fixo a barra da aplicação Spotify com o nome da música que ela escutava e as três mensagens por ler enviadas pelo companheiro. Após ganhar coragem, agarrou nele, desbloqueou-o e premiu as mensagens para responder ao namorado que tentava entrar em contacto com ela para a ver, após o fim das aulas. Digitou um horário e um local e enviou para o estudante de turismo, bloqueando, novamente, o telemóvel.

Incapaz de se concentrar, decidiu arrumar as suas coisas dentro da mochila e começar o caminho de regresso a casa. Pelas horas que o relógio marcava, a vilafranquense considerava que mais valia regressar ao apartamento e começar a arranjar-se para se encontrar com o companheiro, pois sabia que tinha de arranjar coragem para o enfrentar e as consequências da decisão que tinha tomado na noite do dia anterior, caso o mesmo não aceite bem. A decisão era simples e esperada. Tinha de terminar a relação para o seu bem, para o bem do Gonçalo e para o bem do que resta da amizade que eles partilhavam. Porém, não era uma decisão fácil de tomar e de levar avante, até porque já a vinha a adiar há algumas semanas, senão meses.

Colocou a chave na fechadura da porta do apartamento, empurrando-a, e entrou, deparando-se com Teresa sentada no sofá.

- Não devias estar na faculdade a ter aulas? – Questionou a melhor amiga.

- O professor decidiu dar-nos esta aula livre para estudarmos para o teste surpresa de amanhã, que já não é tanto uma surpresa. – Teresa respondeu, sem retirar os olhos da televisão, onde assistia a um filme de comédia.

- Estás, então, a estudar o tempo que perdes à frente da televisão, quando devias estar a estudar?

- Acabei de chegar a casa e decidi ver este filme enquanto lanchava, ó rabugenta. – A estudante de sociologia reclamou. – Anda, senta-te ao meu lado. O que se passa, 'Babi? – Perguntou, depois da melhor amiga se sentar ao seu lado.

- Tomei a decisão.

- Que decisão? – Bárbara direcionou-lhe um olhar que demonstrou tudo o que ela estava a sentir. – Ah, essa decisão. Tens a certeza que é isto que queres fazer? Quer dizer, se te arrependeres, mais tarde, a vossa relação nunca mais vai voltar a ser a mesma.

- A nossa relação já nem é uma relação, neste momento. Não sei se me vou arrepender, ou não, mais tarde, neste momento, não estou a pensar nisso. Estou a pensar no facto que estou a sofrer uma lesão que me está a dar cabo da minha saúde mental e física e que não preciso de mais uma preocupação na minha vida. Preciso de algum tempo para estabelecer as minhas prioridades e nunca vou conseguir fazer isto, se tiver que lidar com problemas na minha relação. – Desabafou sob o olhar atento da melhor amiga.

- Sabes que te apoio sempre, independentemente das tuas escolhas. Estou aqui para ti e, se achas que é a melhor escolha a fazer, então, vai em frente, amiga. – A de cabelos pretos mostrou um belo sorriso ao afastar as pontas de cabelo que tapavam os olhos castanhos-escuros da amiga.

- Adoro-te, 'Tété. – De cabeça repousada no ombro da melhor amiga, Bárbara exprimiu.

- Também te adoro, 'Babi. – Teresa correspondeu, beijando os cabelos escuros da estudante de ciências políticas e relações internacionais.

;

Afonso e Bárbara olhavam-se frente à frente; ele sentado no sofá e ela sentada no puff, os dois em silêncio. Ambos sabiam o que significava aquele silêncio, por isso, não foi surpresa nenhuma quando a morena começou a falar.

- Isto não está a resultar.

Os olhos castanhos do jovem rapaz transmitiram mágoa, uma emoção sentida pelos dois, sem dúvida alguma. Contudo, embora sentisse o mesmo, a universitária não deixava de sentir uma dor intensa no peito, como se sentisse o coração dela a estilhaçar-se em pedaços pequenos, impossíveis de voltar a juntar.

- Nós vamos dar a voltar a esta situação. Já tivemos em situações mais complicadas e conseguimos resolver tudo em conjunto. – Apesar de crer que Bárbara estava a tomar a decisão correta, Afonso fez transparecer a vozinha no fundo a implorar-lhe para lutar pela relação, ou melhor, por aquilo que ainda restava da relação dos dois universitários.

- Os nossos caminhos estão destinados a serem diferentes, Afonso. Eu não te posso obrigar a seguir o mesmo plano que eu se não é isso que tu desejas e o vice-versa, também. Não me sinto pronta para te dar aquilo que queres. – Bárbara contrapôs.

- Se, isto é, por causa da nossa conversa acerca da minha vontade de começar a formar uma família contigo, eu não quis dizer agora, neste momento. Sei muito bem que ainda somos bastante jovens. Só quis manifestar que quando penso no meu futuro, tu estás lá.

- Não foi essa conversa que ditou o fim da nossa relação, mas é esse o maior problema. Quando pensas no teu futuro, imaginas uma versão de mim e da nossa relação que já não existe. Tu queres-me no teu futuro, porque não tiveste mais ninguém, nem mais nenhuma experiência, para além de mim. Estamos juntos desde que somos putos, Afonso. Não amaste mais ninguém para além de mim e tens medo de pensar no futuro sem mim. – Por fim, a melhor amiga de Teresa abriu-se ao grande problema que minava a relação. – É o que eu sinto, também. Estou assustada por não saber o que fazer assim que sair da porta fora. Porém, não podemos continuar assim. Eu sinto-me sufocada nesta relação. Aos poucos, tornámo-nos tóxicos um para o outro e, antes que piore, o melhor a fazer é colocar um ponto final.

- Nós podemos resolver os problemas que nos estão a afastar. Eu posso resolver.

- Não, não podes, Afonso. Os problemas têm de ser resolvidos em conjunto e nós não conseguimos. Não é uma questão de mudarmos ou não. Talvez sejamos certos um para o outro, só estamos no tempo errado. O quer que seja não interessa, o que interessa é que nos estamos a fazer mal. Não vale a pena continuar a pressionar a mesma tecla. É altura de cada um procurar pela própria felicidade.

Bárbara beijou, uma última vez, a bochecha direita do rapaz moreno, acariciando a outra com a mão, e, deste jeito, despediu-se do mesmo. Guardou as lágrimas que se formavam nas suas belas íris castanhas, voltou as costas, iniciando o seu percurso de regresso ao apartamento que dividia com a melhor amiga, e só aí deixou escapar a água contida nos olhos, perdendo o controlo total das lágrimas a cair-lhe pela face. 


💡

olá, olá!

trago-vos o segundo capítulo desta obra, ainda sem a presença do Diogo, mas, no próximo, poderão já contar com a presença dele! na sequência do final do primeiro capítulo, Bárbara tomou uma decisão que irá fazer com que a vida dela mude por completo, no entanto, adianto-vos já que ainda não é o fim da personagem do Afonso nesta história.

gostava de saber a vossa opinião deste capítulo e sobre aquilo que será o próximo, já que será nele que o Diogo fará a sua primeira aparição. 

espero que gostem! 🧡

beijinhos grandes,

mariana

lack of control | diogo gonçalvesOnde histórias criam vida. Descubra agora