dor.

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De pernas cruzadas 'à chinês' sobre a cama, Bárbara brincava com os dedos enquanto a dor alastrava-se pelo corpo. Esforçava-se ao máximo para conter as lágrimas que despontavam dos seus bonitos olhos castanhos. Porém, a verdade é que a dor já era muito intensa e, por mais que mudasse de posição, o nível de intensidade da dor mantinha-se e, em certos momentos, até aumentava. Num momento súbito, voltou-se para trás para agarrar o telemóvel e conferir as horas, pois parecia não querer acreditar no que o relógio digital sobre a cómoda ao lado da cama apontava. A noite já ia longa, pelo que a morena tentava não fazer barulho para não acordar a melhor amiga. Na noite anterior, tinha-se deitado cedo, visto que desejava acordar cedo na manhã seguinte para organizar o estudo das várias cadeiras, já que a época das frequências se aproximava, contudo, não esperava acordar cinco horas antes do previsto. As insónias traíram-na, assim como a dor no joelho.

Com o telemóvel na mão, premiu o ícone da rede social mais utilizada por ela, de seguida, a conversa com o lateral direito e, por último, digitou uma mensagem sem acreditar muito que iria obter resposta, pelo menos, não nos próximos minutos. Porém, enganou-se, pois, cerca de cinco minutos depois, recebeu a resposta do alentejano ao seu pedido. De imediato, num ato delicado, saiu da cama. Aproximou-se do guarda-roupa, retirou um fato de treino que substituiu o seu pijama e, para terminar, calçou os seus All Star já um pouco gastos. Guardou o telemóvel no bolso do casaco do fato de treino e partiu em direção à localização dada pelo jogador.

Chegada ao local acordado, Praia da Fonte da Telha, pela primeira vez, pôde observar a extensão da zona areal pela ausência de indivíduos. Com delicadeza, saiu do automóvel, que pertencia a Teresa, e caminhou para o areal, não sem antes retirar os ténis, ocupando um pequeno lugar da vasta extensão do local, enquanto aguardava pela chegada do moreno. Durante a espera, tentou alongar a perna direita, em particular, o joelho direito, no entanto, cada vez que o fazia, a dor intensificava-se e as lágrimas começavam a cair dos olhos. Visivelmente frustrada, Bárbara soltou um grunhido, conduzindo as mãos aos olhos para limpar qualquer vestígio de lágrimas, e deixou o corpo cair, lentamente, na areia. Breves momentos depois, tirou as mãos dos olhos para observar as estrelas no céu escuro da capital portuguesa, mas, em vez disso, deparou-se com o rosto do benfiquista que questionava, não só o porquê de estar ali àquelas horas, mas, também, o porquê da melhor amiga de Teresa estar naquele estado.

- Desde os dez anos de idade que pratico atletismo. – A ribatejana principiou. - Antes de atletismo, praticava natação, mas acabei por metê-la a um canto ao ver que aquilo não era muito a minha onda, embora adore aventurar pelo mar. Como o meu pai sempre incentivou a prática de algum tipo de atividade física, quer seja livre, quer seja modalidade, a mim e às minhas irmãs, acabou por me inscrever no atletismo, ignorando as minhas reclamações. – Riu, tornando o ambiente mais leve, e Diogo seguiu as suas passadas ao mesmo tempo que a contemplava. – No início desta época, sofri uma lesão no joelho durante um treino. Foi uma lesão bastante grave. Fui operada e afastada das pistas durante um bom tempo. Já estou em fase de recuperação há cerca de quatro meses e ainda não existe uma data prevista para voltar às pistas. É a primeira vez em anos que fico afastada das pistas mais do que meras semanas. – Engoliu em seco ao perceber que as lágrimas voltavam a formar-se nos seus olhos.

- Voltaste às pistas mesmo em período de recuperação? – Bárbara assentiu e o natural de Almodôvar continuou. – Como correu?

- Nada bem. Foi um desastre, sim, é a melhor descrição para aquilo que aconteceu. – A morena respondeu, continuando a brincar com areia. – Foi há cerca de um mês. Decidi voltar, porque sentia-me melhor, o que era verdade. Nem aguentei cem metros. O meu joelho traiu-me e esbardalhei-me ao comprido pela pista fora. A minha sorte foi o meu treinador estar nas bancadas a assistir ao exercício e, de imediato, veio ao meu auxílio. – Explicou. – Isto ainda vai piorar, não vai?

- Não te posso mentir, Bárbara. Isto ainda não é nada. Consigo ver que esta situação está a afetar-te psicologicamente, mas, também, consigo ver que não estás completamente afetada por toda esta situação, porque foste capaz de estar afastada durante um mês. – Diogo pronunciou-se.

- Estava a sofrer de um desgosto amoroso. Não tinha cabeça para pensar nisso. – A melhor amiga da estudante de sociologia contrapôs. – Na última noite em que nos encontrarmos, tinha estado próxima do local, onde praticava, mas decidi afastar-me antes que desse para o torto. – Revelou.

- Lá está. É isso que eu quero dizer. Ficaste afastada, porque tinhas de recuperar psicologicamente de uma separação difícil, mas, agora, que recuperaste parcialmente disso, vais correr o risco de pensar cada vez mais nesta situação, ultrapassar o risco e piorares a tua lesão, caso pises as pistas para correr. – O melhor amigo de Gonçalo tentou fazê-la compreender o seu ponto de vista.

A estudante de segundo ano de relações internacionais e ciência política suspirou e voltou a deixar cair o seu corpo sobre a areia. Fechou os olhos, ficando a escutar as ondas a baterem na areia. Foi nesse momento em que se lembrou daquilo que a tinha feito contactar o moreno e a tinha trazido até àquele lugar. A dor. Já não a sentia, pelos menos, não com o nível de intensidade de há pouco.

- Porque é que me chamaste, Bárbara? – Finalmente, o ex-jogador do FC Famalicão questionou a morena que abriu os olhos para o contemplar.

- Acordei com uma dor intensa no joelho. Mal conseguia mexer-me, no entanto, parece que já diminuiu a intensidade, ainda que a dor continue cá. – Respondeu, acariciando o joelho direito, e esboçou um pequeno sorriso de agradecimento que foi recebido com um simples assentir do futebolista. – Além disso, confio em ti. Precisava de conselhos, bons conselhos, aliás, e não me falhaste da outra vez, não seria agora que irias falhar. – A de dezanove anos de idade pousou o cotovelo no joelho e descansou a cabeça na palma da mão enquanto olhava para o jogador com o mesmo sorriso.

- Sabia que a questão da vista não ia durar muito. – Divertido, o alentejano falou, recordando as últimas mensagens que tinha trocado com a rapariga durante a manhã do dia anterior.

- Não puxes por mim, Diogo Gonçalves. – A expressão facial da jovem portuguesa mudou para uma mais séria, divertindo, ainda mais, o benfiquista.

Diogo aproximou-se dela, beijando, delicadamente, a bochecha da morena que não evitou corar pelo ato genuíno. Mentiria se não tivesse se assustado quando viu a face do bejense a aproximar-se da dela, contudo, mesmo que os lábios dele tivessem ido parar à bochecha dela, um gesto normal entre amigos – e os dois já podiam ser considerados amigos -, as batidas do seu coração aceleraram, como se o seu coração estivesse prestes a sair pela boca. Para disfarçar o combate entre a razão e o coração que estava a ocorrer dentro dela, a natural da região ribatejana de Portugal sorriu, timidamente, e voltou o seu castanho para o azul do mar. 

Tudo estava a desenvolver-se muito rápido.

Bárbara só não sabia se estava a gostar ou não. 


💡

olá!

primeiramente, espero que esteja tudo bem convosco!✨🤍

agora, deixo-vos o sétimo capítulo desta história, onde se conhece mais sobre a lesão que afastou Bárbara das pistas e da modalidade que pratica, e, finalmente, com este final, já se começa a ver uma mudança mais nítida nela, mais precisamente, no coração dela. 🤭

espero que estejam a gostar tanto quanto eu! obrigada por estarem desse lado 🧡

beijinhos grandes,

mariana


lack of control | diogo gonçalvesOnde histórias criam vida. Descubra agora