destroçados.

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Os olhos da morena fitavam a pista coberta, agora, vazia. Não era suposto estar ali, ou melhor não queria estar ali. Tinha se comprometido a ficar afastada daquele espaço durante o período de recuperação para não piorar o seu estado mental; porém, a pedido do treinador, veio tratar de algumas burocracias e por lá ficou, assistindo ao treino dos colegas até que estes abandonassem o espaço que se tornou silencioso e escuro. De pernas cruzadas 'à chinês', Bárbara era incapaz de desviar os olhos castanhos. Parecia estar presa num abismo e a sofrer de uma crise existencial, enquanto as batidas do coração aumentavam a cada segundo e a respiração tornava-se ofegante. Estava a sofrer um ataque de pânico, sozinha, sem ninguém para a ajudar, e presa num palácio escuro mental.

O telemóvel repousado no banco ao lado daquele que ocupava parecia ser uma escapatória do palácio criado pelo seu subconsciente, contudo era preciso pegar nele para ligar à primeira pessoa capaz de a ajudar que lhe passou pela cabeça e a morena parecia ser incapaz de agarrar no aparelho. No entanto, por obra de seres superiores a ela, talvez, não foi preciso nada disto, porque essa mesma pessoa entrou no local e, rapidamente, aproximou-se dela e deu-lhe a entender da sua presença no espaço ao descansar a mão direita no ombro esquerdo dela.

Só a partir desse momento é que Bárbara compreendeu a influência e o poder – positivo ou negativo – que Diogo tinha sobre ela, uma vez que a respiração dela acalmou, o ritmo cardíaco abrandou, apesar de continuar num ritmo acelerado, mas por outras razões, e os olhos, finalmente, desviaram-se da pista e colidiram com os olhos castanhos-escuros do moreno que transmitiam tranquilidade, essa mesma tranquilidade que a natural de Santarém tanto necessitava.

- Como é que me encontraste? – Com os olhos no extremo comprometido ao clube da Luz, depois de perceber que ele não iria abrir a boca para explicar a presença dele no espaço, ou melhor, como é que ele sabia da presença dela no complexo desportivo, Bárbara questionou-o.

- Não foi muito difícil. – Vários minutos depois, já num momento em que a morena estava a pensar que o jogador não a tinha ouvido, ou, simplesmente, não quisesse falar com ela, e em que ela até já se tinha esquecido qual foi a pergunta colocada por ela, Diogo respondeu. - Não é como se estivesse propriamente escondida neste lugar. Mas, mesmo que tivesse quase certeza absoluta de que te encontraria aqui, uma parte de mim queria acreditar que era impossível, devido à tua promessa em manteres-te longe daqui enquanto não estivesses totalmente recuperada da lesão, quis acreditar que este era o último lugar onde te encontraria. – O de vinte e três anos de idade confidenciou.

A estudante de segundo ano desviou o olhar do moreno, voltando a fitar as pistas, e não evitou revirar os olhos com a afirmação dele.

- Poupa-me os sermões, Diogo. Não preciso que ninguém me diga que estar aqui é errado, eu sei que é. Mas, nem tudo é um mar de rosas e estar afastada das pistas está a matar mais depressa do que pensava, no sentido metafórico da palavra. Sinto-me mais afetada pelas consequências da lesão do que propriamente com a lesão.

- Não és a única no mundo do desporto, e fora dele, que tem lesões. Os teus colegas já tiveram lesões, eu já tive lesões, e, como tu, também já tivemos momentos em que acusamos pressão e ansiedade por estarmos longe do nosso palco. Porém, também, nunca desistimos. Por isso, nada do que te estou a dizer deve ser levado como um sermão, porque, em momento algum, essa foi a minha intenção. – O adepto do clube da Luz rejeitou a insinuação da morena e cortou o contacto físico que os unia pela mão repousada no ombro dela, contudo, manteve-se próximo dela ao sentar-se muito perto dela. – Acredito que não vale a pena estar a enumerar as consequências físicas e mentais que o teu comportamento pode causar, porque tu sabes, mas, pelo teu bem, por favor, tens de parar de uma vez por todas.

lack of control | diogo gonçalvesOnde histórias criam vida. Descubra agora