lack of control | diogo gonçalves

pôr de sol.

O canto do sofá servia de refúgio para Bárbara que, concentrada, lia os seus resumos da matéria dada na cadeira em que iria ser testada no dia seguinte através da frequência. De fundo, escutava-se a playlist de músicas a tocar num volume baixo enquanto o resto da casa estava em silêncio, já que a morena de origens na zona ribatejana do país encontrava-se sozinha no apartamento. Apesar de ser final de tarde de um domingo, Teresa tinha-se ausentado após o almoço sem dar detalhes à melhor amiga do lugar onde iria estar.

O trinco da porta de casa a abrir-se desviou a atenção de Bárbara das folhas brancas anotadas para a entrada da casa, onde avistou a figura da estudante de segundo ano de sociologia que se esperneava, com algum esforço, para fechar a porta ao mesmo tempo que carregava o saco de compras. Rapidamente, a estudante de ciência política e relações internacionais deixou os papéis de lado, levantou-se do sofá e acorreu a melhor amiga, ajudando-a a carregar o saco pesado até à cozinha.

- Se me tivesses dito que ias ao supermercado, tinha ido contigo para não fazer isto tudo sozinha. – Enquanto retirava os produtos do saco e guardava-os, à vez, nos locais adequados, a ex-companheira de Afonso comentou.

- Passei no supermercado à vinda para cá. – Teresa revelou.

- De onde? – A morena persistiu.

- Como quis que ficasses em silêncio para te concentrares nos estudos, fiz a vontade à minha mãe, passei lá por casa, ficando durante um bom bocado, e, agora, mais para o fim da tarde, fiz a vontade ao 'Guga e fui beber um café com ele. O Diogo até apareceu, mas já não passou de dez minutos. – A universitária de cabelos pretos, por fim, desvendou o mistério da sua ausência.

- Uma tarde e peras. – Bárbara sorriu.

- Podia te ter dito para vires ter ao café, mas não queria ouvir-te a comentar do quão cansativo é fazer de vela.

- Para isso estava lá o Diogo. – Murmurou. – Fiquei bem em casa, não te preocupes. – A de dezanove anos disse, voltando as costas à melhor amiga, que, entretanto, já tinha começava a preparar o jantar, e dirigindo-se à despensa para guardar os pacotes de arroz. – Não faças comida a contar comigo. O mais certo é fazer um chá e comer umas bolachas de água e sal, nem estou com vontade de comer, só quero deitar-me cedo para amanhã acordar com a cabeça limpa e serena.

- E se eu fizer sopa? Assim, jantas algo mais consistente. – A estudante de segundo ano de sociologia perguntou, mostrando-se preocupada pelas escolhas para a refeição da melhor amiga.

- Não precisas. – Bárbara recusou, encolhendo os ombros.

Durante breves minutos, as duas amigas deixaram o silêncio entrar na divisão e instalar-se entre elas. Teresa concentrou-se na preparação do seu jantar, enquanto Bárbara continuou com a tarefa de colocar os produtos comprados nos sítios adequados.

- Este silêncio serve como revolta por não te ter convidado para o ires ao café ter com o 'Guga e, especialmente, com o Diogo, ou estás mesmo cansada? – Francamente constrangida, a natural de Santarém questionou a melhor amiga.

- O que queres dizer com o "especialmente com o Diogo"? Eu disse-te que tinha ficado bem em casa a estudar para a frequência de amanhã que é muito mais importante que um convívio com vocês com todas as certezas.

- Depois destes anos todos de amizade, continuo sem te entender. És um enigma, Bárbara Andrade. – Teresa não evitou rir. - Contudo, fica descansada, da próxima vez, pergunto ao Gonçalo se o Diogo se vai juntar para te avisar com antecedência. – Prometeu. – Agora que me lembro, ele até perguntou por ti.

Bárbara revirou os olhos ao colocar o pack de iogurtes no frigorifico e, ao verificar que o saco já estava vazio, abandonou a divisão, sem nada mais dizer, depois de guardar o saco juntamente aos tantos sacos vazios que as duas raparigas universitárias têm na despensa da cozinha. No entanto, no fundo, tentava resistir à vontade de questionar acerca daquilo que Diogo quis conhecer acerca dela.