- Devia estar a ajudar a tua avó a preparar as coisas para amanhã.
Diogo riu-se, abanando a cabeça. Desde o primeiro segundo em que avisou os avós que sairia com a natural de Santarém e lhe pediu para trocar de roupa para um conjunto mais confortável que ela ainda não tinha parado de protestar, resmungar e/ou arranjar desculpas para voltar para a casa pertencente aos progenitores do seu pai. Uns metros mais à frente que ela, o futebolista percorria os trilhos, que conhecia como a palma da sua mão, sempre a olhar de vez em quando para trás com o intuito de perceber se a jovem portuguesa ainda o acompanhava.
Bárbara tinha trocado o seu macacão por um par de leggings e uma camisola larga alusiva ao clube fundado em mil novecentos e quatro por Cosme Damião, esta como uma oferta do adepto fervoroso e atleta do mesmo clube, e calçado uns ténis mais adequados para o caminho que estava a percorrer na companhia do lateral.
- Estás com dores? – O camisola dezassete da equipa principal de futebol do clube da Luz cessou os passos, girou o corpo e a atenção para a estudante académica e questionou-a.
- Só com a dor constante. – Bárbara respondeu, com a atenção disposta no chão e cautela para não se magoar enquanto percorria a zona de pedras.
O destino pretendido pelo alentejano localizava-se a longos quilómetros de distância da habitação dos avôs paternos, por isso, a dupla teve, primeiro, de se deslocar de viatura, e, de seguida, por ser uma área interdita a transportes de rodas, viram-se obrigados a prosseguir o caminho a pé. Embora à primeira vista não fosse um trilho fácil de fazer, uma vez que era um trilho demarcado por algumas rochas, a natural de Santarém não hesitou em continuar o caminho e seguir as pisadas do moreno mais velho por quatro anos. Aquando da pergunta colocada pelo mesmo, a jovem replicou num tom baixo dado que tinha chegado ao fim do percurso da estrada de pedra, contudo tinha de subir uma rocha que aparentava ser um degrau para alcançar a zona do miradouro. Ao aperceber-se das dificuldades pelas quais a morena estava a passar, o nascido na região alentejana do país esticou a mão na direção dela e ela agarrou na mão dele para se apoiar. Primeiro, começou por posicionar o pé direito sobre a pedregulho, ao mesmo tempo que preparava a outra perna, e o resto do corpo, para subir ao aproximar-se mais da pedra, e pressionou o calcanhar contra a mesma e envolveu, com mais força, a sua mão na do moreno para dar o impulso e, assim, o corpo subir.
- Se te a dor se intensificar, diz-me, logo, okay? – Diogo certificou-se, recebendo o assentir por parte da ribatejana, e, com a outra mão livre, levou uma mecha de cabelo dela atrás da orelha dela, direcionando-lhe um sorriso. – Ainda nos falta uns bons metros até chegarmos ao local. – Acrescentou, puxando-a, cautelosamente, na direção pretendida.
À medida que o moreno a puxava, por mais cauteloso estivesse a ser, Bárbara tentava ao máximo conter a expressão de dor. A verdade é que o movimento de pressionar o calcanhar no pedregulho obrigou-a a esforça o joelho também, provocando-lhe o intensificar da dor no joelho direito. Pensou em avisá-lo, especialmente, depois dele lhe ter pedido para o fazer, caso a intensidade da dor aumentasse, porém, a expressão de felicidade no rosto dele impediu-a de fazer.. Se lhe revelasse da sua dor, a primeira coisa que Diogo faria era voltar atrás. Ele quis mostra-lhe mais do lugar que o viu nascer, crescer e tornar-se no homem que era e nada a deixava mais animada.
Um sorriso radiante surgiu nos seus lábios acompanhada de uma expressão facial de puro contentamento no momento em que as suas íris castanhas presenciaram, de uma perspetiva acima, a paisagem das casas e terrenos pelos quais passaram de automóvel no percurso de ida para aquele local arqueológico alentejano. Por largos momentos, a jovem rapariga de cabelos escuros esqueceu-se da aflição sentida no joelho, mas que percorria o corpo todo, e ficou-se a contemplar aquele cenário acompanhada pelo vento fresco a embater na sua face. O demorado tempo e o sofrimento sofrido para chegar até ali era compensado pela vista aldeia alentejana.
VOCÊ ESTÁ LENDO
lack of control | diogo gonçalves
Teen Fiction"𝘛𝘩𝘦𝘴𝘦 𝘮𝘪𝘯𝘦𝘧𝘪𝘦𝘭𝘥𝘴 𝘵𝘩𝘢𝘵 𝘐 𝘸𝘢𝘭𝘬 𝘵𝘩𝘳𝘰𝘶𝘨𝘩 𝘸𝘩𝘢𝘵 𝘐 𝘳𝘪𝘴𝘬 𝘵𝘰 𝘣𝘦 𝘤𝘭𝘰𝘴𝘦 𝘵𝘰 𝘺𝘰𝘶" diogo gonçalves fanfiction 2021 -ɪᴀᴍᴍᴀʀɪ-