Passado

1.9K 218 244
                                    

Para conseguirmos entender o presente, precisamos conhecer o passado, ou parte dele.

Você está no início do fim, eu estava prestes a desistir de tudo, mas as coisas podem mudar, dependendo da motivação que você dá á elas.

Talvez daqui em diante, você não venha a me entender, mas para isso acontecer, eu preciso lhe dizer pelo o que realmente eu passei, e o que me fez chegar até aqui.

Sou irmã mais velha do Uchiha Shisui, um grande prodígio e orgulho do meu clã, mas não podemos dizer o mesmo de mim.

Shisui já havia me ultrapassado em vários aspectos. Mesmo com a nossa diferença de idade, ele era bem melhor do que eu.

O que o contrário do que muitos pensam, eu tinha orgulho dele, mesmo minha família me chamando de inútil e vergonha do clã, eu permanecia quieta, observando sempre de longe.

•••

— Você é uma vergonha para o clã, nem o sharingan despertou... — Minha mãe segurava em meu braço, me sacudindo.

Me encolho, abaixando a cabeça, sentindo nó se formar em minha garganta.

— Nee-chan, Okasan? — Olho para o lado, Shisui havia acabado de voltar de uma missão. Suas vestes estavam ensangüentadas, ele segurava sua bandana na mão.

Minha mãe me solta rapidamente, indo correndo dar um abraço em seu querido filho.

Sorrio para Shisui, segurando as lágrimas que insistiam em cair. Antes que ele pudesse falar alguma coisa, saio daquele cômodo, me retirando de casa.

Eu o amava, mas não conseguia fingir que nada estava acontecendo; não agora.

Caminho pelas ruas de pedras, meu coração palpitava rapidamente, as lágrimas agora rolavam sem filtros.

Olho para as minhas mãos, estavam calejadas de tanto treinar, eu tentava me elevar ao extremo, mas mesmo assim, ainda era fraca.

Eu queria gritar... Por que eu era tão fraca? Por mais que eu tentasse, lutasse todos os dias, eu nunca iria conseguir ser forte, sempre serei a fraca, a desgraça do clã.

Akemi? — Levanto a cabeça, Obito segurava um buquê de flores, com um sorriso no rosto, que logo se desfaz ao perceber que eu estava chorando.

Sinto meu coração dar um pulo, borboletas invadirem minha barriga. Cada detalhe dele era perfeito, desde o jeito que usava seus óculos laranjas, até seu cabelo espetado.

— Está tudo bem?

Por um momento esqueci de tudo, permanecendo apenas a sensação de bem estar que eu sentia ao estar ao seu lado.

Meu olhar recai no buquê, franzo o cenho.

— Está! — Limpo rapidamente minhas lágrimas com o dorso da mão. — Buquê bonito...

Seu belo sorriso volta ao seu rosto, alcançando os seus olhos.

— É para a Rin...

Engulo em seco.

Eu já sabia, para ele, sempre seria ela, ele a amava e eu queria que ela percebesse isso. Não importava quem Obito amava, eu apenas queria ver sua felicidade, sendo comigo ou não.

•••

É uma coisa simples, eu amava Obito, Obito amava Rin e Rin amava Kakashi.

Nunca fui boa com despedidas, e quando fiquei sabendo que Obito morreu em missão, eu senti como se alguém estivesse dilacerando o meu coração, a dor tomou conta de mim e foi aí que despertei o meu sharingan.

Ainda consigo sentir a sensação desse dia, o ódio fluindo por minhas veias, a negação tomando meus pensamentos... E o maior de todos, o buraco que sua ausência fez em meu peito.

Comecei a treinar todos os dias, focalizando toda a minha dor nos treinos. Mas mesmo assim, ainda era fraca demais, frágil demais.

Sempre passava despercebida entre as pessoas, elas não se importavam muito comigo, eu era como um erro para a sociedade, um experimento que não deu muito certo.

Entrei para a ANBU juntamente com Itachi, Shisui e Kakashi. No começo eu pensei que eu estava começando a ser reconhecida, mas logo soube que meu pai havia pedido diretamente para Danzou me convocar... Dizia ele que eu era um estorvo dentro de casa.

Patético.

A parte mais difícil disso tudo era olhar para Kakashi. Saber que o olho de Obito estava lá era difícil para mim, era como a assombração da pessoa que eu sempre amei.

Eu não conseguia suportar isso.

Tempos mais tarde, fiquei sabendo de toda a rebelião que iria acontecer, e sabia o que Itachi precisava fazer, havia aceitado isso.

Mas um detalhe me fez mudar... Uma coisa que fez a minha dor aumentar 10 vezes mais.

Ver Danzou arrancar o olho do meu irmão.

Eu queria arrancar a cabeça daquele desgraçado, queria arrancar cada olho dele lentamente, para ele sentir toda a dor que causou ao meu irmão, mas eu paralisei, eu era fraca demais, o remorso grande demais, a humanidade ainda ligada.

Shisui não gritou, ou revidou, já havia aceitado seu destino, o seu fim... Mas eu não estava pronta para morrer, não naquele momento.

Fiquei o observando dar seu outro olho para Itachi e se suicidar. O grito ficou preso em minha garganta, o meu peito fora dilacerado outra vez, mas agora eu tinha certeza que nunca mais seria restaurado.

Era naquela noite, todos os Uchihas iriam conhecer a morte, mas eu não estava presente no momento, naquela hora, estava tão paralisada de medo que outra pessoa se aproveitou disso.

Orochimaru.

Ele ansiava por corpos Uchihas, e uma ali desesperada e impotente, foi a oportunidade perfeita para atacar.

Não sei dizer se foram anos, meses, horas... Mas eu fui subestimada a todo tipo de experimento que alguém pode imaginar, fui presa e tratada como um objeto de estudos, já que eu não era o alvo, e sim o outro prodígio do clã.

Uchiha Itachi.

Eu fui usada. Ainda posso sentir a brasa quente do ferro contra o meu corpo, era tanta dor que, agora eu não conseguia sentir absolutamente nada.

Poderiam arrancar meu braço, que eu não sentiria nada.

Havia perdido tudo, a única pessoa quem amei, meu irmão, minha família... Meu corpo estava fraco demais, eu sabia que a qualquer momento iria morrer.

Orochimaru percebeu isso também, então me soltou, simples assim, mudou de esconderijo e deixou eu para as bactérias fazerem a decomposição.

Dizem que quando estamos prestes a morrer, sua vida passa em flashbacks por seus olhos, e isso era verdade, porque o rosto de Obito e Shisui eram tão vivos que pensei estar no paraíso.

Geração do ódio Onde histórias criam vida. Descubra agora