Dou um suspiro, encostando a minha cabeça na parede e olhando para o teto, afastando as memórias que me davam náuseas.
— Eu só não achei que levaria tão a sério. — Digo com um tom sarcástico.
Ouço uma risada nasalada.
Fecho os olhos por alguns momentos, eu estava extremamente confusa.
Depois do falso desmaio, eu senti Kakashi me levar para algum lugar, mas não ousei dar qualquer espiada. A parte de ficar imóvel foi fácil, até porque eu estava exausta.
Após isso eu peguei no sono, e bom, acordei com aquelas imagens imundas e repugnantes em minha mente. Por mais que eu tentasse, não conseguia afastá-los completamente.
Quando ainda estava com Orochimaru, eu vomitava todos os dias, percebendo que meus pesadelos eram reais... Mas agora, eu estava livre.
Você está livre, você está livre...
Repito para mim algumas vezes, até a minha respiração voltar ao seu ritmo considerado normal.
Mas eu ainda não conseguia entender o que o mascarado ao meu lado queria. Eu sei qual é a minha missão, eu não preciso que ele fique aqui de babá comigo... Só se eles realmente não confiem em mim, ambos os lados; Konoha com Kakashi me monitorando, e Akatsuki, com Tobi.
Mas... Por que ele se dava o trabalho de sempre que me vê destruída fazer brincadeirinhas comigo? Ou segurar meu cabelo enquanto eu vomito... Eu não entendi porquê ele parecia se importar tanto.
A seringa... Ele confiscou ela de mim, por que todo esse esforço idiota?
Ás vezes ele possa achar mais fácil me manipular assim, fazendo eu acreditar que alguém ainda pode ser legal. Mas mal sabe ele que qualquer coisa que ele dissesse eu faria, estava vazia por dentro, não me importava com os meus sentimentos mais, era apenas ódio, desespero e...
Sede de vingança.
— Por que? — Pergunto depois de alguns longos minutos em silêncio, me desencostando da parede e abrindo os olhos.
— O que? — Sua voz grave era apenas um sussurro, fazendo eu me arrepiar. Ainda não estava acostumada com sua mudança de temperamento.
— Por que você tá aqui? — Paro de falar, suspirando. — Quer dizer, por que você finge se importar? Por que não me deixar vomitar as tropas sozinha? Por que está aqui no banheiro comigo?
Uma risada.
— Quantas perguntas, Akemizinha. — Tobi se endireita, virando seu rosto em minha direção.
Por uma fração de segundos, me senti tentada a retirar aquela máscara... A ver o que ele escondia atrás daquilo, das piadas infantis, das mudanças de humor... De como ele pode parecer vulnerável e inocente, ao mesmo tempo que ele se moldava de um jeito que parecia um predador.
— Primeiro: Eu estou aqui porque Pain ainda não confia plenamente em você, e eu também não... Mas vendo você assim, acho que estou mudando de ideia. — Não mexi um músculo enquanto ele falava. — Segundo: se você ficasse vomitando ai, Kakashi poderia escutar e vir aqui te fazer perguntas, e acho que você não está em condições de tal coisa. Terceiro: eu estou aqui porque senti pena de você... Tão frágil.
Faço uma careta, cerrando os punhos e o maxilar.
Eu não precisava de sua pena, não precisava que ele me vigiasse, eu não tenho pra onde correr, e ele sabia disso.
— Estou grata, mas dispenso. Não quero sua pena. — Sibilo.
— Eu entendo como você se sente. — Sua voz era sarcástica, dissipando qualquer vestígio do garoto inocente que eu havia pensado existir dentro daquela máscara.
Meus lábios estavam reprimidos em uma linha fina, tentando deixar minha respiração estável.
— Não sei por que merda você passou, mas não acho que você possa me entender. Na verdade, não quero a sua compaixão, você ainda não entendeu?
— Eu também costumava a vomitar quando as lembranças vinham. — Outra risada, mas ela era vazia, fria. — E em meu ponto de vista acho que você precisa de mim. — Tobi abre o casaco, fazendo eu prender o fôlego repentinamente. Ele estende a seringa em minha direção, em um movimento seco tento recupera-la, mas foi em vão, ele havia guardado novamente. — Você não tem pra onde ir, eu vou sua única escolha.
O mascarado se levanta, me deixando imóvel sentada sobre o mármore frio.
— Acho melhor você se recompor. — Ele aponta para a privada.
No momento em que eu desviei o olhar, senti uma sensação bizarra no ar, como se algo estivesse sumindo, um vazio repentino. Olho para Tobi, mas ele não estava mais lá, ele havia sumido.
Escuto passos distantes se aproximarem.
Rapidamente me levanto, pressionando a descarga ao lado do caixa de água, fechando a tampa da privada e respirando fundo.
O banheiro estava escuro, nenhuma janela, nenhuma luz. Eu não fazia ideia de que horas eram.
Três batidas na porta que eu não sabia estar fechada.
Cambaleio até a maçaneta, abrindo a mesma e me deparando com o Kakashi, me medindo, novamente.
Será que ele me reconhecia? Ao menos uma parte de seu corpo acreditava que eu talvez pudesse estar viva?
Sinto um calafrio percorrer a minha espinha com esses pensamentos.
Será que ele ainda amava Rin? Ou o Obito? Ao menos se sentia tão vazio quanto eu?
Não.
Ele tem um lar, tem uma Vila, tem um lugar para voltar. Eu não tinha nada.
Por breves segundos eu almejei tudo aquilo, senti inveja de sua vida.
— Está tudo bem?
Faço um aceno breve com a cabeça.
— Será que podemos conversar?
Não respondo nada, apenas mexo a cabeça novamente, seguindo o homem aqui agora dava passos pela casa.
Atravessamos o quarto escuro em que eu dormira, passando pela sala de estar que continha apenas uma mesa com quatro cadeiras, parando por ali. Ele puxa uma cadeira para mim e se senta em minha frente.
Passo rapidamente os olhos por aquele local, catalogando a posição dos móveis e quantas portas haviam ali.
— Do que você se lembra? — Ele passa as mãos pelas têmporas. — Olha, era para você estar com os especialistas, mas você parecia tão exausta.
Pena, mais pessoas com pena para eu adicionar a minha lista.
Era muito estranho ver aquele rosto tão familiar aos meus olhos e não poder falar livremente, não poder sacudi-lo.
— Apenas do meu nome e de quando aqueles dois me ajudaram... — Faço uma pausa. — Naruto e Sakura eu acho.
Ele não desviava os olhos de mim, nem por um instante sequer.
— Você apareceu bem machucada...
— Acho que sim.
Sinto o ódio fulminar em minhas veias, eu não suportava olhar para seu rosto.
— Desculpe, mas não posso fazer muito por você. Preciso te levar até a Hokage.
Deixo os ombros relaxarem.
— Tudo bem. — Sinto um nó na garganta. — Arigato... Por ter me trazido até a sua casa e deixado uma cama para eu dormir.
Por baixo da máscara percebo um leve sorriso, franzindo o pedaço de tecido sob a boca.
Ele apenas faz um sinal com a cabeça, se levantando da cadeira e me fazendo o seguir.
Passamos pela sala de estar, onde havia um livro laranja disposto sobre o sofá, mas não pude me demorar nele a tempo de ver seu título, minha atenção foi desviada para outra coisa; Um quadro emolduro em uma madeira escura, com uma foto disposta nele.
Kakashi, Obito e Rin. Eles pareciam...
Felizes.
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Geração do ódio
FanfictionAmor, uma palavra tão pequena, mas com o significado imenso. Isso pode ser sua salvação, ou sua destruição. Akemi amava Obito, mas o garoto amava outra pessoa. Depois de receber a notícia que Obito havia morrido em uma missão, Akemi viu seu mundo...