Juanito (correção: Julia)

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Esta one shot será sobre quando o Juán contou ao Benjamin que é uma mulher. Eu não conheço ninguém trans e tentei fazer isto como puder. Se alguma coisa estiver errada quanto ao tema da transsexualidade, por favor avisem-me para corrigir!

Por favor, leiam as notas iniciais!





POV. Juanito

É hoje. Vou contar ao meu pai que sou mulher. Que nervos! Encaro a porta da prisão, tensa e nervosa. Nunca conversei com o meu pai sobre o que ele acha da comunidade LGBT+, então não faço ideia se apoia ou não. Ele é um homem bastante simpático e compreensivo, o que me dá alguma confiança. Mas há sempre aquele medo de não aceitar, que me assusta para caralho.

Limpo o suor das mãos às calças e respiro fundo antes de entrar.

- Miúdo, o teu pai já vem - Diz a responsável pelos encontros e pelas visitas que os reclusos têm. Conheço-a desde pequena.

- Obrigada, Srta. Alvez - Agradeço e dou um passo em frente para as mesas com um vidro a separar-nos.

Preferia que fosse uma visita íntima, mas se ele não aceitar, não seria a melhor ideia. Sinto o meu estômago revirar-se pelos nervos assim que vejo o meu pai acenar. Respiro fundo. Vai correr bem, Julia. Tem calma.

Limpo algum suor que voltou a acumular-se na palma da minha mão e sento-me. Encaro o meu pai, com um sorriso na cara, se sentando.

- Como estás, filho?

- Bem, e tu?

- Também. Estava há pouco a conversar com o Agustín enquanto jogávamos cartas - O meu pai continua a falar, mas só sinto o meu batimento cardíaco acelerar por medo que o meu pai não aceite e não presto atenção ao que diz.

- Estás bem, Juán? - Pergunta o meu pai, batendo no vidro para me chamar a atenção.

- Julia - Solto e vejo o meu pai encarar-me, confuso.

- Julia? Quem é a Ju...? - Interrompo imediatamente as perguntas do meu pai.

- Sou eu - Digo com umas lágrimas nos olhos. - Isto - Aponto para o meu corpo. - não sou eu. Pai, eu sou uma mulher.

O meu pai encara-me, sem dizer nada e sem reação.

- Pai? - Pergunto, aflita.

Um sorriso afetivo e compreensivo começa a surgir nos seus lábios. Solto o ar que nem sabia que segurava e deixo mais lágrimas escorrerem-me pelas bochechas.

Ele aceitou! Ele está bem com isso, penso.

Ele aproxima a sua mão no vidro e, depois a sua testa e imito-o.

- Eu sempre quis ter uma filha - Ele diz, sorrindo, com a testa e a mão no vidro.

Começo a chorar, emocionada. Afasto a minha mão e a cabeça do vidro.

- Abram a porta, por favor! - Peço, referindo-me à porta que nos separa.

O policial que conheço desde pequeno estranha.

- Está tudo bem? - Pergunta ele.

- Abram a porta, caralho! - Berro e ele abre um pouco, assustado e provavelmente achando que estou louca ou louco, porque não sabe que, na verdade, sou mulher.

O meu pai também se aproximou da porta e assim que a abriram, corri para os seus braços num abraço apertado.

Sinto-me muito mais aliviada agora. Ficamos abraçados um ao outro, sem nos importamos com os policias a reclamarem as famosas regras: Chega, nada de abracos!

Aos poucos, quebro o abraço, beijo-lhe a testa e limpo as lágrimas que ainda me escorriam pelas bochechas.

Nem sei descrever a felicidade que sinto neste momento. Provavelmente, é o momento mais feliz da minha vida.

O meu pai limpa-me uma lágrimas e rimos juntos.

- Que alívio! Não fazes ideia de como me sinto feliz e aliviada neste momento - Digo.

- Imagino, estou orgulhoso de ti,... Júlia - Sorrio e solto mais umas lágrimas. A primeira vez que o meu pai me chama pelo meu verdadeiro nome.

- Quanto é que descobriste? Como...? - Interrompo as suas perguntas, rindo, já as conhecendo.

Sinto uma mão no meu ombro e me viro. O agente Silva encara-me, com cara de poucos amigos por esta aproximidade toda.

Percebo o que tenho de fazer e volto, onde estava antes e o meu pai também.

- Faz um tempinho já. Não me assumi antes por medo e porque é um assunto sensível - O meu pai assente e explico-lhe melhor de como descobri.

- Eu sempre fui mulher, mas antes não sabia. O Juanito de 5 anos não sabia, mas, por dentro, era uma mulher - Explico melhor isto.

- Desculpa a pergunta, mas: és uma mulher transgénero. Ok! Mas és uma mulher trans heterossexual ou lésbica? - Rio-me da pergunta.

- Garotos, pai. Se queres saber de quem gosto, sem dúvida, são garotos e conheço bem qual é o meu tipo de garotos - Respondo.

- Desde que te aceitem e sejas feliz com ele, eu também fico feliz - Responde o meu pai.

Remexo-me na cadeira. Queria falar do tratamento, mas é muito caro e isso.

- Agora, o mais importante, filha. O tratamento. Conheces alguma clínica? Quanto custa? Onde é? Quero ir contigo a alguns tratamentos se puder - Pergunta o meu pai e sorrio, por querer estar comigo neste momento tão importante da minha vida.

- Sim, conheço. É em Dos Hermanas, pai. Deram-me o contacto há umas semanas, mas é caro. Eu vi e são uns 10 mil euros - Respondo, um pouco triste.

- É caro - Diz o meu pai e concordo.

- Mas eu já comecei a poupar, quando tiver o dinheiro, começo o tratamento. Não temos muito, eu sei. Andei a arranjar uns trabalhinhos extra para me ajudar e...

- Não é preciso. Usa a poupança.

- Não, pai, não posso. É a fiança, eu não posso usar esse dinheiro e...

- Julia! Está tudo bem, se ficar cá mais uns anos, não há problema e nós sabemos que a fiança é bem mais do que precisas e não vale a pena por mais uns anos. É um exagero e estás a precisar mais que eu. Já passei tanto tempo cá que se passar mais uns anos, não me importo.

- Mas....

- Diz-me uma coisa, Jua... Julia. Desculpa!

- Tudo bem, depois habituas-te.

- Tu queres fazer o tratamento, não queres?

- Claro que quero, mas não posso... É muito caro!

- Julia! A sério, não faz mal. Usa esse dinheiro.

Abro a boca para protestar. Sim, eu sou um pouco teimosa.

- Não é uma oferta, nem um pedido. Sou o teu pai e é uma ordem. Senão... Coloco-te de castigo - Ele usa um tom leve, mas autoritário e sorrio.

- Tens a certeza?

- Claro que tenho e é para seres feliz, se és mulher, tens de parecer fisicamente uma. Se isto soou mal, desculpa.

Entendo o que o meu pai quer dizer e depende da perspetiva, então não levo a mal, porque conheço-o e quer é incentivar-me.

- Não, eu percebi e obrigada, obrigada, obrigada.

- De nada, mas ouve. Eu quero acompanhar os tratamentos, ok? A nossa poupança tem dinheiro suficiente para começares já, acho eu, mas avisa-me quando marcares a tua consulta e vem cá, sempre que puderes depois de cada tratamento para acompanhar isso, ok?

- Sim.

- E vou falar com o Silva que me deve um favorzinho e peço-lhe para me deixar ir contigo a umas consultas, ok?

- Claro que sim - Sorrio.

La Casa De Papel - One Shots [PORTUGUÊS]Onde histórias criam vida. Descubra agora