As fortes e geladas rajadas de vento fizeram Bianca encolher todo o seu corpo; em pleno final de outono o frio castigava quase severamente. A garota estava guardando seu crachá em sua bolsa quando suas chaves caíram no chão. Imagine ter que tocar no metal, agora molhado, em pleno nove graus Celsius?
Serenava devido à hora: Pouco mais das onze da noite. Bianca fez o que mais cedo ou mais tarde teria que fazer e acabou pegando a chave do chão. A garota voltou a se levantar, todavia, algo não a deixou se mover. Ela fechou os olhos ao cair a ficha de que deveria ter ido visitar a senhora Genilda e Rafaella.
Seus passos foram desajeitados e apressados para dentro do hospital e logo ela estava no elevador rumo ao quarto da garota. Por sorte não precisou ter que gravar outros números de quartos aquele dia, ou , com certeza teria problemas em se lembrar do número do quarto de Rafaella.
Assim que chegou ao piso em que deveria descer, ela rumou para o quarto. Deu três suaves batidas na porta e logo a mesma foi aberta.
-- Olá. -- Ela disse docemente. -- Muito tarde? Se quiser eu posso voltar amanhã e...
-- Não se preocupe, criança. Entre. -- Genilda disse, vendo Bianca (Agora não uniformizada) entrar. A garota deixou a bolsa no canto da sala e se aproximou de Rafaella.
-- Olá, Rafaella. Como está? -- Bianca disse, vendo Genilda voltar a se sentar em sua cadeira. -- Vejo que pentearam seus cabelos. Está linda!
-- Ninguém a visitava e, bem, ela sempre gostou de ficar bem arrumada para as visitas. Dei uma leve ajeitada. -- Genilda disse sorrindo fraco e Bianca agradeceu mentalmente por ter lembrado de visitá-la. A mulher teria se chateado caso o cérebro de Bianca resolvesse falhar em lembrá-la de algo novamente.
-- Oh! -- Bianca disse. A menor analisou a expressão da mãe de Genilda. Aquela mulher carregava consigo uma dor tão profunda que transparecia no brilho de seus olhos. -- Viu só, Rafaella? Sua mãe ainda se lembra dos seus gostos. -- Genilda riu baixinho e assentiu.
-- Você é muito especial, Bianca. -- a mais velha disse, causando um sorriso no rosto da menor.
-- Obrigada, senhora. -- Ela disse sentindo-se lisonjeada. -- Rafaella, vou contar para você e sua mãe sobre o meu chefe, quer escutar? -- Bianca perguntou sorrindo. -- Ele brigou muito comigo por ter entrado aqui mais cedo. Ele realmente não deve gostar de mim. -- Falou rindo.
-- Oh, querida. Enganos acontecem. Por que ele brigaria com você?
-- Por importunar a paz de uma família. Eu deveria ter ido à outro quarto. Levei bastante xingo, mas sabe, Rafaella? Gostei de conhecer vocês duas. -- A porta foi aberta de supetão, roubando a atenção do momento para o doutor que entrava na sala.
-- Boa noite, moças. Como estamos por aqui? -- O homem que aparentava seus quarenta e poucos anos era ligeiramente grisalho, mas incrivelmente lindo e simpático. -- Temos visita nova para você, Rafaella? -- O homem disse em um tom alegre e empolgado.
-- Bianca é nossa nova amiga, Doutor Derek. -- Genilda disse sorrindo, se afastando para dar lugar ao médico, que retirava sua pequena lanterna do bolso de seu jaleco.
-- Vamos lá. -- Ele disse, abrindo um dos olhos de Rafaella e jogando luz nele. Bianca pôde ver que os olhos eram verdes também, uma tonalidade incrível, para ser honesta.
-- Você não se incomoda com isso, Rafaella? Se alguém jogasse luz nos meus olhos eu choraria de raiva. -- Bianca disse rindo. -- Sou meio explosiva na TPM.
-- Como disse que se chamava? -- O médico perguntou, se virando para Bianca.
-- Bem, eu não disse. Genilda que me apresentou. Sou Bianca.
-- Certo. Bianca...
-- Já sei. Pedirá silêncio. Desculpe! -- Ela disse rindo um pouco envergonhada.
-- Muito pelo contrário. Continue falando. -- Bianca arqueou uma sobrancelha.
-- Bem, eu não entendi, mas tudo bem. Sou fácil em falar coisas aleatórias do nada. Isso me faz parecer louca? -- Ela perguntou, vendo Genilda rir.
-- Não, querida. -- A mulher respondeu gentilmente.
-- Bianca, ande até a porta, por favor. -- O homem pediu e a garota assentiu confusa. -- Vá falando. -- Que espécie de louco aquele médico era? Bianca resolveu acatar seu pedido mesmo assim.
-- Eu não posso ficar falando sozinha, doutor. O senhor me pede para falar, mas é complicado e isso compromete a minha imagem na frente de Rafaella.
-- Repita o nome dela. -- O homem pediu com veemência.
-- Está tudo bem, doutor? -- Genilda perguntou preocupada. O homem jamais fizera algo assim em todos os anos que estivera ali. Ele era apenas um interno quando foi apresentado ao caso e permaneceu até os dias atuais ao lado daquela família.
-- Sim. Só preciso que Bianca repita o nome da Rafaella.
-- Claro. Rafaella, eu não sei porque o doutor quer que eu repita seu nome, mas gosto de "Rafaella". É um bonito nome e por isso repeti sem problemas.
O homem soltou uma risada animada e apagou a lanterna, olhando para Genilda visivelmente comovido. Ele havia se apegado à garota e dizia que naqueles quatorze anos Rafaella lhe ensinava sobre perseverança todos os dias.
-- Senhora Genilda, podemos trocar uma palavra? -- Ele perguntou e a mulher olhou confusa e assustada para ele.
-- Eu prefiro que Bianca esteja comigo. -- Ela confessou. -- Você sabe que eu não tenho... mais ninguém, doutor. -- Os olhos negros do homem se direcionaram para Bianca antes de ele assentir.
-- Tudo bem. -- Ele disse. -- Senhora Kalimann, de alguma maneira a sua filha parece responder quando ouve. As pupilas se dilatam e se movem, porém...
-- Oh meu Deus. -- Genilda disse levando sua mão à própria boca. -- Ela nos ouve? Oh meu Deus. Minha filha... -- A mulher começou a chorar e o doutor respirou fundo.
-- Preciso que se acalme, senhora. Ainda tem mais. -- Ele disse, vendo-a limpar algumas lágrimas e voltar a fitá-lo. Genilda sentiu um aperto cálido em sua mão, virando-se apenas para ver que era de Bianca.
-- Prossiga, Doutor.
-- Bem, o mais estranho de tudo é que, bem... Rafaella só responde à voz de Bianca. Eu falei e nada, a senhora falou e nada, Bianca falou e seus olhos a seguiram. Quando Bianca proferiu o nome dela era como se seus olhos quisessem se aproximar dela.
-- Está dizendo... -- Genilda foi cortada pelo Doutor.
-- A voz de Bianca é o estímulo que procuramos todos esses anos para Rafaella, Genilda. -- Bianca piscou lentamente, tentando processar o que acabara de escutar. Como raios seu dia se tornou tão louco?
🗼
E aí? Vocês tão gostando? O que será que vai acontecer?
Quem me acompanha sabe que eu não tenho dó de trazer atualização. Sigo conforme a minha disponibilidade. Aqui não vai ser diferente.
Ainda volto hoje.
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Em um piscar de olhos
FanfictionRafaella Kalimann tinha apenas seis anos quando seus pais decidiram tirar as tão famosas férias em família. Iriam para a Tailândia, porém, o destino lhes foi cruel, causando o choque de um caminhão desgovernado contra o carro onde estavam durante o...