IV

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O barulho da chave girando na porta fez Saad saltar de cima do sofá e esconder seus seios e seu sexo com almofadas. A mulher ao seu lado fez exatamente a mesma coisa, no entanto, Bianca ainda assim foi capaz de ver algo antes do total cobrimento dos corpos.

-- Mariana, de novo? -- Bianca reclamou chateada.

-- Eu pensei que você não viria mais, já viu que horas são? Quase oito da manhã. Achei que finalmente tivesse aceitado sair com a Bárbara e que dormiria com ela lá.

-- O quê? -- Bianca perguntou inconformada. -- Eu nem vi aquela garota. Onde estão os garotos, afinal?

-- Miguel já foi para a faculdade e o Bob foi fumar maconha com alguma garota que não me lembro o nome. -- Bianca assentiu e coçou os olhos.

-- Certo. Podem continuar então, vou subir, tomar um banho e dormir umas duas horas. -- Ela disse, indo rumo às escadas de madeira invernizada.

-- Onde estava, afinal, se não estava com a Bárbara? -- Saad perguntou não se aguentando de curiosidade.

-- Aconteceu algo bizarro ontem e por alguma razão uma garota que estava em coma havia quatorze anos respondeu à minha voz.

-- Quatorze anos? Ela está bem? Fala ou anda? Tudo isso de tempo não era para ter comprometido seu cérebro? -- Saad perguntou surpresa.

-- Como chegou a encontrar um caso assim? Pensei que fosse da fisioterapia. -- a outra mulher concluiu.

-- E sou. -- Bianca respondeu. -- E sobre as perguntas de Saad... Bem, ela fala normalmente, o resto ainda não sabemos. Ela deve passar por uma bateria de exames exaustivos, coitada. -- a carioca disse em um suspiro. -- De qualquer forma, vou sair uns trinta minutos mais cedo para ir visitá-la. -- Disse dando de ombros. -- Bom sexo para vocês.

-- Obrigada. -- Disseram em uníssono e Bianca subiu as escadas correndo.

Tomou um banho não tão demorado, pois sentia suas pálpebras pesarem, no entanto, quando finalmente se deitou em sua cama seus olhos não se fecharam. Seu cérebro não permitia; ele ficava enviando imagens do sorriso de Rafaella e lembranças do elogio sobre os olhos de Bianca.

Ela não fez muita coisa após aquele elogio, pois o médico insistiu que ela saísse da sala junto com Genilda, pois precisava realizar uma série de exames. Antes de sair, Genilda ouviu o "Mamãe?" E caiu em um choro intenso antes de abraçar sua filha e prometer voltar logo.

Bianca se remexeu na cama e fechou os olhos forçadamente, porém aquele sorriso voltou a invadir seus pensamentos. Ela bufou irritada e se cobriu, mas, segundos antes de dormir, a voz cheia de sotaque de Rafaella voltou a pronunciar:

"Os seus olhos também são lindos."

Esse era o maldito problema em nunca receber elogios de mulheres tão lindas: Quando recebia não era fácil esquecer. Tentou evitar, mas um sorrisinho bobo enfeitou seus lábios antes de finalmente conseguir pregar os olhos.

[...]

O corpo da garota estava quebrado; ela não deveria sequer ter dormido, pensou, pois se sentia muito pior. Nos olhos havia pingado colirio, já que ardiam intensamente. Seus pés correram o mais depressa possível para dar tempo de visitar Rafaella.

Assim que chegou na porta a qual tanto ansiava, deixou três batidas suaves na mesma, que logo foi aberta por Genilda. A mulher avançou em Bianca assim que a viu, envolvendo suas mãos ao redor do pescoço da garota e a abraçando forte.

-- Eu jamais serei capaz de agradecer o suficiente, querida. -- Genilda disse emocionada, fazendo Bianca sorrir.

-- Não me agradeça, senhora Kalimann, eu não fiz nada. Foi tudo mérito única e exclusivamente de Rafaella. -- Bianca disse sentindo a mulher lhe soltar e enxugar uma lágrima solitária. -- Como ela está?

-- Perfeita. -- A mulher disse, dando espaço para a garota entrar no quarto. -- O médico disse que ela terá que ficar uns dias em observação e terá que passar por fisioterapia, pois ela está há muito tempo em desuso dos músculos e dos ossos. -- Genilda explicou, vendo Bianca sorrir e acenar para Rafaella, que sorriu de volta. -- O cérebro dela também é acostumado a carregar um corpo de seis anos, então ele mesmo pregará peças nela até entender que seu corpo já é adulto.

-- Mamãe... -- Rafaella chamou, fazendo a mulher se calar e voltar a atenção para sua filha. -- Ela voltou mesmo. -- a menina disse sorrindo e se ajeitando mais na cama.

-- Sim, querida. Eu disse que ela voltaria. -- Genilda disse rindo de uma forma calorosa.

-- Olá, Rafaella, sabe quem eu sou? -- Bianca perguntou, se aproximando da cama e, consequentemente de Rafaella.

-- A moça dos olhos de chocolate. -- Bianca enrubesceu diante do elogio. -- Eu gosto de chocolate.

-- Bem, eu te trouxe caramelos, mas eu conversei com seu médico antes de entrar aqui e, infelizmente, ele disse que você terá que passar por uma dieta rigorosa por alguns dias, sinto muito. -- Rafaella fez uma careta antes de olhar seriamente para Bianca.

-- Nem escondido? -- Ela sussurrou após tampar sua boca com uma das mãos para sua mãe não ver, fazendo Bianca rir a plenos pulmões.

-- Não seja assim, mocinha. Não é legal trapacear nas regras quando se trata de nossa saúde, tudo bem? -- Bianca disse e Rafaella assentiu um pouco contrariada.

-- Bianca, posso aproveitar que está aqui para ir ao banheiro? -- a mais velha perguntou, vendo a moça assentir. Pobre Genilda, deve estar exausta, pensou Bianca. Se ela não tivesse que ir para suas aulas práticas ela ficaria com Rafaella para a mulher tirar algumas horas de descanso.

-- Mamãe me disse que eu não sou neném. Que agora eu já tenho vinte anos. -- Rafaella disse fitando com atenção as expressões de Bianca.

-- Ela disse isso?

-- Disse também que eu sempre serei o neném dela, mas me explicou o que aconteceu. -- Rafaella disse. -- Parece o desenho do jacaré que queria comer o pica-pau.

-- Ah, sim? -- Bianca perguntou rindo. Ela adorava aquele desenho em sua infância.

-- Sim, só que ao invés de dormir por todo o inverno eu dormi por vários anos. -- Bianca assentiu, orgulhosa por Rafaella ter entendido.

-- E suponho que sua fome esteja igual ao do jacaré, hm? -- a carioca perguntou rindo ao ouvir o estômago de Rafaella roncar. A maior acenou um pouco envergonhada e Bianca sorriu. -- Já está quase na hora de sua refeição. Vai comer tudo?

-- Siiiiim. -- a mineira disse animada e Bianca riu.

-- Voltei, crianças. -- Genilda disse, sorrindo abertamente. Rápida! Pensou Bianca. A garota se permitiu fitá-la: Ainda aparentava cansada, porém aquela grande tristeza e falta de brilho em seus olhos já não existiam.

-- Eu adoraria ficar mais, mas o dever me chama. -- Bianca disse entortando a boca e Rafaella cruzou os braços.

-- Ah não! -- Protestou emburrada.

-- Bianca tem coisas para fazer, meu amor. Lembra-se do que conversamos? -- a menina assentiu ainda emburrada.

-- No meu intervalo eu prometo passar aqui, tudo bem?

-- Falta muito para isso? -- Rafaella perguntou.

-- Umas quatro horas. -- Bianca informou.

-- Mamãe, quanto é isso? -- Genilda entortou a boca, como explicaria isso?

-- São o mesmo que dois filmes da Disney, mais ou menos. -- Bianca se apressou em dizer.

-- Jura que vem?

-- Juro. -- a carioca respondeu.

-- De dedinho? -- Rafaella questionou, esticando seu dedo mindinho. Bianca o olhou e sorriu genuinamente.

-- De dedinho.

🗼

Elas fazem juras de dedinho!  🥺🥺

Eu tô muito soft!  🤧

Em um piscar de olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora