De todas as coisas que Bianca já havia feito em sua vida, essa definitivamente era uma das mais corretas, julgada por ela. Seu dedo voltou a pressionar a campainha e no segundo seguinte Genilda abriu a porta.
-- Olá! -- a mulher recepcionou com um enorme sorriso. -- Por favor, entrem. -- Ela disse para Bianca e seus amigos. Todos haviam sido convidados para o Natal, afinal quanto mais gente melhor para Genilda. Este seria o primeiro natal que passaria em sua casa desde que se acidentaram anos atrás. O primeiro natal que passaria longe do hospital.
-- Eu gostaria de agradecer por ter convidado meus amigos. -- Bianca disse, entrando na casa. A carioca apresentou Venturotti à Genilda e todos retiraram seus casacos, dando uma boa olhada pela casa. Os olhos de Bianca se prenderam em Rafaella, mas ela os desviou rapidamente. Primeiro tinha algo para fazer. -- Podemos conversar um minuto a sós, Genilda?
-- Bem... -- a mulher disse arqueando uma sobrancelha. -- Claro, me acompanhe até a cozinha. -- Pediu. -- Vocês fiquem à vontade. Já voltamos.
Bianca acompanhou Genilda até o cômodo, sentindo o delicioso cheiro de algumas coisas que já estavam sendo preparadas. A empregada estava cozinhando, porém Bianca não se importou com sua presença, afinal a mulher usava fones de ouvido e dançava feito louca enquanto cortava algumas batatas.
-- Pois não? -- a mulher perguntou e Bianca suspirou, vendo a mais velha se debruçar sobre o balcão.
-- É sobre Rafaella. -- Disse, vendo Genilda piscar ainda calada, esperando por algo a mais.
-- O que tem ela? -- Perguntou naturalmente.
-- Hm, ontem ela... Digo, isso já veio de antes, desde o assunto das flores. -- Genilda franziu o cenho, segurando o riso pelo aparente nervosismo de Bianca. -- A massagem também foi um sinal, mas talvez ela nem saiba o que esteja acontecendo.
-- Compreendo. -- a mulher disse, balançando a cabeça, fazendo Bianca gargalhar no momento seguinte.
-- Desculpe. Não falei nada coerente, é que estou muito nervosa. -- Disse enxugando o suor das mãos na calça jeans.
-- Tudo bem, querida. Não se preocupe. -- Genilda disse com gentileza.
-- Eu não sei bem como isso aconteceu, mas eu gosto da sua filha de um jeito mais intenso do que eu creio que deveria. Eu peço perdão por isso, eu realmente não sei como controlar e eu não quero que a senhora pense que eu estou me aproveitando dela, porque eu não estou.
-- Gosta dela romanticamente, você quer dizer? -- Genilda perguntou e Bianca assentiu um pouco hesitante.
-- Ontem ela meio que, hm, me beijou. -- Confessou temerosa. -- Não foi um beijão, foi um simples esbarrar de lábios, mas eu definitivamente não queria te esconder isso. Se a senhora achar que devo me afastar eu entenderei, apesar de realmente querer ficar por perto.
-- Eu já sabia sobre o beijo. -- Genilda disse, vendo a carioca a olhar surpresa. -- E não quero que se afaste da minha filha, Bianca. De onde tirou isso?
-- Não sei. Só entendo que ela tem coisas para lidar: a fisioterapia, as aulas, a readaptação com tudo.
-- E você faz tudo isso ser mais fácil para ela. -- Genilda disse. -- Olhe, criança, se você for paciente e não for machucar a minha menina, estou mais do que de acordo com isso. -- Confessou. -- Conversei com Rafaella ontem, ela está confusa e acha que você está brava com ela. -- Compartilhou. -- Isso não será fácil, ela ainda é, na maioria das vezes, a menina ingênua.
-- Eu sei. -- Bianca disse, ligeiramente mais aliviada. -- Eu não pretendo acelerar as coisas. Eu sequer sei como agir, para ser sincera. -- Confessou envergonhada.
-- Que tal agir como sempre, hm? -- Genilda propôs. -- Isso realmente soa agradável para todos.
Após a conversa com a mais velha, ambas voltaram à sala. Todos estavam sentados no sofá devorando algumas jujubas que Rafaella havia oferecido. Os olhos de Bianca focaram na mineira, ela usava um vestido rosa com as bordas pretas rendadas.
-- Oi. -- Bianca disse docemente assim que se aproximou de Rafaella. A loira estava ao lado da árvore de natal com Cris sobre as pernas, na cadeira de rodas.
-- O Cris sentiu saudades, Bi. -- Rafaella disse, vendo Bianca sorrir e se abaixar diante dela.
-- Só o Cris? -- Rafaella olhou para os pisca-piscas da árvores de natal um pouco hesitante.
-- A mamãe também. -- a carioca não resistiu e sorriu.
-- Eu também senti saudade deles. -- Disse, apesar de ter passado apenas vinte e quatro horas. -- E de você mais ainda. -- Os olhos esverdeados encontraram os castanhos e Rafaella sentiu seu coração saltar em seu peito.
-- Você não ficou brava? -- Ela perguntou e a carioca negou com a cabeça.
-- Não fiquei. -- Confessou. -- Acho que te devo um pedido de desculpas.
-- Por quê?
-- Por ter saído daquele jeito ontem e, provavelmente, ter te deixado confusa. Não foi a minha intenção. -- a mineira piscou algumas vezes antes de dizer algo.
-- Você caiu na neve? -- Bianca riu e mordeu seu lábio inferior.
-- Sim. -- Disse, vendo os olhos de Rafaella percorrerem seu corpo em busca de algum hematoma. -- Não se preocupe, a blusa amorteceu a queda.
-- Bi... -- a loira chamou com o dedo indicador, fazendo Bianca se inclinar para que ela pudesse dizer algo em seu ouvido. -- Me desculpa?
-- Por quê? -- a carioca perguntou confusa.
-- Por ontem. -- Confessou acariciando o ursinho em seu colo. -- Por tudo. Eu não quero que você vá embora porque eu sou uma boba.
-- Você não é uma boba. Eu que fui. -- Bianca disse.
-- Você não, Bi. -- Rafaella disse com veemência. -- Eu prometo não fazer de novo. -- Os olhos de Bianca foram atraídos pela alta risada de Bob, que comia um cachorro quente que uma das empregadas estava servindo enquanto conversava com Genilda e seus amigos.
-- Eu gostei do que você fez, Rafaella. Eu só... Não estava preparada. -- a carioca informou, vendo a mais alta começar a acariciar sua mão, que estava sobre sua perna.
-- Não ficou brava mesmo? Jura de dedinho?
-- Juro, princesinha, mas me diz, por que fez aquilo? -- Rafaella pareceu pensar por alguns milésimos de segundos.
-- Não sei, parecia certo. -- Disse brincando com os dedos da menor. -- Eu gostei, mas você foi embora.
-- Prometo nunca mais ir embora assim, tudo bem? -- Bianca disse, se levantando e deixando um demorado beijo na testa de Rafaella.
-- Tudo bem. -- Disse, tendo o início de um sorriso nascendo em seus lábios. -- Bi, adivinha quantos dedos tem aqui? -- Disse, tampando os olhos de Bianca com uma mão e estendendo a outra com três dedos esticados.
-- Hmm, deixa eu ver... cinco. -- a carioca chutou e Rafaella retirou sua mão da frente do olho da carioca para que ela pudesse ver.
-- Errou! -- Disse rindo.
-- Não errei não. Tem cinco dedos, dois abaixados e três esticados. Você não especificou. -- Rafaella entortou a boca e franziu o cenho, parecendo verdadeiramente pensativa.
-- Tem razão. Não valeu! -- Disse, repetindo a situação enquanto Bianca ria. Ah! Como ela adorava estar por perto de Rafaella.
🗼
Eu sou boiola por elas, já disse isso?? 🤧
Boa noite.

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Em um piscar de olhos
أدب الهواةRafaella Kalimann tinha apenas seis anos quando seus pais decidiram tirar as tão famosas férias em família. Iriam para a Tailândia, porém, o destino lhes foi cruel, causando o choque de um caminhão desgovernado contra o carro onde estavam durante o...