Décimo Nono Capítulo - Reflexo

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Dentre tantos acontecimentos na vida de Zulema, esse foi um dos mais que a assustaram. Em uma noite, ela estava no banheiro, quando fechou a portinha onde guardavam as escovas de dentes, viu o seu reflexo e logo atrás dela, uma silhueta de cabelo preto com roupas amarelas, rapidamente se vira para olhar atrás e não encontra nada, quando retorna o seu olhar ao espelho, a criatura ainda estava lá, com um sorriso diabólico. Zulema engoliu seco antes de seu antigo eu começar a falar:

- Sentiu minha falta Zulema?

Zulema continua encarando o espelho em silêncio. 

- Pelo visto não.

- O que quer merda de "assombração"? - Zulema finalmente se enfrenta.

- A casa é bonita mas esta é a sua realidade? sério Zulema? Brincar de família feliz, quando destruiu a sua e matou os pais de quem você diz que ama?

Enquanto seu eu do passado dizia as palavras que a machucavam, Zulema ficava repetindo mentalmente, tentando ter forças para se conter.

"Não estou alucinando, não estou alucinando, não estou morrendo"

- Você vai destruí-las porque você destrói tudo o que toca, coitada daquela coisa que vai te chamar de mãe; a mãe que matou os avós dela, ela nunca vai te perdoar quando souber. Você destrói tudo que toca!

Nesse momento, Macarena que estava no primeiro andar, ouviu um grito abafado e logo em seguida, vidro se quebrando, soltou um suspiro assustada, correndo para o quarto em busca de Zulema.

Verificando os outros cômodos, pensando que fosse alguém invadindo a casa, mas nenhuma janela havia sido quebrada.
Macarena segue em busca de Zulema, não a encontrando, ela só se direciona ao banheiro do quarto, quando ouve um choro distante bem baixinho, como se fosse para ninguém ouvir.

De imediato, Macarena tenta abrir a porta mas estava fechada, começa a bater e empurrar a porta com o braço desesperadamente chamando o nome de Zulema. 

Percebendo e vendo que não iria conseguir dessa forma, ela corre em busca da chave reserva, logo a encontrando e abrindo a porta, se deparando com Zulema, de cabeça baixa apoiada em suas pernas com a mão toda ensanguentada, encolhida no canto do banheiro.

Rapidamente Macarena corre em sua direção, sentando ao seu lado, tentando tocá-la e Zulema a impede de chegar perto.

- Zulema - A mais velha continua a empurrá-la sem direcionar o olhar - OLHA PRA MIM, SOU EU - Zulema finalmente a encara e por impulso, abraça Macarena, que a abraça de volta fortemente, na tentativa de fazê-la ficar calma. 

Zulema por um momento esquece da dor que estava sentindo tanto fisicamente como psicologicamente. Ela estava assustada, isso era nítido e percebido pela sua expressão facial, suas "alucinações" já haviam parado a meses e vieram retornar só agora. Para ela, isso era sinal de alguma coisa.

- Está tudo bem, estou contigo, vamos eu vou ver como está a sua mão - Macarena disse levando Zulema para o andar debaixo. 

Macarena pegou um pano limpo e pressionou sobre a mão de Zulema para estancar o sangramento e depois lavou para limpar, logo em seguida colocando uma gaze em cima.

- Precisa de ponto, vamos ao hospital.

- Não! Hospital não, ademais Rosa irá ficar com quem? - Zulema diz tentando disfarçar seu nervosismo - Faz você - A mais velha fala empurrando a mão para Macarena, que a olhava apreensiva negando - Eu confio em você. 

Macarena respirou fundo e foi atrás dos materiais para a dar ponto na mão de Zulema.

- Luvas, tesoura, pinça, agulha, linha... - Macarena dizia enquanto colocava tudo em cima da mesa.

Cuando Te VayasOnde histórias criam vida. Descubra agora