Segundo Capítulo - Depois de tudo

1.2K 124 35
                                    

P.O.V - Macarena Ferreiro.

Meu coração ficou mais aliviado depois de conseguir entrar naquele helicóptero, não pude controlar algumas lágrimas que escorreram dos meus olhos, quando me lembro que ela ficou para trás naquele maldito deserto, uma parte de mim havia morrido também mas esboço um pequeno sorriso ao pensar que tudo iria ficar bem e tudo iria ir para frente.

Zulema, de todo o meu coração, se é que ainda tenho, te agradeço muito por todos esses anos que passamos juntas, para mim, foi muito especial, obrigada por dar a sua vida pela nossa e eu sei que você nunca admitiria que fez isso, nesse momento acredito que não teria coragem de fazer o mesmo por você, talvez se eu não estivesse grávida, sem pensar duas vezes, ficaria por ti até o final, como você mesma disse, "hasta que la muerte nos separe, amén" mas temos que seguir em frente, com ou sem você, essa é a vida, a vida que eu escolhi, a vida que eu quero viver e ser feliz.

Ela já não tinha nada a perder, já eu. Uma vida se formando dentro do meu ser, que me fez pensar somente em mim mesma. Eu iria finalmente conseguir levar a minha vida para frente, espero que as memórias do meu passado nenhum pouco tão distante, não me persigam. Amor, ódio, afeto, raiva, desejo acumulado, atração, respeito, paixão, eu não sei o que sentia pela Zulema, talvez algumas ou nenhuma dessas opções e sim, gratidão, por salvar a minha vida duas vezes. Não sei, isso ainda é muito confuso.

Fazem duas semanas que eu tinha chegado ao Marrocos, duas semanas da última vez em que vi a Zulema , última vez em que eu vi o seu sorriso e ouvi a sua voz. Por um lado está sendo a melhor e pior semana da minha vida. Melhor por saber que eu sou suficiente e consigo me virar sozinha e que agora é só eu e o pequeno bebê que está crescendo dentro de mim. Estou feliz por estar aqui e me sentir segura depois do que eu passei, nesse instante eu sei que eu posso viver tranquila. Por enquanto nenhum sinal de polícia ou dos mexicanos à minha procura, estava vivendo em uma casa afastada na praia, com poucos vizinhos a volta, longe de tudo na cidade e de todos que poderiam me ver nas ruas e irem denunciar, a essas horas, nossos rostos já estariam estampados em toda a porra da Espanha e do mundo, como dizem, as notícias se espalham rápido, até demais.

O lugar era amplo comparado com a caravana, havia uma pequena varanda de frente para a praia, uma sala junto com a cozinha, dois quartos,um banheiro, o suficiente para duas pessoas ou três morarem, mas eu sentia um vazio tão grande dentro dela, nesse momento, ela não tinha vida, cor, alegria mas logo isso iria mudar com a chegada de uma nova vida no local. Essa casa me lembrava exatamente a sensação de como foi na primeira vez em que fugimos da prisão e fomos para Marrocos mas ao mesmo tempo tudo era tão diferente, eu já não tinha mais ela do meu lado, isso era o pior.

"Todas as noites tentava me convencer de que eu iria ser feliz, as lembranças me chegam sempre em noites tão vazias e mexem tanto com minha cabeça, que quando o sono vem, o dia já nasceu. A distância me tira pouco a pouco a esperança de ter você comigo novamente mas eu insisto em cultivar sua presença, mesmo sem você saber e ainda espero a cada dia sua volta mesmo isso sendo impossível, você levou consigo uma parte de mim. Durante essa semana foi incontáveis as vezes que eu conversei com as paredes me certificando de que você me escutaria; o que não aconteceu. É inevitável o sorriso que se forma no meu rosto ao lembrar de você, é inelutável o nó que se forma na minha garganta, quando lembro que nunca mais vou te ver e é na solidão que me agarro a qualquer coisa que ainda resta desse amor para sentir sua presença novamente, seja como for."

- Com amor, Macarena Ferreiro.

Essa foi a primeira carta que fiz na primeira noite quando cheguei ao Marrocos, tentei dormir mas não consegui e escrevi ela na tentativa falha de esquecer de tudo que eu já vivi, cartas que certamente nunca iriam ser destinadas, enviadas e principalmente, nunca seriam respondidas.

Cuando Te VayasOnde histórias criam vida. Descubra agora