Terceiro Capítulo - Amizade nova

1K 105 29
                                    

"A vida passa rápido demais, não tão rápido quanto dizem. Mas, sim ela passa! O importante é saber viver os segundos que temos de vida e entender que as oportunidades não podem ser perdidas. Saber que a vida foi criada simplesmente para ser vivida."

Meses se passaram, Macarena se sentia muito sozinha naquele lugar que não poderia chamar de casa e decidiu que iria conhecer novas pessoas, só possuía uma pessoa que a conhecia, porque havia se mudado há pouco tempo para lá, por conta do trabalho. Ela se chamava Manila e lembrava muito a Yolanda, a franja e o cabelo em cima dos ombros, tanto na  aparência quanto a sua personalidade, ela bateu na sua porta com um bolo nas mãos e lhe dando as boas vindas, isso a agradou muito, então logo tratou de fazer amizade e Macarena agradeceu internamente por ela não à reconhecer.

Há dias que não havia sinal de procura por ela, então isso a deixava mais tranquila, por estar vivendo uma vida normal e decidiu se libertar um pouco, então uma vez ou outra as duas saiam para jantar em lugares não muito movimentados e sempre sentando em locais afastados, sempre por preferência de Macarena e Manila nunca a questionava.

P.O.V - Macarena Ferreiro

Em uma noite, eu havia convidado Manila para jantar na minha casa, estávamos na pequena varanda, conversando há bastante tempo, comtemplando a vista, a forma como as ondas vinham e voltavam, ouvindo o som das águas com o leve vento que batia, tudo em perfeita sincronia.
Tínhamos acabado de jantar uma comida feita por Manila e agora estávamos acompanhadas de uma taça de vinho, no meu caso, estava bebendo de forma moderada, sem extrapolar meus limites. Falamos de diversos assuntos, nós conhecendo melhor e num momento, Manila estava falando de arrependimentos, que se arrependia de não ter feito coisas quando podia fazer, quando ela me aponta uma pergunta que foi como um disparo me fazendo voltar ao passado.

-E você Maca? já se arrependeu de alguma coisa que não fez ou que não conseguiu fazer a tempo?

Não consigo responder nada, sinto um aperto no peito, um nó na garganta e quando percebo as lágrimas já estão molhando o meu rosto, penso que talvez seja por causa dos hormônios e eu as limpo automaticamente.

-Maca, eu disse algo errado? Me desculpe, eu não queria perguntar - Eu a interrompo.

-Não, está tudo bem, eu que sou fraca pra bebibas - Dou um simples sorriso e ela me devolve um pouco aliviada - E respondendo a sua pergunta, já, todas a noites. Mani, acho que nunca contei isso para você mas acredito que já era a hora. Foi aproximadamente a três meses atrás, no começo, nós conhecemos na prisão, éramos inimigas e ao longo do tempo, não sei o que nós tornamos, não éramos amigas, não dividiamos nada, depois que ela saiu da prisão, eu fui buscá-la porque tinha uma certa curiosidade de saber como ela estava e depois ela foi ao meu trabalho me, fazer uma proposta, de criarmos juntas meio que uma sociedade limitada, nós só conhecíamos uma a outra, não tínhamos nada a perder, depois compramos nossa primeira casa juntas, uma caravana, era apertado mas a gente se virava com o que podia e...

-Vocês transaram?

-Como? - Dou uma risada entregando meu nervosismo e ela me acompanha.

-Sim, bom, nós transamos mas segundo eu e ela, foi só uma noite, nunca que admitiriamos que foi mais do que isso, estávamos bêbadas, essa era a nossa desculpa e bom, tinha funcionado e nunca mais falamos disso mas voltando ao assunto, eu lamento muito por não falar na última vez que vi ela, o quanto fui grata por todos os anos que passamos juntas e que me arrependo de só agora perceber o tanto que eu estava apaixonada por ela e o quanto queria ela na minha vida de novo.

-E o que aconteceu Maca?

Essa pergunta fez meu corpo gelar por inteiro, eu não poderia contar o que tinha acontecido.

-Ela foi embora e nós deixou, foi embora por nós. - e novamente as lágrimas rolaram, me deixando libertar, tudo aquilo que estava preso em mim.

No mesmo instante, Manila abre os braços e rápido eu corro para eles, retribuindo o abraço, sorrio por ter conseguido falar isso pra alguém depois de tanto meses.

-Vai ficar tudo bem Maca, você vai ser feliz com o seu bebê e eu vou tá aqui pra tudo.

-Obrigada Manila, de verdade, obrigada por estar aqui comigo - Falo nos soltando e limpando as lágrimas.

-A propósito Maca, já sabe qual o sexo do bebê?

-Ainda não, estava pensando em saber só na hora mas eu não teria tempo para escolher o nome.

Rimos e quando percebemos, já se passava de duas da manhã e Manila precisava sair para resolver coisas pessoais no dia seguinte então não poderia ficar mais, nós despedimos e ela foi pra sua casa, recolhi as taças e os pratos lavando os mesmos e logo em seguida indo em direção ao meu quarto, quando chego tomo banho e antes de me deitar sinto que eu preciso falar com uma pessoa. Então logo sento na pequena mesa, de frente pra parede que continha uns papéis e canetas desde o dia que eu cheguei aqui e não sei de onde havia surgido, aquele pequeno lugar tinha virado meu canto de paz por algumas horas.

"Zulema, falar de ti sempre foi algo que mexeu comigo e ainda mexe até hoje. A vida nos ensina a olhar pra frente mas ultimamente eu me obrigo a olhar pra trás e lembrar da minha vida com você. Hoje, depois de uns três meses sem você e vários deles escondendo os meus sentimentos, eu me abri para Manila, lembro de todos os detalhes e das coisas simples que me fazem lembrar de você, como uma noite olhando para as estrelas no céu.
As seguintes palavras saíram da minha boca: "Ela nós deixou, foi embora por nós".

Talvez eu tenha sido um pouco incompreendida por ela mas vou tentar me explicar pra você.
Eu não poderia falar que você tinha morrido nas mãos dos capangas de um traficante e que sei que não foi por mim, mas eu tento todos os dias me convencer que sim, foi por mim, para não me sentir muito culpada. Eu não queria ter te deixado lá mas o que eu podia fazer, você tinha uma doença terminal, você não iria me escutar e nesse exato momento, estaríamos as duas a sete palmos da terra. Eu queria ter te puxado pro helicóptero junto comigo, como eu queria que você estivesse aqui.
Acho que quem não sai do meu pensamento é você, quem eu queria que estivesse pensando em mim era você, eu não consigo simplesmente te apagar da minha vida, merda você sempre vai estar presente na minha solidão, nossas lembranças vão me fazer chorar, me lembro claramente da nossa noite na caravana, como poderia me esquecer.





• Pra quem não sabe, Manila é uma personagem de La casa de papel, interpretada pela Belén Cuesta.
Espero que tenham gostado.

Cuando Te VayasOnde histórias criam vida. Descubra agora