CAPÍTULO 10

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É inacreditável como a semana passou super de pressa, hoje já é sexta-feira.
Mesmo morrendo de vontade de ficar um pouco mais na cama aproveitando o frio que fazia essa manhã em Los Angeles, levantei, peguei a toalha e segui para o banheiro.
Fiz minhas higienes matinais, tomei um delicioso banho de água morna, em seguida, saí do box enrolada na toalha e retornei para o quarto.
Parei em frente ao espelho, fiz uma maquiagem básica, penteei meu cabelo deixando o mesmo solto, passei desodorante, perfume e fui me vestir.
Vesti uma calças jeans preta, uma blusa branca da supreme e uma moletom preto da adidas.
Calcei um vans preto, passei perfume, coloquei dinheiro e meu celular dentro da mochila, peguei a mesma e ao sair do quarto, dei de cara com o Bruno saindo do quarto dele.
Ele estava vestido em uma calça preta, moletom cinza, tênis preto com detalhes branco nas laterais e boné preto.
Lindo? Lindo! Mas não vale nada.
Fingi demência e fiz de conta que eu não estava vendo ninguém, passei direto e desci as escadas, ao chegar na sala, deixei a minha mochila em cima do sofá e segui para a sala de jantar onde a senhorita Helen já estava à mesa tomando seu café da manhã enquanto lia um jornal.
Ela estava visivelmente abatida, usava um short  jeans, blusa manga longa de tricô preta, seus óculos de leitura e cabelos soltos.
— Bom dia, senhorita Helen. — Puxei a cadeira e sentei-me à mesa.
— Bom dia. — Respondeu parando de ler o jornal e o pôs sobre a mesa.
Logo em seguida, o Bruno chegou, puxou a cadeira e sentou -se também à mesa sem sequer falar um "bom dia".
Iniciamos o nosso desjejum em meio a um silêncio e um clima completamente pesado.
Em alguns momentos durante o café, senti o olhar da Helen sobre mim me deixando um pouco desconfortável, já o Bruno ignorou total a minha presença à mesa.
Eu não estava mais aguentando aquele clima, terminei meu café, pedi licença, levantei da mesa e subi para escovar os dentes.
Após escovar os dentes, desci novamente, fui me despedir da minha mãe na cozinha e depois saí para o colégio.

***

Helen

Eu estava sentada no sofá com as pernas cruzadas e com o notebook em meu colo revisando alguns projetos, mas estava difícil me concentrar, minha  cabeça estava a mil.
Não consigo parar de pensar na minha discussão com o Bruno e no quanto ele está mudando  ultimamente. Que saudade dos conselhos da minha sogra e do colo da minha mãe, queria tanto elas aqui comigo nesse momento me aconselhando de como fazer para mudar essa situação.
O Bruno tá estranho comigo e eu não consigo entender o que eu fiz. Voltei cheia de planos para nós dois, abri mão de uma proposta de trabalho na maior empresa de arquitetura e engenharia de Sidney, para estar com ele e para seguir os meus sonhos ao lado dele, e, infelizmente, sinto como esses meus sonhos e planos estivessem sendo frustrados.
Resolvi ir até a cozinha beber um pouco de água.
Tirei o notebook do colo e o coloquei em cima do sofá, levantei e fui até a cozinha encontrando apenas a Amelie preparando o almoço.
— Hmmm... que cheiro maravilhoso. — Falei de olhos fechando inalando aquele cheiro de tempero refogado.
— Estou preparando Jambalaya para o almoço.
Que maravilha! — Falei enquanto abria a geladeira para pegar água.
— Amelie, você acha que o Bruno está me traindo?
— Óbvio que não, ele é louco por você.
Mas por que você pergunta isso?
— Desde que eu voltei estou sentindo ele estranho.
— Normal, ele não é muito de demonstrar, você sabe, mas ele está muito feliz com a sua volta. Ele só deve estar com muito trabalho na cabeça, olha o a parceria milionária que ele fechou ontem com a Versace.
— Verdade, pode ser isso.
— Mas se você está vendo que as coisas não estão legais entre vocês, por que não conversa com ele?
— Vou fazer isso.
Ficamos um bom tempo ali conversando, a Amelie me deu um certo conforto com as suas palavras, realmente, talvez eu e o Bruno só precisamos conversar.
Com a Amelie me sinto livre para conversar sobre qualquer assunto, confio nela de olhos fechados e sei que ela também confia em mim. Em meio a conversa, entramos no assunto de filhos, e me bateu uma certa curiosidade de saber sobre o pai da Ísis.
— Desculpa perguntar mas por que a Ísis não tem contato com o pai.
— Bom, é uma longa história e não gosto nem de lembrar, mas vou tentar te explicar de uma forma resumida.
Eu namorava escondido com o pai da Ísis. Quando faltava uma semana para o meu aniversário de dezoito anos, eu descobri que estava grávida.
Óbvio que surtei e morri de medo da reação dos meus pais e da dele, mas marquei um encontro com ele, contei tudo e a única coisa que ele me falou foi para abortar, pois ele estava fazendo faculdade e eu balé, não poderíamos estragar nossa vidas e nosso futuro.
Me neguei a fazer o aborto e ele terminou comigo e se disse que não assumiria a criança.
Levei minha gravidez adiante sem contar nada para os meus pais até que um dia passei muito mal e eles me levaram ao médico e descobriram que eu estava grávida. Eles ficaram arrasados e meu pai rígido como sempre foi, meu colocou para fora de casa sem eu nem ter para onde ir, ele disse que quem fez filho em mim que assumisse as responsabilidades.
— E sua mãe? Ela não fez nada?
— Não. Minha mãe era muito submissa a ele.
Sozinha aprendi a me virar. Nos primeiros dias eu dormir em uma igreja enquanto procurava emprego, depois eu consegui emprego em um supermercado, aluguei uma casa pequena e fui comprando as coisas da minha filha aos poucos.
Daí, teve um dia que eu estava no trabalho e conheci a dona Bernadette, conversamos enquanto eu passava as compras dela e ela se mostrou uma pessoas tão especial. Sempre que ela ia lá a gente conversava, até que ela me chamou para trabalhar na casa dela, ela disse que seria melhor, pois quando o bebê nascesse eu teria como cuidar e eu aceitei.
Acabou que eu e a Ísis nos tornamos da família, eu que sempre optei por trabalhar na casa, mesmo contra a vontade de toda a família Hernandez. Minha filha sempre foi tratada como neta do Peter e da Bernadette e sobrinha dos meninos e das meninas, sempre foi mimada e teve de tudo. O pai só apareceu para registrar.
Mas valeu a pena enfrentar tudo para tê-la, a Ísis é tudo para mim.
— Nossa, você é uma guerreira. Sem dúvidas, a Ísis se orgulha muito da mãe que tem.
Ela sorriu com os olhos cheio de lágrimas ao relembrar do seu passado.
Conversei mais um pouco com ela e depois retornei para a sala, precisava ainda hoje terminar de revisar os projetos e começar mais alguns.

***

Ísis

Eu estava quase dormindo enquanto o professor Charles, de história, explicava o assunto até que a sirene tocar indicando o fim da aula e o início do intervalo.
Guardei meus materiais na mochila, levantei e saí da sala acompanhada da Isa e do Vic.
Fomos conversando até a cantina do colégio, pegamos nossas bandejas, escolhemos nossos lanches e fomos sentar em um dos lugares ali disponíveis.
— Mermã, quem tá te pegando é o Edward Cullen, é?
Cada dia você chega aqui mais marcada. — Vic comentou após notar o meu pescoço.
— Acabar depois a rapariga do grupo sou eu.
— Vocês são ridículos, sério. — Rir.
— Imagine a cara da tia a Amelie quando vê isso aí, vai ser babado, gritaria e confusão.
— Ela não vai ver. Agora vamos mudar de assunto.
Enquanto comíamos, ficamos conversando sobre  diversas coisas até que a antipática da Letícia chegou acompanhada do seu grupinho, sentaram-se uma mesa à frente da nossa, ficaram cochichando e debochando da gente.
— Gente, ou vocês me seguram ou eu vou dar na cara dessas raparigas. — Vic comentou sem paciência
— Dá vontade mesmo de levantar daqui e ir lá dar na cara dessas retardadas que se acham
" As Patricinhas de Beverly Hills". — Isa falou encarando a mesa da Letícia e seu grupinho.
— Calma, gente, nem vale a pena.
— Verdade. Mas que dá vontade, dá. — Isa falou.
A Isa e o Vic são uns doces de pessoas, porém, não mexa com eles, pois os mesmos jamais leva desaforo pra casa.
Ao terminarmos, levantamos, saímos dali sem nem ao menos olharmos para a cara das insuportáveis e fomos para pátio ficar conversando.

***

Era por volta das sete da noite, eu tinha acabado de tomar banho e resolvi descer para assistir Sobrenatural.
Ao chegar na sala, encontrei a Helen ainda sentada no sofá com o notebook no colo, acredito que trabalhar de home office, não é nada fácil.
Para não atrapalha-la, resolvi não ligar a televisão.
Tirei o celular do bolso do short, deitei no sofá e quando eu estava prestes a abrir o Whatsapp, ela falou comigo.
— Ísis..
— Oi.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Sim, claro.
— Você está namorando?
— Não. — Fiquei surpresa com a pergunta dela.
— Olha, não quero me intrometer na sua vida, mas se você estiver ficando com alguém, se cuida, conversa com a sua, ela vai saber te orientar. Hoje pela manhã eu vi as marcas em seu pescoço, se a sua mãe ver, ela não vai gostar. Então, te aconselho a conversar com ela, sua mãe deve ser a sua melhor amiga.
— Eu fiquei com o Harry ontem, mas não aconteceu nada além de beijos. E minha mãe sabe que a gente fica às vezes.
— Fico mais tranquila em saber disso... — Sorriu. — Agora tenho que terminar aqui, obrigada por me ouvir.
— Eu que agradeço pelo conselho. — Sorri.
Ela voltou sua atenção para o notebook e eu voltei a mexer no celular.
Depois de algum tempo ali, resolvi ir até a cozinha buscar um lanche. Quando eu estava prestes a levantar, ouvi a porta ser aberta e vi o Bruno entrar  pela mesma carregando um buquê de rosas vermelhas e chocolate suíço.
Ele caminhou até a Helen e a entregou, deixando a mesma sem reação.
Com os olhos cheios de lágrimas e coração batendo mais forte, ela tirou o notebook do colo, o pôs ao seu lado no sofá, pegou o buquê e cheirou as rosas que exalava um aroma maravilhoso.
— Eu te amo! — Ele falou e em seguida, abaixou-se e a beijou.
Eu fiquei completamente destruída naquele momento, minha única vontade era sumir.
Levantei do sofá, caminhei em direção à escada e subi a mesma rumo ao meu quarto. Ao chegar no mesmo, entrei, fechei a porta, me joguei na cama e comecei a chorar.
Chorei de raiva, de ciúmes, de triste e nojo de mim.
Chorei pedindo forças para me libertar desse sentimento que só tem me feito mal.

Bruno Mars- Sonhos | Disponível até NOVEMBRO 2023Onde histórias criam vida. Descubra agora