CAPÍTULO 34

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Encontrava-me sentada na banqueta da penteadeira encarando o grande espelho à minha frente  enquanto passeava lentamente a escova por toda a  extensão do meu cabelo.
Eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse: Como será a reação da minha mãe ao me ver e se ela será capaz de me perdoar.
Ouço a porta do quarto ser aberta fazendo com o  que os meus pensamentos fossem dispensados, e vejo através do espelho o Bruno adentrar pela mesma, caminhar em minha direção e parar atrás de mim.
— Você está linda. — Falou encarando o meu reflexo no espelho.
— Obrigada! — Forcei um sorriso.
— O Hartley já está pronto para te levar.
— Certo. Só um instante e eu já desço.
Ele permaneceu no mesmo lugar me observando através do espelho enquanto eu terminava de me arrumar.
— Está tudo bem?
— Sim.
— Tem certeza?
— Tenho. — Levantei, peguei o meu celular em cima da penteadeira e parei de frente pra ele.
— Tenho que ir. — Falei baixinho e depositei um selinho em seus lábios.
— Ei... — Levantou o meu queixo me fazendo encará-lo. — Imagino que não será uma conversa fácil, mas não precisa ficar assim. A sua mãe te ama e com certeza irá te perdoar.
O Bruno tem esse dom de perceber quando eu não estou bem e saber o motivo. Não me surpreende tanto, pois, quando amamos realmente uma pessoa, não é necessário que ela abra a boca para falar se está bem ou não. Quem ama de verdade, reconhece isso através de um olhar incomum, um tom de voz descontente, um sorriso fictício, um gesto ou um silêncio feito.
— Espero. — Falei desanimada.
Após eu receber um forte e confortante abraço dele, saí de casa com as minhas forças renovadas para reencontrar a minha mãe.

***

Ao chegarmos em frente a casa dos meus avós, o Hartley parou o carro para que eu pudesse descer.
— Obrigada, Hartley.
— De nada, menina Ísis.
Suspirei e com certo receio, desci do carro, possibilitando que o Hartley desse partida no mesmo de volta para casa.
Em passos lentos caminhei até a encantadora casa de cor azul, com portão preto e com um belo jardim na frente.
O nervosismo tomava com conta de mim e mesmo com o coração acelerado, levei a minha mão  trêmula até a campainha de cor branca e apertei o minúsculo botão que havia no centro da mesma.
Sem obter resposta, resolvi apertar novamente, mas quando estava prestes a fazer isso o portão foi aberto e uma senhora de olhos azuis, pele alva, cabelos embranquecidos e de feição experiente apareceu, era a minha avó.
— Ísis... — Demonstrou-se surpresa com a minha visita inesperada.
— A minha mãe está em casa? — Perguntei seca.
— Sim. Entre, por favor. — Deu-me passagem e eu entrei.
Logo após ela fechar o portão, seguimos juntas até a casa, entramos, ela pediu para que eu sentasse e eu assenti observando discretamente decoração estilo retrô da sala. Tudo ali era muito organizado e o ambiente cheirava a flores.
— Deseja beber algo?
— Não, obrigada.
Após minha breve resposta, um previsto silêncio estava prestes a se instalar no ambiente, porém, a  minha avó o impediu.
— Você lembra tanto a minha filha quando mais nova... — Sorriu olhando-me fixamente. — Você é tão linda quanto ela, apesar de seus traços serem do seu pai, você parece muito com ela.
Continuei séria sentindo seu olhar preso à mim e ouvindo as suas palavras que soavam com melancolia e sinceridade.
— Lembro como se fosse hoje do nascimento da Amelie, dos seus primeiros passos, da primeira vez em que ela me chamou de mãe... — Sorriu novamente. — Assim que se tornou adolescente, passou a chamar a atenção com seu jeito meigo, encantador e com a sua beleza única assim como você. — Ela sorria e seus olhos brilhavam enquanto falava da mamãe. — Todos os rapazes do bairro queria namorá-la, mas ela era uma menina focada nos estudos e no ballet, até que conheceu o seu pai por quem se apaixonou perdidamente e mesmo sem a nossa permissão, começou a namorá-lo.
Faltava apenas uma semana para ela completar dezoito anos quando descobriu que estava grávida, eu que já desconfiava perdi o meu chão quando tive a certeza, mas mesmo assim fiquei ao lado dela.
Porém, quando o meu marido que era um homem rígido e conservador descobriu que ela estava grávida e o pai não queria assumir, pôs ela para fora de casa e eu que sempre fui submissa a ele, não fiz nada e perdi a minha única filha.
A Amelie, deixou a faculdade, o ballet e teve que ir atrás de um emprego para poder pagar aluguel e poder se sustentar. Mesmo que nós tenhamos virado as costas para ela no momento em que ela mais precisou, mesmo seu pai tendo a deixado sozinha grávida, mesmo ninguém estando ao lado dela e mesmo ela sofrendo dia e noite, ela jamais pensou em te abortar, pelo contrário, ela enfrentou, lutou e passou por tudo que passou por amor a você.
— Ou seja, a culpa é minha de minha mãe ter sofrido tanto.
— Não, Ísis... o que fez com o que ela sofresse tanto foi a desobediência dela. Pois, se ela tivesse me escutado e me obedecido ela não teria sofrido tanto, afinal, eu a aconselhei, eu conversei com ela que ela estava fazendo faculdade, estava em um nível elevado no ballet, que ela era nova, bonita e tinha um futuro brilhante pela frente e se caso ela se entregasse ao seu pai sem se prevenir, era óbvio  que ele jamais assumiria a paternidade de um filho ou ficaria ao lado dela, mas ela não me escutou.
Se entregou, não se preveniu, engravidou, teve que sofrer para apreender a escutar conselhos e hoje tem você, uma linda e encantadora filha, mas que de certa forma está dando trabalho e fazendo ela entender tudo que eu passei.
Sua mãe te ama e está sofrendo por tudo de errado que você andou fazendo, mas com certeza será capaz de te perdoar. Então, vai lá falar com ela.
— Onde ela estar? — Perguntei com a voz falha e com os olhos cheios de lágrimas.
— Lá cima, no terceiro quarto.
Levantei, subi as escadas em direção ao quarto onde ela disse que a minha mãe estaria, respirei fundo, pus a mão na maçaneta e abri lentamente a porta deparando-me com a minha mãe na janela observando o fraco movimento urbano do lado de fora.
— Mãe... — A chamei com a voz baixa, porém ela sequer virou-se para me receber.
— Posso conversar com a senhora? — Ela permaneceu em silêncio, ignorando a minha presença.
— Mesmo a senhora não me respondendo, preciso te falar que... — Fiz uma pausa encarando o chão.
— Eu sei que errei muito, sei que te desapontei, sei que sou o seu desgosto e sei também que a senhora hoje tem nojo até de olhar em minha cara, e tudo isso por conta de um erro grave, mas talvez não imperdoável que eu cometi.
Erro esse que faz com que eu me sinta uma pessoa desprezível, sem caráter, desumana, sem princípios e sem respeito.
Admito o meu erro, admito que eu tinha consciência que estava errando, admito que sabia das consequências desse erro e quantas pessoas sofreriam essas consequências, principalmente as pessoas que eu amo e que não mereciam passar pelo que passaram por contar da minha falta de caráter, mas admito também que tudo que fiz foi por amor. Afinal, quem não erra por amor? Até mesmo a senhora já errou. Claro que o meu erro nem se compara com o da senhora, mas também não foi o maior ou o pior erro já cometido na história. Nesse mundo várias pessoas cometem diariamente erros piores que o meu.
Mas não vim aqui medir erros, vim no intuito de te falar que tenho consciência de que errei, vim dizer que me arrependo, vim pedir seu perdão e dizer que te amo mais que tudo nesse mundo e que nada será capaz de mudar isso, nem mesmo meus erros ou suas duras palavras, vim dizer que sinto sua falta e que sem você está sendo insuportável viver... — As minhas palavras saíam em meio ao choro. — Se um dia a senhora resolver me perdoar sabe onde me encontrar. Tchau e se cuida, mãe.  Virei-me e quando estava prestes a dar o primeiro passo para me retirar, ouvi a sua voz me chamar.
— Espera, filha... — Virei-me novamente a encontrado com os olhos cheios de lágrimas encarando-me.
Não permitir que ela falasse mais nada e camimhei rapidamente até a mesma abraçando-a fortemente podendo sentir o seu doce e agradável perfume, chorávamos descontroladamente em meio aquele abraço repleto de amor e saudade.
— Eu te amo demais, minha filha. — Falou enxugando as minhas lágrimas após desfazer o abraço.
— Eu também te amo demais, mãe. — As lágrimas continuavam a caíam involuntariamente sobre meu rosto.
— Não chore... — Consolava-me. — Vem, sente aqui.
— Pegou em minha mão guiando-me até a cama onde sentamos um do lado da outra.
— A senhora vai me perdoar, mãe?
— Eu já te perdoei, filha. — As suas palavras fizeram o meu coração se acalmar e um sorriso surgir em meus lábios em meio as lágrimas.
— Te perdoei antes mesmo de você me pedir perdão. Todos os dias antes de dormir, eu ligava para o seu pai para saber como você estava e pedia para que ele cuidasse direito de você direto, falava para ele as coisas que você gostava e as que você  não gostava, o que você podia e que você não comer ou fazer, doía tanto o meu coração saber que você estava sofrendo, mas era preciso você passar por tal sofrimento para saber o quanto você tinha errado.
Daí, teve uma noite que liguei para saber de você e ele havia me dito que você tinha ido morar com o Bruno, nesse momento o meu mundo desabou da mesma maneira de quando te encontrei naquele quarto enrolada no lençol, eu não queria isso para você, minha filha, e seu pai não tinha o direito de permitir algo desse tipo sem antes conversar comigo. Você deveria está estudando para ter um futuro o qual eu sempre sonhei para você e não morando com um homem.
— Mãe, o meu pai e a Loraine me receberam muito bem durante esse tempo que estive lá. Ele só permitiu que eu fosse morar com o Bruno depois de muita insistência da minha parte, então, não o culpe, por favor. E sobre meus estudos e o ballet, continuo com o mesmo foco, pois o fato de eu ir morar com o Bruno, não afetou e jamais afetará os meus estudos ou a minha paixão pelo ballet.
— Se você realmente não quer que os seus estudos sejam afetados, não engravide. Não faça a burrada de engravida, ainda mais dele.
Eu: Não se precisa se preocupar, isso não irá acontecer. Agora me conta essa história que a senhora me ligava todas as noites, pois eu nunca soube disso.
— Eu sempre exigia que seu pai não te contasse das minhas ligações e assim ele fazia.
— Ótimo saber disso! — Falei com ironia e rindo e ela riu também.
Passamos o dia inteiro juntas, ela me fez conversar com meus avós e eu acabei os perdoando, nós quatro fomos passear e voltamos para casa no entardecer. Quando chegamos fomos todos assistir um filme, depois jantamos, e, por fim, deu o meu horário de ir para casa.
Tanto a minha mãe quanto os meus avós pediram para que eu fosse morar lá, pois eles disseram que eu havia trazido vida e alegria a aquela casa, mas não pude aceitar por conta do Bruno.
Não teria coragem de deixá-lo sozinho, afinal sou a única pessoa que ele tem, pois, praticamente, todos da família dele são casados e construíram a sua família, exceto, a tia Tiara, que mora com o vô Peter no Havaí.

***

Ao entrar em casa, deparei-me com a televisão ligada e o Bruno dormindo no sofá com o controle da mesma e o celular ao lado.
Aproximei-me, peguei o controle, desliguei a televisão e resolvi acordá-lo para irmos pro quarto.
— Amor? — Balancei cuidadosamente o braço dele.
Ultimamente, ele tem andado tão cansado devido a correria no estúdio e ao lançamento do novo disco.
Fico até com pena de acordá-lo...
— Amor? — Insisti.
Ele abriu lentamente os olhos, piscando algumas vezes por conta por conta da claridade da lâmpada.
— Vem, vamos subir.
Ele assentiu e levantou sonolento. Eu peguei o celular dele em cima do sofá e o mesmo estava com o meu número na tela, subimos juntos as escadas e ao entrar no quarto, arrumei a cama do jeito que ele gosta, ajustei o ar-condicionado também da maneira que ele gosta, ele se deitou e e fui para o banheiro tomar banho.
Primeiro escovei os dentes, depois fiz um coque alto, me despi, entrei no box, liguei o chuveiro, ajustei a água para morna e fui para debaixo do mesmo sentindo a sensação maravilhosa daquela água caindo sobre mim.
Após o banho, saí do box me enrolando na toalha, voltei para o quarto, caminhei em direção ao guarda-roupa e peguei uma camisola branca.
Passei desodorante, hidratante, colônia, me vesti,
desfiz o coque, penteei o cabelo deixando o mesmo solto, apaguei a luz e fui me deitar ao lado do Bruno que ainda estava acordado.
— Passei o dia inteiro preocupado com você, pois não respondeu as minhas mensagens e nem atendeu as minhas ligações. Mas no fundo algo me dizia que estava tudo bem com você.
E deu tudo certo lá, não foi?
— Sim, ela me perdoou e está tudo bem entre a gente. Só não te respondi ou atendi porque ela estava próxima de mim o tempo inteiro.
— Entendo perfeitamente.
Eu ia te buscar, mas pensei nessa possibilidade de está tudo bem entre vocês e eu chegar lá e estragar tudo, então resolvi te esperar no sofá e acabei dormindo.
— Obrigada por se preocupar tanto comigo, te amo.
— Eu também te amo.
Ficamos ali juntinhos conversando e trocando carícias até adormecermos.




Feliz dia das mães para todas as mamães que acompanha a fic 🌹❤

Bruno Mars- Sonhos | Disponível até NOVEMBRO 2023Onde histórias criam vida. Descubra agora