A POTTER PERDIDA

Capítulo 5

Minha reação definitivamente não foi o que eu ou qualquer pessoa naquele ambiente esperava, mas foi tudo que reuni forças para fazer. Olhei no fundo de seus olhos, olhos amendoados que tanto lembravam os de seu tio, e então, sem nem perceber já havia feito, levantei a mão e meti-lhe um tapa, com toda a força que possuía.

Um som de pessoas em choque ecoou na cabine, junto com o barulho de minha mão contra o rosto do menino a minha frente, e todos pareciam surpresos, menos ele, que havia se abaixado um pouco e mantinha a mão no rosto, Draco (ambos se mantinham surpreendentemente calmos) e eu, que espumava de raiva.

- Vejo que ficou mais forte. - comentou, já em pé novamente, ainda tocando a face com a borda dos dedos, podia ver um vislumbre da vermelhidão que se formava.

- Tenho que ir. – avisei passando por ele, já secando minhas lágrimas e indo em direção a minha própria cabine, quando senti uma força me segurar pelo pulso.

- Não tão rápido, você sabe as regras. – como ele ousava, depois de tudo, depois de todo aquele tempo, vir me falar de regras.

Não, aquela era minha vez de ditar as regras.

- Como ousa?! – retruquei mais alto do que pretendia, já puxando meu pulso e o encarando, podia agora ver nitidamente seu rosto, a marca de minha mão estampada – faz o que? 2, 3 anos? Você simplesmente sumiu depois, depois daquilo, me abandonou sozinha, eu era apenas uma criança, UMA CRIANÇA! E agora você aparece aqui com esse ar de bom moço, de quem quer ajudar. NÃO, VOCÊ NÃO TEM ESSE DIREITO!

- Amy se acalma. – pediu Draco, mais calmo do que deveria, todos ao redor pareciam assustados, mas eu já não ligava, danem-se as boas primeiras impressões, eu havia guardado aquilo por muito tempo e ele merecia ouvir.

- NÃO ME MANDA ME ACALMAR! E VOCÊ, - continuei virando meu olhar para ele novamente, o menino da minha lembrança, falei olhando no fundo de seus olhos, olhos que eu conhecia tão bem, olhos que eu já vira manchado por lágrimas, olhos que já vira minúsculos devido aos mais sinceros sorrisos  – VOCÊ PERDEU O DIREITO DE OPINAR SOBRE A MINHA VIDA, PERDEU O DIREITO DE ME AJUDAR OU DE SEQUER OLHAR PARA MIM! – já virava as costas novamente para sair quando ele deu o golpe fatal.

- Não foi só você que perdeu ele, eu também perdi. – minhas lágrimas já ameaçavam despencar novamente - E não importa o que aconteceu naquele dia, eu fiz uma promessa a minha tia e irei cumprir, prometi te proteger, te examinar e te ajudar sempre que algo assim acontecesse, então deixe eu cumprir minha promessa.

Olhares chocados, silêncio repentino e um medo do que viria a seguir varreram a cabine, todos olhavam para mim e para o garoto a minha frente, eu sentia isso, nem Draco se metera dessa vez, ninguém queria correr o risco de se envolver no fogo cruzado.

E mesmo sem saber que soubessem direito o que ocorria, a tensão no ar era palpável, mutilava ele com o olhar, que não dava indícios de que ia desistir tão cedo, sempre fora extremamente teimoso.

- Como ousa? COMO VOCÊ OUSA usar minha própria MÃE contra mim? - uma exclamação em conjunto percorreu o ar, definitivamente estavam todos surpresos, ou melhor, o quarteto dono da cabine estava.

Eu sabia que havia mudado de atitude repentinamente, uma hora queria parecer calma, depois me irritei com Draco, fiquei calma de novo, desmaiei, acordei aflita e já estava estressada novamente, porém esse garoto conseguira despertar o pior em mim, apenas sua presença lá era suficiente para acabar com minha paz, agora duas palavras... Imperdoáveis.

– Usar ele, meu... MEU IRMÃO – nesse ponto as lágrimas já corriam sem fim, não conseguia parar, nem ao menos queria fazer isso, eles podiam pensar o que quisessem, naquele momento isso já não me importava mais – VOCÊ DIZ QUE NÃO FOI O ÚNICO A PERDER ELE E TEM RAZÃO, MAS EU ESPERAVA TER VOCÊ AO MEU LADO NAQUELE MOMENTO, TER EM QUEM ME APOIAR! NAQUELE DIA EU NÃO PERDI APENAS MEU IRMÃO, EU TAMBÉM PERDI MEU MELHOR AMIGO!

Despenquei e lá me mantive, no chão da cabine, minhas pernas já não tinham forças para me manter de pé, ele tentou me ajudar a me levantar, e estapeei sua mão. A raiva havia sido substituída por uma enorme dor, entretanto não fora apenas a minha atitude que mudara, a de Draco também, ele já não queria brigar comigo ou se vingar pela maneira que eu falara com ele, e não estava mais calmo como no início daquela briga, naquele momento ele havia entrado na defensiva, na MINHA defensiva.

- Eu acho melhor você ir, - avisou o loiro se abaixando ao meu lado e me ajudando a me sentar no banco, permitindo que eu chorasse em seu ombro, ele podia ter muitos defeitos, mas ao menos ele sabia que aquele havia sido um golpe maldoso, um golpe que dói no fundo, e mesmo não tendo a melhor das relações e não sendo a melhor das pessoas, ele sempre entendera o quanto aquilo me machucara, e tentava me confortar sempre que a dor voltava – não foi uma boa ideia você ter vindo.

Sentia os olhos de todos em mim, principalmente o do menino com o qual brigara, virei levemente meu rosto e o observei, vi o momento exato e a maneira como ele pronunciou cada palavra na despedida.

- Tem razão, tchau Megguie.

- Eu disse fora! – gritou o sonserino, ele me defendeu, assim como sabe que eu faria se fosse com ele, tínhamos nossas brigas e desavenças, porém aquele não era um assunto com que se brincasse.

Agradeci mentalmente por cada rebatida que levei antes de conseguir ser meramente próxima dele, agradeci por não ter desistido, sabia que não tivesse feito aquilo não teria o apoio que tive.

O menino saiu, Harry e Rony deram uma "ajudinha"fechando a porta, todos ficaram calados, me permitindo sentir minha dor, e ali fiquei, não sei quanto tempo, mas fiquei abraçada em Draco, sentindo um conforto que eu realmente precisava.

Sabia da confusão de meus novos conhecidos, mas aquilo era algo que eu teria de explicar depois, não estava pronta, ainda não.