Capítulo 6

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Finalmente parei de chorar e criei coragem para levantar meu rosto, minha voz já voltava ao normal, não queriam me encarar, mas sabia o que pensavam, eles queriam saber o que tinha acontecido, chegara a hora de contar.

- Posso falar com vocês?

Minha pergunta definitivamente pegou todos de surpresa, seus olhares se voltam para mim como se perguntassem a si mesmos o que devem fazer.

- Você não tem que se explicar – a voz de Gina, fraca como uma brisa suave, mas sei que está errada, eu tenho muitas explicações para dar.

- Sim eu tenho. –  falo ao mesmo tempo que me levanto para poder observar todos, limpo meu rosto com as mãos, me preparando para a terrível e cruel verdade que virá.

Todos me encaram com olhos surpresos e curiosos, esperando que eu desabe novamente, mas isso não irá acontecer, eu me manterei em pé até o fim, passo meus olhos por cada um deles, Harry com sua aparência tão semelhante à minha, Hermione, a garota defensora de todos, Rony, o garoto ruivo e meio sem jeito, e por último Gina, a bela garota dos cabelos de fogo e voz gentil. Devo uma explicação a todos eles e sei disso, então poderei finalmente sair de suas vidas sem torná-las a maior das bagunças.

- O, o garoto que veio aqui, o garoto que Draco trouxe aqui ele é meu primo, e nós éramos muito próximos, quase inseparáveis, sempre estávamos juntos, eu, ele e meu irmão, Mike... – seu nome, há tempos não era pronunciado por mim, a muito tempo não falava sobre ele, mas havia chegado a hora, todos mantinham silêncio enquanto eu falava – éramos conhecidos como os 3 Ms, Mike, Monte e Maggie, foram apelidos que inventamos para nós mesmos. - um leve sorriso escapou de meus lábios ao voltar para aquela memória - Meu irmão e meu primo tinham apenas alguns meses de diferença, já eu, era 2 anos mais nova que ambos, então eles sempre me protegiam de tudo. - outro sorriso - Mas como ia dizendo, os 3 Ms eram apenas apelidos, meu irmão se chama... chamava – me corrigi - Noah e era a pessoa mais gentil, doce, altruísta, leal, justa e inteligente que já conheci.

Draco apertou minha mão, sabia que estava querendo me dar forças para continuar, e eu precisava delas, extremamente.

- Meu primo se chama William, mas todos os conhecem como Will, mas para mim e Noah, ele era Monte, não saberia justificar esses apelidos nem que quisesse, eles simplesmente surgiram, e esse foi o motivo de eu ter me magoado quando Will me chamou de Maggie, me lembrou de... bom,  tudo. Sei que estou me demorando, mas não conheço maneiras de encurtar essa história.

Os quatro ouviam atentos cada palavra que eu proclamava, como se fosse a coisa mais importante de suas vidas. Minha mão ainda estava entrelaçada com a de meu, momentaneamente, amigo, e não tinha planos de soltá-la.

- Como disse, Will e Noah, eram 2 anos mais velhos, ou melhor, Will ainda é, - falei com um peso repentino nos ombros, pernas e, principalmente, no coração – na época do ocorrido que separou nosso trio, eles haviam acabado de serem aceitos aqui em Hogwarts, e tinham ido passar o Natal em casa, eu estava muito emocionada de poder tê-los de volta, os meses em que eles estiveram longe foram extremamente solitários. Como de costume meus tios iam passar o Natal conosco, então meus pais prepararam um quarto para nós 3 dormirmos. Nunca esquecerei dos meus últimos dias lá, foram mágicos... Não havia nada melhor para mim, meu irmão e meu melhor amigo, as pessoas que eu mais amava nessa vida reunidos comigo novamente, tomando chocolate quente e comendo marshmallows.

Fechei os olhos por um instante, ainda conseguia lembrar da cena, ver os sorrisos, ouvir as risadas, meu irmão estava lá, do meu lado novamente.

- Vo... você não precisa continuar se não quiser. – novamente aquela doce voz, mas eu precisava, sabia que precisava. Abri meus olhos, inspirei fundo e lhe respondi.

- Não tem problema. – falei e continuei minha história – Porém uma noite, nós saímos de casa e houve, houve um acidente, foi tudo muito rápido, uma hora ele estava lá, feliz, vivo como nunca, e na outra... ele havia morrido. – percebi imediatamente os olhares de pena, mas eles não entendiam, não tinham como me entender – Nunca entendi direito como aconteceu, o choque fora tão grande que algumas memórias se bloquearam, após aquilo meus desmaios começaram a piorar e tive de aprender a controlar eles. Mas o pior de tudo foi que ele não estava lá, ele simplesmente sumiu, me abandonou, Will nunca mais falou comigo. Meu irmão morreu e eu perdi meu melhor amigo, tudo na mesma noite, nunca consegui perdoá-lo pelo que fizera comigo. Por isso meu choque e minha raiva ao vê-lo hoje, desde aquele dia ele não havia mais falado comigo, nem se dignou a comparecer ao funeral, então decidi que ele estava morto para mim e que jamais o veria novamente, até agora pelo menos.

- Mas se você não falava com ele, porque ele apareceu hoje, qual o motivo de terem ido chamar ele? – uma pergunta lógica vinda de Hermione, e que fez com que automaticamente todos olhassem para o Draco.

- Nossas famílias são amigas a muito tempo, e mesmo não sabendo o que fazer caso Amy desmaiasse, conhecia quem sabia, antes de embarcarmos sua mãe me fez prometer que caso algo acontecesse eu não hesitaria em chamá-lo. – nesse ponto eu mesma não conseguia tirar os olhos dele enquanto se justificava – sinto muito, mas fiz o que achei necessário. - finalizou com um sorriso triste.

- Tu... tudo bem, eu entendo. - falei com voz fraca.

- Então, esses seus desmaios já acontecem a tanto tempo assim? – a pergunta de Rony desviou meus olhos para ele.

- Na verdade sim, desde meus 5 ou 6 anos, então meus pais meio que "treinaram" Will e Noah para saberem o que fazer, uma forma de garantir que tudo daria certo, sabe, nenhum dano neurológico nem nada que comprometesse mais ainda minha saúde. – o comentário gerou certa admiração, mas eu não estava disposta a explicar mais que isso, nem ao menos sabia como o faria.

- Acho melhor irmos para nossa cabine, ainda temos muita estrada pela frente. – disse Draco, balancei minha cabeça e forma afirmativa, já pronta para sair quando lançaram a pergunta que devia estar na mente de todos.

- O... o que vocês são? Quer dizer, uma hora brigam e outra parecem melhores amigos, como você pode ser amiga de alguém assim? – a pergunta viera do Harry, algo que me surpreendeu, já que passara a história toda calado, sem menção de fazer qualquer comentário, mas o rosto do Malfoy me disse tudo que eu precisava saber, eles não eram amigos, pelo contrário, pareciam mais inimigos sedentos do sangue um do outro. Ficaram se encarando por alguns minutos como se um simples movimento os fizesse se atacarem.

- Como sabem nossas famílias são muito amigas, por causa de nossas mães que são melhores amigas, e acredite não somos amigos, longe disso, a mãe dele o obrigou a me acompanhar, a princípio achei que era pelo fato de eu ser novata, mas agora sei o motivo, - disse com a maior simplicidade possível, cortando com uma tesoura aquela tensão que havia se formado entre eles, fazendo Draco me olhar, de uma maneira que não se podia identificar se sentia muito ou se só queria sair logo dali – basicamente nós brigamos em 90% do tempo, mas por termos crescido juntos sabemos que há coisas com as quais não podemos implicar, apenas nos apoiar, e o meu irmão é uma dessas coisas. – ele e todos os outros apenas balançaram a cabeça, concordando com o que eu acabara de dizer.

Então os agradeci por tudo, saímos da cabine e ao fechar a porta os murmurinhos começaram, ele apenas me olhou e seguimos até nossa cabine, achava que nunca mais veria aquelas pessoas, mas afinal, quem iria querer ser amiga de uma pessoa como eu? Achava que podia fazer amigos e abandonar o que acontecera, mas estava enganada, e muito, ainda tinha uma viajem longa pela frente, e muita coisa já havia acontecido, então naquele momento eu só queria descansar.

A POTTER PERDIDAOnde histórias criam vida. Descubra agora