NOVAS VOLTAS

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Barduk estava em seu alojamento, tranquilamente comendo sua refeição matinal quando seu ajudante de ordens irrompeu porta adentro, e todo esbaforido desatou a propalar sua surpresa.

- Eles não foram embora, senhor!

- O que você está dizendo, Mahmud?

- Os hebreus, eles estão circundando nossas muralhas.

Despreocupadamente, o comandante continuou a rasgar o pedaço de pão para então mergulha-lo numa mistura de leite de cabra e farelos. - Não seja tolo, eles estão a fazer essa idiotice já a seis dias.

- Eu sei senhor, mas hoje eles não foram embora ao terminar de nos rodear. Eles iniciaram uma nova volta.

Deixando cair o pedaço de pão por sobre a mesa, passou um pedaço de pano no rosto para remover os farelos e saliva de sua espessa barba e levantou-se. - Quero ver isso de perto!

Chegando ao alto da muralha, ainda a tempo de ver o final da procissão, perguntou ao seu auxiliar.

- Você tem certeza de que essa é a segunda vez?

- Sim senhor, pois estou aqui desde antes do raiar do dia, e quando o sol se levantou, eles vieram e deram a primeira volta. Sem ao menos parar ou fazer algo de diferente, continuaram e iniciaram a segunda volta.

- Então vamos observar, quero ver o que eles farão a seguir.

Barduk sentou-se sobre a murada e pacientemente aguardou que do lado leste aparecessem os sacerdotes carregando a arca, que marcava o início da procissão. Quando eles surgiram, ergueu-se e ficou observando. Tal como seu auxiliar havia relatado, os hebreus simplesmente continuaram a circundar a cidade, não se detendo para nada, e não fazendo absolutamente nada de diferente. Era o início da terceira volta.

- E então senhor, o que acha?

- Eu continuo achando que eles são um bando de doidos, nada mais do que isso.

- E o que devemos fazer?

- Por enquanto nada. Vou ficar aqui e ver o que eles fazem, para só então tomar alguma decisão.

E assim sucedeu. Barduk e seus principais oficiais ficaram parados observando o estranho ritual dos hebreus. Quando finalmente deu-se o final da quinta volta, o comandante sentenciou.

- Deixem apenas a guarda normal, e mande os outros soldados para suas atividades diárias.

- Mas senhor, e se eles...

- Se eles o que? O máximo que irá acontecer é que eles ficarão tontos de tanto darem voltas, nada mais do que isso.

- Eu penso que...

- Você não pensa nada Ahlmann. - Interrompeu bruscamente Barduk. - Não vou deixar me amedrontar por um bando de fanáticos, que nem ao menos tem aparência de soldados. Deixe-os com seus rituais inócuos e vamos às nossas tarefas.

Em total silêncio, seus oficiais obedeceram, e um a um, todos se retiraram do posto de observação, que ficava por sobre o lado esquerdo do portão principal.

Os soldados que ficaram vigiando do alto da muralha, perceberam que as passadas dos hebreus haviam ficado mais pesadas no início da sexta volta. Era como se quisessem de alguma forma bater com seus pés o chão, marcando seu território. Obedecendo às instruções de seu comandante, não deram a menor atenção ao detalhe, mesmo que o barulho das passadas tenha aumentado.

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